Com a palestra “Um olhar realista sobre o Pacto Global das Migrações da ONU”, a Pastoral do Migrante da Diocese de Santo André promoveu na manhã de sábado (30/03), o Encontro Formativo para agentes e interessados em conhecer o trabalho do grupo. A atividade foi realizada na Casa de Apoio ao Migrante, em Utinga, na cidade andreense.
Dividida em duas partes, a exposição teve como foco a realidade dos fluxos migratórios no Brasil e a apresentação dos objetivos do Pacto Global da ONU (Organização das Nações Unidas) para as Migrações em 23 pontos, endossados oficialmente em Assembleia Geral das Nações Unidas, no dia 19 de dezembro de 2018. “Destaco três pontos essenciais como a garantia dos direitos, fazer conhecer também a realidade local e se inserir, ou seja, acolher aquele que vem de outro lugar, e a oferta de um trabalho formal e digno, sem explorações”, enfatiza Pe. Paolo Parise, que coordena a Missão Paz, entidade que auxilia imigrantes na cidade de São Paulo.
O palestrante citou a interação com quase cinquenta participantes, que enriqueceram a atividade ao falarem das experiências próprias e os desafios para se colocar em prática os pontos elencados pelo documento da ONU.
Alguns tópicos dependem do governo, por meio de políticas públicas. Outros através de tratados internacionais. Mais de 160 países aprovaram o Pacto Global para uma Migração Segura, Ordenada e Regular da ONU, que estabelece diretrizes para o acolhimento aos imigrantes. Assim como os Estados Unidos, o Brasil se retirou do acordo no início deste ano.
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Promoção humana
O bispo diocesano, Dom Pedro Carlos Cipollini realizou a abertura dos trabalhos destacando a importância do serviço pastoral em prol dos migrantes na região. “A nossa Igreja fica muito alegre de contar com essa pastoral. A nossa Diocese tem uma longa tradição de pastoral social, de uma Igreja que evangeliza sem esquecer a promoção humana”, enfatiza, ao relembrar a exortação apostólica ‘Evangelii Nuntiandi’, do Papa Paulo VI, em 1975, que dizia que a evangelização tem que ser acompanhada pela promoção humana, ou seja, reforçar a fé e o mandamento do amor na esperança de uma vida nova.
“Quando cheguei aqui no ABC fiquei contente que os padres scalabrinianos, com esse carisma de trabalhar como missionários, trabalhavam firme pela acolhida e apoio aos migrantes. Tive a ideia de conversar com o superior provincial dos padres carlistas para que o padre Jean Dickson, que estava em Ribeirão Pires, contribuísse com o trabalho na criação desta Casa”, recorda.
Finalizando a reflexão, Dom Pedro mencionou o exemplo do apóstolo São Paulo, que cita inúmeros agradecimentos no capítulo 16 da Carta aos Coríntios, como inspiração para conquistar colaboradores para a obra. “Não desanimem diante das dificuldades. O cristão para levar o evangelho ao mundo tem que sempre contar com os obstáculos. Até parece que as adversidades impulsionam nossa fé. Deus nos ensina a superar as dificuldades. Ele não tira a pedra do caminho, mas nos ensina a passar por cima dela”, sintetiza.
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Calejado pela luta
A história do professor venezuelano Román Fidel Caballero Colvo, 37 anos, se identifica com a de muitos migrantes e conterrâneos que chegaram ao país brasileiro nos últimos anos, refugiados por perseguição social, política ou religiosa.
Román e o irmão, o também professor Leonardo Caballero Colvo, desembarcaram no Brasil, em plena campanha eleitoral de 2018. A família ainda vive em terras venezuelanas. “Vivenciamos uma certa tensão, porque percebemos que a eleição estava acirrada”, relembra. Mas nada se compara a recorrente crise política e social na Venezuela. “Existe perseguição política e a situação é muito grave no país, fruto de intolerância e de muitos que se enriqueceram com o petróleo, não somente na Venezuela. Nos encontramos com muitos venezuelanos na fronteira e aqui em São Paulo, na busca de viver com dignidade e trabalhar com respeito”, afirma Román, ao confidenciar que, infelizmente, sofreu exploração na primeira atividade profissional realizada no Brasil. “Não pagar corretamente e exercer múltiplas funções”. No entanto, Román agradece a receptividade dos brasileiros e espera que o aprendizado desta formação sirva de inspiração para os migrantes. “Somos agradecidos porque aqui é onde fomos acolhidos bem pelo povo”.
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Formar corações e mentes
Anualmente, a Pastoral do Migrante realiza duas atividades de formação. O movimento está presente em apenas três paróquias do Grande ABC: as igrejas matrizes de Santo André, São Bernardo e Ribeirão Pires.
Para o assessor diocesano, Pe.Jean Dickson, a meta é propagar o trabalho realizado pelo grupo nas dez regiões pastorais da diocese, como forma de incentivar a criação da pastoral nas paróquias: “Tomara que haja interesse para implementação deste trabalho em outros espaços de fé na região. Nossa diocese é feita pelos migrantes. O tema das migrações é muito importante nos dias de hoje e como o bispo disse, se faz necessária a evangelização do próximo que precisa da caridade pastoral. Fazemos o trabalho de Jesus, que é conquistar corações e formar mentes para atuar na messe Dele”, avalia.
A coordenadora diocesana Maria da Conceição, a Marisinha, ressaltou a importância das formações para leigos e leigas: “Esse tipo de encontro também serve para desmistificar a ideia de que o migrante vem para atrapalhar e tirar o emprego do outro. Ele vem para acrescentar e somar forças por uma sociedade mais justa. Daí a necessidade de realizar uma ação concreta em prol dos migrantes, com orientação e diálogo”, elucida.
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Doações
Inaugurada em dezembro de 2016, a primeira Casa de Apoio ao Migrante na Diocese de Santo André acolhe os imigrantes radicados, muitos deles haitianos, na cidade andreense e demais municípios do ABC.
Nova documentação, aulas de língua portuguesa, computadores para conversar com familiares e inscrição em programa de recolocação no mercado de trabalho são alguns dos serviços oferecidos no local.
É um sonho realizado pelos missionários scalabrinianos, que atuam na administração de três matrizes da região: Santo André, São Bernardo do Campo e Ribeirão Pires.
Quem quiser doar materiais escolares, livros e principalmente dicionários de língua estrangeira (inglês, espanhol e francês), pode levar pessoalmente na sede localizada na Rua Montevidéu, 71 – Utinga – Santo André. Mais informações sobre como participar da Formação e da Pastoral do Migrante pelo e-mail: pastoraldomigrante@diocesesa.org.br ou pelo telefone: 99677-9648 (falar com Maria da Conceição).