HOMILIA – FESTA DE CORPUS CHRISTI – 31.5.2018
Praça da Catedral Nossa Senhora do Carmo em Santo André
Com as Paróquias da Região Pastoral Santo André – Centro
Leituras: Ex 24,3 – 8; Hb 9,11 – 15; Mc 14,12 -16.22-26
Prezados Padres, diáconos, irmãos e irmãs,
A festa de Corpus Christi (Corpo de Cristo) fala-nos do amor misericordioso de Deus para com a humanidade: “Deus amou tanto o mundo que enviou seu filho para salvá-lo” (Jo 3,16). “E o Verbo se fez carne a habitou entre nós” (Jo 1,14). Assim está escrito na Carta aos Hebreus: “Por isso, ao entrar no mundo Cristo disse: Tu não quisestes nem sacrifícios nem oferendas, mas me formastes um corpo” (Hb 10,5).
Deus é um espírito puríssimo e perfeitíssimo, mas para se manifestar a nós Ele se fez carne, fez-se corpo humano em Jesus Cristo seu Filho único. Se nós lêssemos: e o Verbo se fez Espírito, isto não diria nada para nós, mas quando dizemos que, em Jesus, Deus se fez carne, isto diz tudo sobre a dignidade e o amor de Deus pela humanidade. (Hars Urs von Balthasar). O que Deus tem a nos dizer, Ele diz-nos agora corporalmente, com seu corpo e seu sangue. É fácil para nós dizer te amo. Mas o amor tem de ser demonstrado, e as obras que demonstram o amor são sempre corporais, por isso temos na Igreja, as obras de misericórdia corporais e não só espirituais.
O amor só se prova com obras corporais – obras concretas. Hoje celebramos o corpo de Jesus que no sofrimento, foi dilacerado pelos pecados do mundo. Seu sangue foi derramado por todos os egoístas do mundo, os quais se afastam de Deus. Testemunhamos hoje nossa fé no mistério Eucarístico, sessenta dias após a Pascoa. É o mistério do amor que dá a vida. Esta celebração de hoje está ligada à celebração pascal, pois, a Eucaristia é mistério pascal. Na Eucaristia celebramos a paixão morte e ressurreição de Cristo.
A festa de hoje completa a quinta feira santa em que prestes a viver sua paixão Jesus nos dá este dom maravilhoso: sua entrega total a nós na maior humildade, sob a figura do pão, corpo doado, e vinho, sangue derramado para a vida do mundo.
Esta festa iniciou-se em 1264 por ordem do Papa Urbano VI e foi estendia a toda a Igreja. No Brasil este dia sempre foi um dia santo e a partir de 1961 tornou-se também feriado. Caminhamos em procissão levando o Santíssimo Sacramento, porque nossa vida é caminhada, e nesta caminhada somos alimentados por este amor tão grande que nos fortalece e nos inclui na dinâmica do amor de Deus.
Hoje ressaltamos o dom que representa a Eucaristia para nós. Jesus que morreu por nós na cruz se dá como alimento para toda nossa vida. Ele quer se unir a nós para que tenhamos a vida dele em nós, a vida eterna: “Quem come deste pão viverá eternamente”.
Jesus se entrega a nós para que sejamos unidos e vivamos em comunhão. Somos muitos, mas formamos um só corpo. O pão que partimos é a comunhão no corpo do Senhor. Aqui reside a ideia de Aliança selada com o sangue dos cordeiros expressa na primeira leitura. Jesus renova esta aliança antiga. Jesus se oferece como vítima de expiação pelos pecados da humanidade. Diz a segunda leitura que ele é mediador de uma nova aliança e pode assim “purificar nossa consciência das obras mortas para que possamos prestar culto a Deus” (Hb 9,14). A refeição que une é distintivo do cristão, mas também a partilha do pão, especialmente nesta época de crise generalizada em que vivemos: crise política e principalmente ética, marcada sobretudo pela ganância e indiferença diante do mal.
Para Jesus o ser Messias quer dizer ser um dom para todos. Dom capaz de unir a todos no mesmo amor-comunhão e, sobretudo, tornar-se servo de todos. O salvador é alimento, torna-se pão para a vida do mundo. Aí está o serviço significado no pão que sacia. Onde não se parte o pão, Cristo não pode estar presente, mas onde não servimos os irmãos, também Ele não pode estar presente.
É preciso comungar dignamente, vivendo em comunhão entre nós, colocando-nos a serviço uns dos outros. Aqui está o sentido deste mistério. Comungar indignamente é receber a santa comunhão sem viver em comunhão, receber este pão que dá a vida sem entregar a vida a serviço dos irmãos.
Neste momento de incerteza e desapontamento que vivemos no Brasil, com o aumento das dificuldades e crises que nos afligem, queremos pedir forças a Jesus: “Ele é nossa paz” (Ef 2,14). Que Jesus eucarístico nos dê forças para abater os muros da injustiça social que separa nossa Nação, dividindo-a em abastados e miseráveis. Onde não há pão, moradia, trabalho e dignidade para os filhos e filhas de Deus, o corpo de Cristo continua a ser dilacerado e seu sangue derramado. Jesus é solidário com a Humanidade sofredora e nos convida a imitá-lo.
O evangelho proclamado mostra-nos Jesus que manda preparar o local onde iria instituir a Eucaristia para nos dizer do amor e do cuidado que devemos ter ao celebrá-la, preparando-nos bem para entrar em comunhão com ele. A Eucaristia é o mesmo sacrifício do Calvário e é também festa da ressurreição e deve ser vivida com muito amor e carinho.
A Eucaristia é a síntese do mistério da redenção operado por Jesus Cristo. Os antigos cristãos designavam com a mesma palavra Corpus Christi, tanto o corpo nascido da Virgem Maria, o corpo eucarístico e o corpo eclesial. Receber o corpo de Cristo na Eucaristia compromete-nos a viver e construir a unidade na família, na Igreja e na sociedade. Quem de nós fomentar divisões, espalhar inimizades, quem separar as pessoas, as famílias, a Igreja e a sociedade, não deveria comungar, pois comunga indignamente o Corpo de Cristo. Precisamos, todos nós, de conversão como passo primeiro da comunhão.
Nosso Sínodo Diocesano propõe-nos o caminho eucarístico da acolhida e da missão. Na Eucaristia Jesus nos acolhe e alimenta-nos, mas também nos envia em missão. Tanto assim que a palavra missa deriva de missão. Ite missa est – ide a missão está aí – dizia-se no final da missa antigamente. Ao receber Jesus devemos levá-lo ao mundo para que seja amado e seguido. Vamos assumir diante de Jesus Eucarístico, os compromissos pastorais de nosso Sínodo Diocesano: Acolhida e Missão
Ao adorar Cristo na Eucaristia e recebê-la, e ao comemorarmos solenemente esta festa de Corpo de Cristo sejamos abençoados e confortados pela Eucaristia fonte de vida solidária.
Dom Pedro Carlos Cipollini
Bispo Diocesano de Santo André