20 de fevereiro de 2018 – São Bernardo do Campo
Matriz da Paróquia da Santíssima Virgem
Is 32,15-18; Mt 25,31-46
Prezados Membros do Consórcio Intermunicipal do Grande ABC, Sr.s Prefeitos Municipais e esposas, Vereadores, esposas e esposos, Secretários, esposas e esposos, agentes públicos das mais diversas instâncias, membros todos do Povo de Deus:
Neste momento somos convidados a refletir a Palavra de Deus que acabamos de ouvir. Ela ilumina nossa celebração conferindo-lhe um sentido superior às nossas buscas e lutas. A Palavra de Deus é uma luz que vem do alto, para nos guiar e conduzir em nossos caminhos. A presença de todos vocês aqui hoje é um bom sinal para nós e demonstra a boa vontade de receber as bênçãos de Deus para a missão. Agradecemos a presença de todos.
Nesta celebração estamos reunidos pela graça de Deus a fim de sinalizar a unidade que desejamos ter no desempenho de nossas tarefas. Unidade do povo, dos governantes e de todos os que exercem o poder público. Estamos assim unidos mais que reunidos, para rezar juntos pela missão que os poderes públicos assumiram em favor dos municípios do Grande ABC. Unidos sob a proteção de Deus venceremos os maiores desafios.
A primeira leitura que acabamos de ouvir tirada do Livro do Profeta Isaías, recorda-nos o projeto de Deus para a humanidade. Deus envia seu Espírito Santo para iluminar e transformar os corações a fim de que sejam capazes de entrar na dinâmica do bem, da justiça e da paz. Pois este é o projeto de Deus: uma sociedade justa e pacífica.
Assim se expressa o profeta: chegará o dia em que, “no deserto haverá lugar para a honestidade, a justiça e a paz”. E ainda, nos garante que a paz tão almejada será fruto da justiça a qual produzirá a segurança que todos queremos.
Esta palavra do profeta tem tudo a ver com o que desejamos: Paz. Nossa sociedade se tornou muito violenta. Apesar de possuir menos de 3% da população mundial, nosso país responde por quase 13% dos assassinatos do planeta. No ano de 2012, quase 41 mil brasileiros perderam a vida nas estradas. Estes são alguns dados mostrados pela Campanha da Fraternidade deste ano cujo tema é fraternidade e Violência e o lema: Somos todos irmãos. O ano de 2016 foi o mais violento de nossa história com 61.619 assassinatos (cf. O Estado de S. Paulo, 31.10.2017 p. A15), e aqui no Grande ABC os jovens são principais vítimas de homicídio. Também a miséria é uma violência. Segundo reportagem do Diário do Grande ABC, um quarto dos brasileiros vive abaixo da linha da pobreza (cf. Diário do Grande ABC – 16.12.2017, Setecidades 5)
A presença da violência na história da humanidade é sinal de ausência de amor e fraternidade, apesar do esforço de muitos que se dedicam a propagar a solidariedade. Existe entre nós uma “cultura da violência”. Isto acontece quando vão sendo tomadas decisões que inviabilizam a construção da justiça, da paz e fraternidade.
Somos chamados por Deus a combater esta “cultura da violência”, para que o povo, como diz o profeta Isaías, possa viver num ambiente de paz, morando com confiança em lugares seguros. Rezemos para que todos os que exercem cargos públicos estejam empenhados nesta missão. Sejamos protagonistas da superação da violência fazendo-nos arautos e construtores de uma sociedade mais justa baseada na ética da fraternidade e não só da liberdade.
O exercício do poder é a capacidade de agir para realizar algum objetivo específico. O poder político é a capacidade delegada pelo povo para agir em favor do bem comum par que todos tenham vida e vida plena (Jo 10,10). O poder tanto legislativo como executivo deve ser sempre exercido dentro do direito e não pela força. Em nossa sociedade o grande problema relativo ao poder se levanta a propósito do poder econômico que deseja subjugar os demais poderes. O poder econômico tenta submeter todos os outros poderes aos seus interesses privados, servindo-se para isso, até mesmo da corrupção como infelizmente se constata em vários lugares.
Só há um processo seguro para vencer a dificuldade representada pelo poder econômico dominador: é a educação do povo para o exercício responsável de seus direitos e deveres cívicos. Neste sentido a educação deve ser uma prioridade permanente, junto com a saúde e moradia, pois devemos apostar nas famílias para reerguer nossa sociedade. Quando o poder político é exercido por alguém, com honestidade e na defesa do bem comum, na defesa dos direitos dos indivíduos, ele se torna uma das formas mais significativas da caridade.
De fato, no Evangelho que ouvimos, Nosso Senhor Jesus Cristo, apontando critérios para nossa salvação eterna, afirma que seremos reconhecidos ou não por Deus quando morrermos (quando Ele voltar), pelo bem que tivermos realizado, especialmente em favor dos mais fracos e pobres: “Todas as vezes que tiverdes feito isto a um dos menores de meus irmãos, foi a mim que o fizestes”.
Nosso julgamento final será baseado no bem que tivermos feito, pelo amor que tivermos colocado naquilo que fazemos. Na ordem do mandamento, o amor a Deus vem primeiro, mas na ordem prática o amor ao próximo vem em primeiro lugar, porque ninguém pode dizer que ama a Deus que não vê, se não ama o irmão que vê. Façamos valer a pena cada dia de nossa vida, praticando o bem aos outros que se reverterá em bem para nós.
Queremos rezar hoje para que todos os que exercem alguma forma de poder público, exerçam seus mandatos como verdadeiros servidores do povo em especial os que mais necessitam. Que Deus lhes dê saúde, sabedoria e coragem, é o que pedimos com fé.
Deus nos guarde a todos e a cada um de vocês servidores públicos, na missão de amar e servir nossos povo, com honestidade e justiça, pela fé e pelo bom governo, para que a prosperidade e a paz habitem entre nós.
+Dom Pedro Carlos Cipollini
Bispo Diocesano de Santo André