Dia 03 de fevereiro de 2018
Basílica Menor Nossa Sra. da Boa Viagem em São Bernardo do Campo
Ordenante: Dom Pedro Carlos Cipollini – Bispo de Santo André
Leituras: Jr 1,4-9; 2Cor 4,1 – 2. 5-7 e Mt 20,20-28
Seja louvado Nosso Senhor Jesus Cristo!
Neste momento solene e privilegiado em que nos reunimos para oferecer a Deus a Santa Eucaristia, juntamente com o dom precioso do SIM, de nosso irmão Rafael Adriano da Silva, desejo saudar os presentes nesta celebração, unidos que estamos pela mesma fé, pelo mesmo batismo.
De modo especial saúdo o Revmº Sr. Padre Agenor Sbaraini, Superior Regional da Congregação dos Missionários de São Carlos (Padres Carlistas). Na sua pessoa saúdo todos os demais padres desta querida congregação, que acompanham como irmãos de caminhada, o itinerário de nossa Diocese desde seu nascimento.
Saúdo os senhores padres diocesanos e demais sacerdotes, religiosos e religiosas aqui presentes, diáconos e seminaristas. Saúdo de modo especial também os pais do Diácono Rafael Sr. Pedro (em memória) e Sra Neide Maria e todos os seus familiares e amigos.
A ordenação sacerdotal não é uma festa somente para alguns eleitos. É uma festa para toda a Igreja, uma festa de todo o Povo de Deus. Na verdade, é no seio da Igreja que brotam os carismas, a Igreja precede tudo o que nela florece!
A liturgia da Igreja diz-nos muito sobre o que é o sacerdote, diz sobretudo com gestos. Em nossa liturgia o corpo participa da oração e ajuda a exprimir o que vai no coração. Em especial a imposição das mãos e a unção das mãos adquirem um significado todo especial no rito da ordenação sacerdotal.
A cabeça e as mãos tem importância total em nossa vida. É a cabeça que reflete através do cérebro, recolhe e apreende tudo pelos olhos, ouvidos e nariz. Ao mesmo tempo pela boca, se alimenta e projeta com as palavras o que vai em sua inteligência e em seu cérebro, para isto servindo-se das mãos.
O que quer dizer impor as mãos na cabeça do quem está sendo ordenado? O bispo agindo in persona Christi, ao impor suas mãos sobre o ordenando, consagra seu sentimento, seu ouvir, ver, pensar e falar, colocando tudo à disposição do Senhor Jesus. O mesmo fará o presbitério aqui presente. Ao impor as mãos os presbíteros mostram a forma colegial do ministério presbiteral. O padre é ordenado para a Igreja e se torna presbítero da Igreja. Se fosse ordenado somente para a congregação, seriam somente os religiosos desta congregação que imporiam as mãos, mas não é assim.
Caro diácono Rafael, suas mãos serão ungidas. É o próprio Jesus que na pessoa do bispo te unge, consagrando-te para sempre a serviço Dele que é o ungido pelo Pai (o Cristo). Hoje Ele comunica a você através do sucessor dos Apóstolos a sua unção fazendo-te participante de seu sacerdócio para sempre. Veja que dignidade o Senhor te confere! Saiba ser digno desta graça, saiba aproveitá-la.
As mãos do homem constroem o mundo, mas também não raro o destroem pela sua ganância, desejo de posses e vontade de poder para dominar. Agora pela unção suas mãos devem converter-se em mãos postas que oram e abençoam, mãos que servem e se estendem para levantar os caídos. Mãos que acolhem os imigrantes e sofredores.
A primeira leitura (Jr 1,4-9), nos mostra que é o Senhor que escolhe, é o Senhor que consagra e faz o profeta. O profeta é o homem que se percebe escolhido e seduzido por Deus. Seduzir, a gente se deixa por algo que é agradável. É o mistério da presença de Deus que seduz. Jeremias foi seduzido, ele era um homem para o qual a fé em Deus não era uma coisa alienada: fé era viver bem esta vida humana.
Aparentemente os profetas lançam a comunidade na completa insegurança, mas, na realidade, lançam a base para a mais firme segurança que o homem possa ter: a certeza absoluta de que Deus está aí, de que Deus está presente: Eu estarei contigo! Está presente para ajudar, mas ajudar como e quando ele determinar e não quando nós quisermos. O profeta vive de fé. Você Rafael, a partir de hoje mais que ninguém deve viver de fé e pela fé. Esta fé que faz caminhar como se visse o invisível.
O Evangelho aqui proclamado (Mt 20, 20-28) mostra que a partir de hoje todo seu ser, simbolizado pela cabeça e as mãos, deve estar a serviço de Deus na pessoa dos irmãos, em especial os mais pobres e infelizes. Eles também estenderão em sua direção as mãos vazias pedindo ajuda. Inclinarão a cabeça desanimada para pedir compaixão. Eles te chamarão para servi-los, pois eles são os nossos senhores.
Servir e amar é a herança de Jesus, seu modo de ser que os apóstolos transmitem à comunidade de forma concreta. Jesus viveu seu poder como poder recebido do Pai para o serviço dos homens: “eu vim para servir” (Mc 10,45). É somente na negação da lógica mundana e na opção de servir, dedicando-se totalmente aos outros, que se pode falar de primeiro lugar na comunidade dos discípulos de: amar e servir é a herança de Jesus (cf. Jo 13,14 – 15).
Esta perícope evangélica, fala-nos da ambição dos apóstolos preocupados com a busca do poder. Pedem a Jesus para sentarem-se em tronos, um à direita e outro à esquerda, quando ele estiver em sua glória. Jesus adverte: Dominar: jamais! Servir sempre, pois:“…o filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida…” (Mt 20,28). Com isso a Igreja nascente mostra-nos que a missão de Jesus está intimamente ligada com a missão do Servo Sofredor conforme o profeta Isaías(cf. Is 42).
Jesus alerta: “não pode ser assim”, não se pode viver na disputa e competição, “tem de ser diferente”, deve-se arrancar do meio de seus seguidores esta “doença” que é a busca do poder, com seu corolário de dominação, competição, inveja, ressentimentos… Jesus adverte sobre a nova ordem: quem quiser ser grande, faça-se servo, não busque seus próprios interesses. A vontade de quem se faz servo é servir e dar a vida. Por isso, para Jesus, quem serve se torna o primeiro: é o maior!
A segunda leitura mostra que o presbítero não deve pregar a sí mesmo mas a Jesus Cristo, o Senhor (2Cor 4,1-2.5-7). Como não recordar a partir destas palavras do Evangelho a figura do Bem aventurado João Batista Scalabrini, fundador da Congregação à qual pertence o ordenando? Ele assumiu como prática evangélica, o serviço em especial aos imigrantes, serviço que você também, Rafael deseja assumir na linha do profetismo. Isto custa mais que o suor, custa muitas vezes as lágrimas, se não o sangue. Se não as lágrimas dos olhos, as lágrimas e sangue da alma, sendo atacado por calúnias, perseguições e incompreensões, como tantas vezes o provou Dom João Batista Scalabrini, que foi um bispo profeta de seu tempo.
Dom Scalabrini escreveu em seu báculo, “a caridade tem poder”. Embrenhou pela “espiritualidade do caminho” expressa no dístico: “caminhar com Jesus nos peregrinos”. Definitivamente ele não pregou a si mesmo, mas a Jesus Crucificado no sofrimento dos migrantes e imigrantes. E foi o próprio Jesus Crucificado, Jesus na Eucaristia que o sustentou na sua pastoral. Pastoral que se baseava que se baseava numa eclesiologia do contexto, expressa no que ele afirmava: “onde está o povo que chora e sofre aí deve estar a Igreja”, uma Igreja “na qual ninguém se sinta estrangeiro” e ainda, “devemos sair do templo se quisermos uma ação salutar dentro do templo”.
Prezado Rafael, não tenha medo, Jesus estará contigo, assim como esteve com Jeremias, S. Paulo, S. Carlos Borromeu patrono de tua Congregação e com o bem-aventurado João Batista Scalabrini. Recorra sempre a Maria Santíssima, ela intercede e anima os seguidores de seu filho que se tornam filhos dela também! Seja fiel à palavra dada, aos propósitos que vais manifestar agora diante de todos nós e que são um juramento de fidelidade por toda a vida. Mesmo que te custe, seja fiel ás promessas sacerdotais que fazes hoje. São vínculos de amor e perfeição. Nesta época de consumismo, viva a pobreza evangélica porque a tristeza não se apodera do coração desapegado de tudo e de todos por amor ao Reino de Deus
Tenha a mesma disposição de ânimo que teve Dom Scalabrini durante toda a vida, para cumprir a vontade de Deus. Ao morrer suas últimas palavras foram: “Senhor estou pronto, partamos”. Que você possa dizer isto hoje: Senhor, estou pronto para viver esta viagem que é a vida sacerdotal a serviço dos pobres: partamos!
AMÉM!