A Diocese de Santo André celebra o padroeiro dos jornalistas, São Francisco de Sales, publicando no seu dia, a entrevista especial com o jornalista Humberto Domingos Pastore, que nos últimos quatorze anos exerceu a missão de servir como assessor de imprensa de nossa diocese. Aqui ele narra sua trajetória como jornalista profissional e as ações que nortearam sua caminhada em nome de nossa fé e da evangelização.
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Nome completo, idade, esposa, filhos e netos.
Olá! Sou o Humberto Domingos Pastore. Em fevereiro de 2019 comemoro 64 outonos. Sou casado há 41 anos com a Maria Aparecida Petroli Pastore. Tenho três filhos, (uma mulher e dois homens), e quatro netos, (três meninas/moças e um “levado que só ele”).
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Como foi sua relação na infância com a Igreja?
Minha professora de catecismo foi a mesma professora do Grupo Escolar 28 de Julho, em São Caetano do Sul. Lembro que o Padre Canísio – sempre com uma bengala na mão – também vinha conversar conosco, todos nós, sentados nas primeiras filas da antiga Paróquia Nossa Senhora Aparecida, do Bairro Barcelona. A igreja era pequenina e ficava no fundo do terreno onde hoje está a construção nova. A porta de entrada era ao contrário da atual entrada.
Frequentar mesmo a Igreja Católica foi só com quinze anos, a convite dos integrantes do Grupo de Jovens da Paróquia São João Batista, do Bairro Santa Paula, também em São Caetano, e que tinha o nome de VAP – Voluntários do Amor e da Paz – O padre, de origem italiana, era o Monsenhor Henrique Zamperetti. A missa das dez horas de domingo pela manhã era organizada pelos jovens. Fazíamos as leituras e participávamos do coral com as organistas: Ana Cecília e Alba. Lembro que nós jovens éramos também convidados a falar algo após a leitura do Evangelho. As 14h voltávamos todos para a reunião semanal, quando estudávamos a Bíblia e depois brincávamos jogando ping-pong ou cantando em volta de quem sabia tocar violão. O grupo era unido. No sábado também nos encontrávamos nas casas de nossos pais. Tinha o bailinho na garagem e filme em um dos cinemas da cidade.
O grupo de jovens tinha uma diretoria. Eu passei por vários cargos, inclusive na presidência. Saí da Vap ao me casar em julho de 1977, quando então, passei a freqüentar a Paróquia Nossa Senhora da Candelária, mais perto da nova residência, e onde me casei. Curiosamente, Monsenhor Henrique também se transferiu para lá no mesmo período. Foi quem presidiu minha cerimônia de casamento.
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O que o motivou a estudar jornalismo?
Com cinco anos minha mãe já tinha me ensinado a escrever e ler. Meu pai, feirante, chegava da feira trazendo sempre o antigo jornal Diário de São Paulo. Era minha alegria. Abria as páginas e encontrava aquelas fotos gigantes, ilustrando as noticias do dia anterior. Sempre gostei de ler. Costumo dizer que leio até papel de bala no chão.
Lembro que com sete, oito anos, ficava inventando história e escrevendo no papel que embrulhava os pães, e depois ia ler para minhas tias. No quintal onde morava, na Alameda São Caetano, tinha a casa de meu nono, dos meus pais e de dois tios. Desde esta época sempre tive em mente que iria ser jornalista quando crescesse. E foi o que aconteceu. Me formei na Metodista, de São Bernardo do Campo.
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Antes de trabalhar na assessoria da Diocese, quais foram suas experiências profissionais?
Antes mesmo de me formar em Comunicação Social, especializado em Jornalismo, já mantinha uma coluna no Jornal de São Caetano do Sul, sobre a vida estudantil, além de fazer reportagens para o mesmo jornal. No mesmo período trabalhava na Assessoria de Imprensa da Prefeitura de São Caetano. Depois, enquanto estudava na faculdade fui contratado para chefiar a redação do Jornal Folha de São Caetano, de onde me transferi para ser o editor do jornal Sancaetanense.
Anos mais tarde criei a Pastore Comunicações e passei a editar o meu próprio jornal. Tive o Jornal Vida, em São Caetano, o jornal Correio Paulistano, na Região Leste da Capital, e o jornal O Caiçara na cidade da Praia Grande. Neste período também produzia jornais de terceiros, como Jornal do IMES (Hoje USCS), jornal do Esporte Clube São Caetano, jornal do Clube de Campo do ABC, jornal da SABCity do Jardim São Caetano, o jornal da empresa Rieter, e o Arauto da Enfermagem.
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Quando e como surgiu a ideia de trabalhar para a imprensa católica?
Costumo dizer que sou um privilegiado. Consegui usar minha profissão a serviço de minha fé. Nos idos da década de 1970, no tempo da Vap, quando ainda não se falava de Pastoral da Comunicação, já produzia com alguns amigos, como o Olavo e o Tadeu, o Jornal “noVAPaz”. E numa demonstração de que naquele tempo os grupos de jovens de todas as paróquias de São Caetano trabalhavam unidos, chegamos a produzir o jornal: “O Eco”, uma sigla para “Elo Comunitário”. No final da década de 1990, a convite de Padre Heitor de Carli, passei a editar o jornal da Paróquia São Judas Tadeu, do Bairro Campestre, em Santo André.
Nos idos de 2004, estava a frente da administração do Museu de São Caetano do Sul, e estudava Teologia no Instituto da Diocese de Santo André, e fui convidado pelos alunos do último ano, a acompanhá-los em uma confraternização que aconteceu no Restaurante Sete Mares, em São Caetano. Lá sentei, tendo a minha frente o amigo, Padre Roberto Alves Marangon, o Padre Beto. E ele me perguntou se eu não toparia produzir um jornal para a Diocese. Naquele tempo, o Voz das Comunidades não estava mais sendo editado. Respondi que seria algo interessante para pensar. E na semana seguinte estava conversando com o sacerdote responsável pela PasCom, Padre Vanderlei Ribeiro.
Lembro de ter dito que não queria só produzir o jornal, mas sim implantar a filosofia de uma Assessoria de Imprensa de verdade, que produzisse programas para tv, rádio, interagisse com a imprensa secular, entre outras responsabilidades.
Acertamos os detalhes, firmamos um contrato de prestação de serviço. Pedi meu desligamento a frente do Museu de São Caetano e comecei a trabalhar para a Diocese de Santo André.
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Quais os primeiros passos dados?
A primeira coisa a ser feita foi me apresentar para o bispo diocesano, Dom Nelson Westrupp, scj. Eu já o conhecia e tínhamos um bom relacionamento. Isto porque, antes mesmo que tomasse posse em nossa diocese, já ligava para a Diocese de São José dos Campos, e conversava com Irmã Maurinea, definindo a participação do bispo na TV São Caetano, onde ajudava na produção do programa apresentado pelo amigo e padrinho, Domingo Glenir Santarnecchi. E foi assim que na primeira semana após tomar posse, fui até a casa episcopal, onde peguei o bispo e o levei na emissora que ficava no Bairro Nova Gerte, em São Caetano. No banco de trás de meu carro, a Irmã Maurinea e o saudoso Padre Heitor.
Na semana de Natal saiu a primeira edição do jornal A Boa Notícia e fomos, eu e Padre Ribeiro levar os primeiros exemplares para Dom Nelson ler. Esta ação – de levar alguns exemplares para Dom Nelson -, continuei fazendo a cada edição, até a sua saída da Casa Episcopal. No início do ano seguinte, já tínhamos um programa na Eco TV, canal 9, da Net. A assessoria de imprensa ia tomando forma, na Diocese…
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Quais as dificuldades enfrentadas durante este período?
É importante que se diga que um jornalista trabalhando na Diocese não era algo useiro e costumeiro, mesmo para os anos dois mil. Lembro que no início levei alguns “chás de cadeira” de diversos sacerdotes. E tenho que confessar também que sempre vivi como um paroquiano, não tinha a compreensão de pertença a uma Diocese. Me sentir e ser de fato um diocesano foi algo que fui aprimorando aos poucos. Hoje conheço todas as paróquias. Se bem que tem algumas que até com GPS, ainda me perco. Tive a alegria de conhecer as capelas mais distantes dos grandes centros, ao acompanhar Dom Pedro em suas Visitas Pastorais.
Com o crescimento das ações da assessoria de imprensa, já não conseguia estar em todos os locais. Foi assim que contratei para me auxiliar, o excelente profissional e fervoroso católico, Thiago Silva, que por sete anos me acompanhou nesta missão.
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Qual foi a experiência de estruturar o departamento de comunicação diocesano?
Retomando a pergunta anterior, quero recordar, que durante muitos anos, a assessoria de imprensa trabalhou com o Humberto, o Domingos e o Pastore. Era comum, olhar para o lado e não ver ninguém perto. Então, quando vi anos atrás, que a assessoria ganhava contornos visíveis, com salas e maquinários, me senti aliviado e muito feliz. A vinda de Padre Tiago para o departamento foi fundamental para que isto acontecesse. Hoje o 11º andar do Edifício Santo André Apóstolo é destinado para a assessoria. E logo ali funcionará o estúdio de rádio e tv. As gravações para o site e facebook já estão sendo produzidas neste local.
Se abri esta resposta com um lamento, quero fechar este bloco com um agradecimento a ser destinado a todos agentes de cada PasCom, que sem dúvida me ajudaram imensamente. Eles aliviaram a minha solidão, e sempre que possível ajudaram nas coberturas. Hoje com uma organização mais perfeita, produzida pela coordenadora Fernanda Minichelo e o Seminarista Cauê, esta ajuda é ainda mais completa. Aplaudo de pé este belo trabalho.
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Nesse período em que esteve conosco conte nos alguma história marcante que passou com os bispos diocesanos.
Ter produzido a primeira participação de Dom Nelson no programa de TV é algo de muito valor para mim. Ter acompanhado Dom Pedro nas visitas pastorais, como disse, também foram marcantes.
Um último destaque, sem dúvida foi minha participação no final do Sínodo Diocesano, onde representei Dom Pedro nas encenações. É algo que vou carregar para sempre comigo.
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Como foi fazer parte da PasCom? Qual a importância dessa pastoral?
A Pastoral da Comunicação é tão importante que até mesmo antes dela existir, já funcionava. Isso mesmo! Na Diocese de Santo André, a Pastoral da Comunicação foi criada em 1989. Ano em que a história nos lembra que o lema da Campanha da Fraternidade era “Comunicação para a Verdade e a Paz”, que trazia ainda como objetivo geral: “Despertar a consciência crítica do receptor no uso da mídia, como atitude interior necessária para a comunicação da verdade e da paz. Queria também conscientizar os receptores sobre seu papel de agentes de influência na orientação de programas nos meios de comunicação”.
Então, vale lembrar que como citei acima, nos idos de 1975, já era produzido jornais pelos Grupos de Jovens das paróquias de São Caetano do Sul.
Por outro lado é importante relatar que o primeiro documento que norteia as ações da Pastoral da Comunicação é aquele que nasceu nas ações do Concílio Vaticano II, denominado “Inter Mirífica”, que quer dizer “Entre as maravilhas”. Diz o documento que de fato, entre as maravilhas criadas no mundo, frutos da inteligência humana, dom de Deus, estão os meios de comunicação social.
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Conte nos uma história inesquecível nesses anos que esteve como jornalista da Diocese de Santo André.
Vou me ater somente em duas situações. A primeira é poder chegar na capela da paróquia mais distante, situada na periferia mais deslocada dos grandes centros, e lá ser acolhido com a alegria que o cristão sabe fazer tão bem. É dizer: sou o Humberto Pastore, assessor de imprensa da Diocese, e as pessoas abrirem um sorriso enorme, e querer te abraçar. Isso não tem preço. Afinal é o reconhecimento de que você está fazendo um serviço bem feito. É como receber um diploma que comprova o acerto de suas ações. Sempre serei grato a todos pelo carinho que tenho recebido.
A outra situação que quero narrar é o sentimento que brotou no meu ser quando fui representar a Diocese de Santo André no Congresso de Assessorias de Imprensa, em Brasília. Foram três dias de trabalhos, além da visita a sede da CNBB. Naqueles dias, ganhei definitivamente a certeza de que pertencia à Diocese de Santo André. Foi algo que me deu uma imensa alegria. Me senti muito honrado por expor o trabalho que aqui é realizado.
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Nessa longa jornada você pode ensinar muita gente, conte nos um pouco como é ver seu trabalho voando alto?
Eu tenho como ação de vida, que toda pessoa que chega até a mim, deve sair melhor do que quando chegou. Então procuro ajudar com a melhor resposta, dando a devida atenção. É algo que sempre fiz, e que sempre vou fazer.
Quando no mês passado divulguei no meu perfil que tinha decidido encerrar minha missão como assessor de imprensa da diocese, me assustei com o elevado número de pessoas que agradeciam minha ajuda. E chorei. Chorei muito. Era até difícil continuar lendo com os olhos tão umedecidos.
Hoje vejo o departamento fervilhando, produzindo sem parar, e meu coração se alegra. A semente caiu em chão fértil. Que bom! Só vem reforçar minha certeza de que estou saindo na hora certa.
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Deixe nos uma mensagem de como podemos continuar a evoluir na comunicação?
Esta pergunta foi a que mais me fez pensar ao dar a resposta. É que a princípio pode-se pensar que não tem nada a ver com a ação do departamento de comunicação da diocese. Mas no fundo tem e muita relação. Explico: Durante três anos fui professor de Pastoral da Comunicação dos seminaristas da Casa Propedêutica que fica na Paróquia Santa Maria Goretti na Região Santo André Utinga. Ali dizia para os alunos que minha maior missão era fazer com que despertasse em cada um deles o sentimento carinhoso para com a PasCom, pois assim, ao se tornarem sacerdotes iriam sempre ter um olhar especial para esta pastoral que tem como ação fundamental auxiliar e divulgar as demais pastorais. É uma pastoral de serviço de fato. E com imensa alegria vejo que anos depois, quando se aproxima a data de suas ordenações, estes meus antigos alunos definitivamente amam a PasCom, ou seja, em suas paróquias sempre vai existir uma pastoral da comunicação vibrante.
Fica então este meu desejo. Que estas aulas voltem a acontecer. Que os propedeutas recebam a orientação de como é importante a ação de uma pascom dentro da paróquia. Simples assim!