A celebração da encarnação, paixão, morte e ressurreição do Senhor se constitui na grande experiência e mística do cristianismo. Esse movimento se torna a vida da Igreja e de seus membros de tal maneira que muitas e muitos chegaram ao sinal profético da graça do martírio.
A Igreja, desde os primeiros séculos, atribuía o adjetivo de mártires às pessoas sacrificadas em nome do Evangelho. A palavra grega martyria é traduzida por testemunho, ou seja, o martírio é um sinal profundo do testemunho da fé, assim como a testemunha fiel do Pai, Jesus Cristo. Até hoje a Igreja, ao celebrar o testemunho-martírio de Jesus também reza inspirada pelos tantos mártires-testemunhas do Reino de Deus.
A Páscoa de Jesus se atualiza na páscoa de tantas mulheres e homens que são mortos por professarem a fé e serem sinal de contradição e questionamento frente aos adoradores das trevas e da morte. Uma memória importante a ser feita é do Beato Dom Oscar Romero, nascido em 15 de agosto de 1917 e martirizado em 24 de março de 1980, quando presidia a eucaristia.
Dizia Oscar Romero:
Se denuncio e condeno a injustiça é porque é minha obrigação como pastor de um povo oprimido e humilhado… O Evangelho me impulsiona a defender meu povo e em seu nome estou disposto a ir aos tribunais, ao cárcere e à morte.
A coragem com que lutou contra a repressão em El Salvador incomodou os sistemas de poder da época, assim como também o fez Jesus, e não por uma questão de gosto político, mas por causa da radicalidade do Evangelho ele foi calado. Mas não se cala o profeta, pois a Páscoa é vida que vence a morte, então o grito de Romero por justiça e paz, ecoou pela voz do povo. Isso o próprio Romero já antecipava: “Tenho estado ameaçado de morte frequentemente. Tenho que dizer-lhes que como cristão não acredito na morte, mas na ressurreição: se me matam, ressuscitarei no povo salvadorenho”.
Diante de tão forte testemunho de fé e amor ao Reino de Deus, Romero, e tantos outros demostram na própria vida o grande Mistério da Páscoa de Jesus, o que verdadeiramente era o filho de Deus. Contemplar a vida dos mártires como fonte de melhor amar e servir ao Reino é uma necessária experiência formativa da fé.
Quando abriu o quinto selo, vi sob o altar as almas dos homens que tinham sido imolados por causa da Palavra de Deus e por causa do testemunho que dela tinham prestado. E eles clamaram em alta voz, dizendo:
“Até quando tu, ó Senhor santo e verdadeiro, tardarás a fazer justiça, vingando nosso sangue contra os habitantes da terra?”
A cada um deles, foi dada, então, uma veste branca, e foi-lhes dito. Também, que repousassem por mais um pouco de tempo, até que se completasse o número dos seus companheiros e irmãos, que seriam mortos como eles. (At 6, 9-11)
Escrito por Jerry Adriano Villanova Chacon, filósofo e educador, membro da Pascom da Paróquia Nossa Senhora das Graças em Santo André.