Diocese de Santo André

Mães entregam seus filhos para serem pastores de Deus

A manhã de céu azul do dia 8 de agosto foi perfeita para a festa na Igreja Católica do Grande ABC. Sob os olhares de centenas de fiéis, que tomaram a Catedral Nossa Senhora do Carmo, em Santo André, os até então diáconos transitórios, Jackson Henrique da Silva e Miguel Frutuoso de Souza Filho, foram ordenados presbíteros pelas mãos do bispo da Diocese de Santo André, Dom Pedro Carlos Cipollini. O bispo emérito, Dom Nelson Westrupp, scj, e sacerdotes da Diocese concelebraram a Santa Missa.

Misturada à emoção das lágrimas, a felicidade ocupou todo o espaço da Catedral, principalmente porque muitos que lá estavam conheciam a história de ambos para chegarem ao momento “indescritível”, como definiu Pe. Miguel. E quem conhece melhor estas histórias de luta são as mães dos sacerdotes, que educaram os filhos nos caminhos de Deus – os pais de ambos são falecidos.

Irradiantes, elas falavam com o orgulho de entregarem seus filhos para serem o sinal de Cristo para o povo de Deus. “Estamos em festa desde o dia 6 de dezembro, quando ele se formou na (curso) teologia. Ele sempre foi muito perseverante e de Igreja. É um menino batalhador”, disse Maria Ernestina da Silva, 66, mãe do Pe. Jackson. “Sempre teve vontade de se tornar padre, até que teve um sonho sendo ordenado. Daí ele disse: ‘Vou trabalhar para Jesus Cristo’”, completou.

Ela também recordou que a caminhada teve seus percalços. “Somos uma família muito pobre. Ele teve muita ajuda de parentes e amigos quando começou. Porém, Deus foi maravilhoso. Quando meu filho quis, as portas se abriram”, contou a mãe. “Quando Jackson era menino, ele ficava olhando para o céu de maneira especial. Agora entendemos o motivo”, disse. Inclusive ressaltou o carinho que ele tem pela família. “Eu ia vender roupa na rua e ele me acompanhava. Depois, já no seminário, quando me visitava, conversava comigo direto, me seguia aonde eu fosse”, revelou a mãe.

Pe. Jackson corroborou as palavras maternas. “Sempre fui muito próximo da minha mãe. É um carinho que tenho por ela e também pela minha família”, destacou o sacerdote, que comentou sobre suas dificuldades. “Foi uma caminhada um pouco diferente porque tive dificuldades. Tem um sabor diferente. É um sentimento muito forte porque a caminhada não foi fácil”, explicou o sacerdote.

Esporte para evangelizar

Se um por um lado a caminhada de Pe. Jackson foi complicada, a do Pe. Miguel demorou um pouco para começar, mas nada que o atrapalhasse chegar ao sacerdócio. Ele entrou no seminário com 41 anos e foi ordenado com 50. “Na época em que ele resolveu entrar, apoiamos totalmente. Só demos graças a Deus”, lembrou a mãe do sacerdote, Ana Lourdes de Souza, 79.

De família bastante católica, o padre recorda que ficou um pouco afastado da Igreja, voltando a frequentar assiduamente aos 33 anos, em grupos de oração. Somente depois, disse seu sim ao chamado da vocação sacerdotal. “Tudo valeu a pena. Não consigo expressar o que estou vivendo agora. Sem palavras”, disse o padre. “Todo aquele que termina (é ordenado) se torna incentivo para outro. Sempre vão chegar, uns com mais e outros com menos dificuldades”, disse.

Uma de suas características do padre é o gosto pela prática do esporte, como revelou sua mãe Ana Lourdes de Souza, 79, mãe do Pe. Miguel. “Ele amava esportes, jogava vôlei, handebol, disputava caratê. Sempre foi atleta”, contou a mãe.

Pe. Miguel não faz plano, mas espera que o período em que praticava esportes possa ajudá-lo como pastor. “Pode dar uma bagagem boa para uma dinâmica com os jovens e até com os mais velhos, que hoje buscam com o esporte, ter uma vida mais saudável”, disse.

Ao fim da Santa Missa, Dom Pedro chamou as duas mães para homenageá-las, ressaltando que elas estavam entregando seus maiores tesouros, os filhos, para pastorear o povo de Deus.

Chamado

Em sua homilia, Dom Pedro destacou que Jesus é o responsável pela vocação sacerdotal. “Deus chama misteriosamente. Muitas vezes os dois (Miguel e Jackson) devem ter perguntado ‘por que eu?’ Muitos jovens são chamados, mas ficam com medo. É Ele quem chama. Não se tem o acesso ao sacerdócio, diz o Papa Francisco, trata-se de uma iniciativa de Deus. É Deus quem chama cada um. Os padres que estão aqui, Deus olhou e os chamou misteriosamente. É Deus que chama, é Deus quem escolhe”, ressaltou o bispo.

Dom Pedro ainda pediu que os novos padres sempre atuem com amor em seus sacerdócios. “O sacerdote é chamado a ser pastor do povo de Deus. Pastorear o rebanho de Jesus. O padre pastoreia não com sua força, mas com a força e poder do Espírito Santo. O padre fala em nome de Jesus, não em causa própria”, explicou. “O primeiro olhar de Deus não era para os pecados das pessoas, mas para os sofrimentos. Nunca devemos aumentar o sofrimento das pessoas, mas ajudar a curar. Louvo a Deus porque vocês perseveraram. Que Deus dê a graça necessária para ser um bom padre. A quem muito foi dado, muito será pedido”, destacou Dom Pedro.

2ª Parte

Com esta celebração se completa a segunda parte – assim como os novos sacerdotes gostam de dizer. A primeira foi em 18 de julho com a ordenação de Everton Gonçalves Costa e Guilherme de Melo Sanches – os quatro formaram uma grande amizade no seminário, o que foi demonstrado nas duas celebrações.

Funções

Dom Pedro anunciou que Pe. Jackson será o novo vigário paroquial da Paróquia Nossa Senhora Aparecida, do bairro Alves Dias, em São Bernardo do Campo, enquanto Pe. Miguel exercerá a mesma função na Paróquia Nossa Senhora dos Navegantes, em Diadema.

Os novos sacerdotes escolheram como lema as seguintes passagens bíblicas. Pe. Jackson: “Eu vivo, mas não eu: É Cristo quem vive em mim” (Gl 2,20a); Pe. Miguel: “A alegria do Senhor é a vossa força” (Ne 8,10).

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