Catedral Nossa Senhora do Carmo – 29/03/2017
Prezado Dom Nelson, para todos nos é uma satisfação tê-lo aqui hoje. Tê-lo de volta, depois deste ano de serviço prestado à Igreja em Lages-SC. O sr. retornou para o nosso convívio, após cumprir uma missão exigente com o apoio de todos nós. Nossa Diocese fica mais completa com sua presença: a casa é sua!
Prezados presbíteros, diáconos, consagrados e consagradas, seminaristas, irmãos e irmãs no santo batismo; Estamos reunidos para celebrar a Eucaristia, na qual vamos consagrar o óleo do crisma, benzer os óleos do batismo e dos enfermos. A presença de cada um alegra a todos: que bom que você veio! Saúdo e acolho-vos em nome de Jesus!
Nesta celebração, a Igreja quer manifestar a comunhão dos presbíteros e de toda a Igreja Particular. É celebração de unidade, de comunhão em Cristo. Na liturgia que celebramos podemos encontrar-nos com Cristo que vive eternamente. Ele nos comunica a energia transformadora de seu amor que nos faz discípulos(as), transforma e envia-nos em missão.
Nossa Igreja acaba de celebrar seu primeiro Sínodo Diocesano, com ele ficou mais claro para nós que a Igreja deve ser sinodal. Somos convidados a caminhar juntos, sempre mais. Caminhar junto, portanto, na unidade entre nós e na missão evangelizadora que chamamos de pastoral. Vamos percebendo que a Igreja é nosso eu plural.
O Espírito do Senhor está sobre mim, porque Deus me ungiu (cf. Is 61, 1-9). O profeta Isaías fala de um povo de ungidos (cristòs) ou seja, antevê um povo cristão, que vive segundo o Espírito de Deus. “Vocês hão de ser chamados de sacerdotes de Javé, ministros de nosso Deus” (Is 61,6). Povo vocacionado a dar a boa notícia aos pobres, curar os corações feridos, proclamar a libertação, consolar os enlutados.
No Evangelho Jesus inicia sua missão na força do Espírito que renova todas as coisas. O Espírito do Senhor está sobre mim, o Senhor me “ungiu e enviou para anunciar o Evangelho aos pobres” (Lc 4, 16).
A segunda leitura do Livro do Apocalipse nos recorda que Jesus nos ama; Por isso Ele nos libertou de nossos pecados e fez de nós um reino de sacerdotes (cf. Ap 1, 1-8). Todos os batizados formam, a partir da fé batismal, um povo sacerdotal. É o sacerdócio comum dos fiéis. Fiéis que são sujeitos na Igreja, vocacionados a assumirem seu protagonismo, como nos recorda o Ano do Laicato que vivemos na Igreja no Brasil.
As leituras que ouvimos deixam claro que Deus tem um projeto libertador para o mundo. Ele quer santificar a tudo e a todos. Por isso estes Óleos que iremos abençoar para que a Igreja possa ungir seus fiéis, mostram a colaboração que Deus quer de nós para que se cumpra seu desígnio de salvação no mundo. Jesus é o que veio realizar esta salvação. As leituras nos falam da grandiosidade da missão de Jesus. Jesus é o Filho de Deus encarnado, o ser humano mais grandioso que Deus enviou a este mundo. Ele nos ensina o amor-serviço, veio nos dar o exemplo de alguém que pertence aos outros e não a si mesmo. “Nós nunca chegaremos ao conhecimento pleno e perfeito, ao conhecimento autêntico e profundo, nem da Sua morte e ressurreição, nem da Eucaristia e do Sacerdócio, se não chegarmos sinceramente a descobrir Jesus como o mais humilde dos servos” (B. Haring, Que padres, para que Igreja, Ed. Santuário, 1995, 52).
O povo sacerdotal, o povo ungido de Deus é o povo do serviço por amor, povo da entrega da vida para que todos tenham vida. Para isto somos santificados e fortalecidos por estes óleos que iremos abençoar. A partir de Cristo Servo, o cristão deve ser servo, se quiser chamar-se cristão (ungido): “por meio do amor, ponham-se a serviço uns dos outros” (Gl 5,13). O dom de si é o critério supremo do testemunho cristão. A Palavra de Deus nos chama a incentivar gestos de reconciliação e solidariedade em uma sociedade violenta e individualista, como refletimos na CF/2018 deste ano.
A serviço de todo o Povo Sacerdotal está o ministério ordenado, os sacerdotes da Igreja. Os presbíteros hoje celebram o dia de sua instituição por Jesus Cristo na última Ceia. Junto com o mandamento do Amor-Serviço e a instituição da Eucaristia, queremos agradecer a Jesus pelo dom do Sacerdócio. Dom que ele faz a sua Igreja.
Ser sacerdote é um chamado para uma missão. Jesus associa a si alguns batizados, de forma toda especial. Pelo sacramento da Ordem, os padres são os amados de Jesus que Ele faz participantes de sua missão, para agir em seu nome. Cada padre hoje, ao renovar as promessas sacerdotais poderá dizer com Jesus: «O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu para anunciar a Boa-Nova aos pobres; enviou-me a proclamar a libertação aos cativos e, aos cegos, a recuperação da vista; a mandar em liberdade os oprimidos» (Lc 4, 18).
Hoje é dia de gratidão pelo ministério ordenado, pelo nosso Presbitério de Santo André. Recordemos os clérigos que serviram esta Igreja Particular e hoje já estão na Eternidade. Outros no repouso cuidando da saúde, mas a maioria na plena atividade evangelizadora. Deus seja louvado por seu serviço! Parabéns pela perseverança!
Trazendo à memória os que se foram, os que estão eméritos, os doentes … percebemos que todos enfrentaram alegrias e dificuldades. Tiveram presenças e solidões, conflitos e calmarias, apoio e correções. Ninguém é perfeito. E nós também não o somos, também estamos no caminho entre luzes e sombras. Por isso, para que as luzes superem as sombras em nós e entre nós, podemos e devemos nos apoiar e perdoar mutuamente. Não há relação humana e portanto, eclesial, que sobreviva sem perdão e apoio. Estamos todos guiados pela força de Jesus que nos aperfeiçoa a cada dia se nós nos abrirmos ao seu amor.
Muitas vezes, quanto mais próximo no trato do sagrado; quanto mais dispensadores deste mistério do perdão, mais corremos o risco de enrijecer nosso coração. Peçamos a força do alto, para em Deus administrarmos as situações de nossa santificação pessoal. As alegrias e dificuldades, as presenças e solidões, conflitos e calmarias, apoio e reprimenda que Deus permite que passemos, sempre para o nosso bem. O Senhor caminha conosco, tenhamos fé em seu amor incondicional por nós!
Como Povo Santo de Deus, somos frutos de nosso tempo, e a Evangelização em cada geração possui seus pontos fortes e seus limites.
Como irmãos no Presbitério, não podemos reproduzir o que diz a clássica frase: “Cada geração se considera mais inteligente do que a anterior e mais sábia do que a próxima”. Podemos sim, apoiar-nos no amor de Jesus e evangelizar na complementariedade das forças. O Evangelho continua a atrair para si as pessoas de boa vontade, cada um de seu jeito. Os leigos e clérigos de hoje evangelizam como conseguem. E muitos se cansam nesta árdua caminhada. Recordemos então que nosso cansaço: “é como o incenso que sobe silenciosamente ao Céu. O nosso cansaço eleva-se diretamente ao coração do Pai” (Papa Francisco). Em meio a tudo isso, com nossas forças e limites, façamos da acolhida e missão as metas da nossa geração.
Muita coisa bonita aconteceu em nosso meio, fruto do esforço de todos. Há bastante empenho para corresponder aos desafios deste tempo. Muitos clérigos tiveram disposição para a acolhida da missão recebida nas novas paróquias, realizamos a Romaria do Pilar no Ano Mariano, o conferimento dos Ministérios laicais, a valorização dos Conselhos, promovendo a corresponsabilidade dos leigos, foram ordenados sete diáconos dois permanentes e cinco transitórios. Projetamos o Vicariato da Caridade Social, trabalhamos nos diálogos com as instâncias políticas e sociais (com leigos nos Conselhos municipais). Sobretudo nos dedicamos ao Sínodo Diocesano com um sem fim de orações e colaborações vindas de todas as comunidades. É claro que tivemos dificuldades, frutos de nossas imperfeições, mas é inegável que tudo isto faz parte do plano de Deus, não nosso: “Até aqui nos ajudou o Senhor” (1 Sm 7,12). O Senhor não nos cobra êxito e vitórias, mas cobrará sempre nosso esforço e dedicação, e isto temos tido.
Permitam-me finalmente recordar a necessidade de cultivar a vida espiritual para viver bem nosso ministério. Cultivar a vida espiritual é cultivar a fé, dar sentido às palavras da fé pois, somos justificados pela fé (cf. Gl 2,15) e sem fé é impossível agradar a Deus (cf. Hb 11,6). Por esta fé que age pelo amor, nós nos tornamos “participantes da vida divina” (1Pe 1,4). Ela nos dá serenidade em todas as coisas. É a certeza daquilo que esperamos (Hb 11,1).
Que Deus dê a todos sua misericórdia e com ela a paz. Uma Feliz Páscoa a cada um de vocês. AMÉM.
+ Dom Pedro Carlos Cipollini – Bispo de Santo André