“Deserto significa tempo de intimidade para aprendermos no silêncio a escutar o Senhor, que passa.”
Um dia, o Mestre convida os Apóstolos, cansados e felizes, que acabam de chegar de sua missão apostólica, a irem com Ele “para um lugar deserto” (cf. Mc 6, 31), isto é, para um encontro espiritual, íntimo, longe do barulho da rua e das preocupações do trabalho. Estar face a face com Deus é o melhor lugar para revermos caminhos, discernirmos projetos e encontrarmos novas respostas existenciais…
Cristo acolhe os Apóstolos pessoalmente, trocam impressões, explicam como as coisas se passaram para confrontar experiências, rever métodos, propor novas pistas, corrigir imperfeições, reforçar iniciativas que deram certo.
Não há ninguém ligado a Cristo e ao Evangelho que não necessite da experiência do deserto. “Vinde, a sós, e descansai um pouco!”. Deserto significa tempo de intimidade para aprendermos no silêncio a escutar o Senhor, que passa. Chega-se a uma determinada fase da vida em que fazer silêncio é preciso, interpor desertos é necessário para ouvir o que Deus tem a nos dizer. Só um coração despojado de tensões e ruídos, é capaz de um encontro amoroso com Deus em comunicação filial. Escutar a Deus em silêncio é a oração perfeita, a suma contemplação. Vinde, a sós, para esta nova casa feita de recolhimento, de intercessão, de oração.
A exemplo dos discípulos de Jesus, queremos caminhar unidos na mesma missão de passar para o outro lado das aparências. No silêncio do deserto se aprende a sabedoria de escutar o outro, comungando a Palavra e a Pessoa de Jesus.
“Os Apóstolos se reuniram junto de Jesus e lhe contaram tudo o que tinham feito e ensinado” (Mc 6, 30). Deserto significa tempo de parada para a reflexão e revisão de vida e de caminhada. Para isso estamos aqui. Continuaremos a rezar juntos, repensar caminhos percorridos e continuar à disposição do Reino. Queremos estar disponíveis à brisa suave que o Espírito Santo fizer passar em nossas meditações e reflexões.
O deserto não é fuga nem alienação. No silêncio com Deus ressoam todas as dores humanas e todos os apelos da vida. Se vamos para o deserto é para estar mais perto das pessoas; se escolhemos o silêncio é para falar melhor. De fato, andamos por demais saturados de agitação e ruídos, distraídos do único necessário. Sobram palavras; faltam silêncios. Em meio a tantos compromissos e atividades, há o perigo de esquecermos que o eixo essencial de nosso trabalho pastoral é o serviço do Reino de Deus.
Dom Nelson Westrupp, scj
Administrador Apostólico
da Diocese de Santo André