O sofrimento do mundo é grande, e boa parte dele toca às crianças. Haja vista o que acontece com crianças, imigrantes ilegais nos EUA, separadas dos pais e confinadas em Centros de Detenção destinados especialmente a elas. Estes Centros são um, misto de escola interna, creche e presídio. Ali as crianças devem seguir regrar rígidas: não toque em outra criança, mesmo sendo irmão ou irmã, não reparta sua comida, lave banheiros e privadas, não chore, etc.
Os EUA é um país que se formou com imigrantes. Inicialmente europeus e depois, vindos de todas as partes. Eles foram confinando os “indígenas” ali existentes para tomar posse da terra. E hoje, rejeitam imigrantes! Esta atitude de crueldade para com as crianças, separando-as de seus pais e confinando-as, provocou indignação, fazendo surgir comparação entre o presidente dos EUA, D. Trump e A. Hitler, com seu nazismo discriminatório. Talvez haja exagero na comparação, mas esta atitude pode trazer uma forma embrionária de horror, propenso a se desenvolver e a chegar onde menos se espera.
E aqui bem perto de nós, a situação também não é boa. O Ministério da Saúde alerta que a crise econômica atual aumenta a mortalidade infantil que vem crescendo desde 2016, o que não acontecia há duas décadas. O desemprego diminui a renda em geral, e também a possibilidade de se manter o nível na alimentação, nos tratamentos de saúde e ainda, a estagnação das políticas sociais.
Embora diminua o número de nascimentos, as crianças são numerosas em nossa população, trazendo alegria e a lembrança de que a vida recomeça. “Cada criança, ao nascer, nos traz a mensagem de que Deus não perdeu ainda a esperança nos homens” (R. Tagore). Muitas são as opiniões disparatadas como a crítica ao crescimento populacional com a consequente defesa do aborto; outros atribuem ao sistema injusto de acumulação de bens e à ganância pelo lucro, a situação crítica das crianças. Mas há de se crer que as crianças não devem ser vistas como problema, mas como solução. As crianças querem viver e precisam de nós.
A sociedade não pode se omitir e muito menos continuar criando novas formas de consumismo e luxo, pouco se importando com a miséria das crianças e a desorientação dos jovens. O preço que se pagará por esta omissão será pesado para todos, se não for revertida. Numa realidade como a nossa onde cortiços e favelas abrigam centenas de crianças, é necessário somar esforços e agir rápido com projetos sociais inteligentes. É preciso favorecer as crianças antes que elas abandonem o lar.
A solução está na prática da justiça social e pessoal. O sistema escolar municipal contribuiria muito se conseguisse acolher as crianças por um período maior, dando a elas, além do estudo, alimento, lazer, tratamento de saúde.
Existem iniciativas complementares ao que faz o Estado e o Município, levadas avante pelas comunidades onde vivem as crianças. Andando pela nossa Diocese de Santo André (Grande ABC) constato iniciativas generosas desenvolvidas pela Igreja Católica. Desde o primeiro Bispo, D. Jorge Marcos de Oliveira, que se preocupou em fundar o Lar Menino Jesus existente até hoje, passando pela Pastoral da Criança, as paróquias e comunidades desenvolvem com criatividade vários esforços. É um trabalho pastoral e voluntário que merece louvor.
Que a atenção e o atendimento às crianças sejam o princípio de uma nova ordem social mais humana e fraterna. Quando as crianças pobres se sentirem amadas e acolhidas, certamente constataremos a diminuição da violência e aumento da paz que tanto almejamos.
Artigo escrito por Dom Pedro Carlos Cipollini