Diocese de Santo André

65 anos de história: Dom Claudio Hummes, OFM

Dando continuidade aos artigos em comemoração aos 65 anos de história diocesana, vamos relembrar o legado de nosso segundo bispo diocesano, Dom Cláudio Hummes. Dom Cláudio Hummes nasceu em Picada Batinga, Município de Montenegro, Rio Grande do Sul, aos 08 de agosto de 1934 e recebeu o nome de Auri Afonso Frank Hummes, filho de Pedro Adão Hummes e Maria Frank Hummes, criou-se em Salvador do Sul (RS) e dos 14 irmãos é o primogênito dos filhos homens.

Estudou na Escola Paroquial Santo André, Taquari (RS) onde concluiu o 1º grau (1944-1949), fez o 2º grau (1950-1951) e o Postulantado.  Ingressou na Ordem dos Frades Menores (franciscanos) em 1º de fevereiro de 1952 na cidade de Garibaldi (RS), onde emitiu os primeiros votos no dia 2 de fevereiro de 1953 e professou solenemente no dia 2 de fevereiro de 1956, foi então quando mudou seu nome para “Cláudio”. Fez o Noviciado e Cursou Filosofia no Convento Franciscano São Boaventura de Daltro Filho, Garibaldi (RS) entre 1953 e 1954. Cursou Teologia em Divinópolis (MG) entre 1955 e 1958. Foi ordenado sacerdote por Dom João Resende Costa, arcebispo de Belo Horizonte (MG), aos 3 de agosto de 1958 em Divinópolis.

Em 1959 matriculou-se no Pontifício Ateneu Antoniano, em Roma, onde se doutorou em Filosofia. De volta ao Brasil, em 1963, começou a lecionar Filosofia no Centro Filosófico dos Padres Franciscanos em Daltro Filho, Garibaldi, ministério que exerceu até 1968. Durante todos esses anos (1963-1968) foi vigário cooperador paroquial em Daltro Filho, Garibaldi.

De 1965 a 1968 foi subsecretário nacional de ecumenismo da CNBB, a qual o destinou em 1968 a cursar o Instituto Ecumênico do Conselho Mundial de Igrejas, em Genebra, por um semestre extraordinário.

Foi formador dos estudantes de Filosofia dos Franciscanos (1969 -1972), Diretor da Faculdade de Filosofia de Viamão (RS) e professor de Filosofia nesta Faculdade e na PUC de Porto Alegre (1969-1972), Presidente da União das Conferências Latino-americanas dos Franciscanos (1973-1974) e Superior Provincial dos Franciscanos do Rio Grande do Sul (1972-1975).

Aos 22 de março de 1975, Frei Cláudio Hummes foi eleito, por Sua Santidade, o Papa Paulo VI, para o ministério episcopal, recebendo a nomeação de Bispo titular da extinta diocese de Carcábia e ao mesmo tempo Bispo Coadjutor da Diocese de Santo André, com direito à sucessão. Sua ordenação episcopal se realizou aos 25 de maio de 1975, na Catedral Metropolitana de Porto Alegre, sendo Ordenante Principal Dom Aloísio Lorscheider, Arcebispo de Fortaleza e Presidente da CNBB, e Ordenantes Auxiliares Dom Mauro Gomes Morelli, Bispo Auxiliar de São Paulo, e Dom Urbano José Allgayer, Bispo Auxiliar de Porto Alegre, diante de demais Bispos presentes. Seu lema episcopal é tirado das Sagradas Escrituras (Mt 23,8): “Vós sois todos irmãos”, lema vivido na simplicidade de um bispo franciscano.

Dom Cláudio assumiu a Diocese de Santo André em 29 de dezembro de 1975 no mesmo dia que Dom Jorge havia renunciado. Nos 21 anos à frente da Diocese deu continuidade a atuação de seu antecessor, Dom Jorge Marcos de Oliveira, e acompanhou o desenvolvimento histórico das lutas trabalhistas feitas principalmente pelos trabalhadores metalúrgicos, organizados nos sindicatos.

Mostrou-se um homem bem situado diante do momento histórico, não se furtando a participar do desenrolar das atividades que, de maneira especial, sacudiram o Grande ABC nos anos de 1978 a 1981.

Nos arquivos da Cúria Diocesana encontra-se um documento no qual Dom Cláudio registra: “Meus passos no engajamento junto aos operários” (que aqui reproduzo, respeitando a ordem apresentada no documento original):

  • Agosto de 1976 saiu a mensagem de Dom Cláudio e padres: “É tempo de Política”.
  • 8 de abril de 1976 na homilia do aniversário da cidade de Santo André coloquei o problema dos operários, salários baixos, inflação, alto custo de vida e falta de transporte.
  • 1º de maio de 1976 – pequena mensagem aos trabalhadores, tocando nos problemas dos salários baixos, declarando solidariedade, promoção da justiça social e defesa dos Direitos Humanos.
  • Em março de 1977 foi publicada a mensagem: “Aos trabalhadores do ABC”.
  • 29 de agosto de 1978 os metalúrgicos de Santo André fazem uma vigília na catedral pelos operários presos do ABC e SP: foram presos dia 23 de agosto 3 operários no ABC e 19 em SP.
  • 24 e 25 de maio de 1978 manifestos de apoio à greve dos metalúrgicos, da parte da PO e do bispo.
  • 1979 fui à assembleia dos grevistas metalúrgicos de Santo André no 2º dia de greve; dias depois na dos metalúrgicos grevistas de São Bernardo
  • Em 1979 houve a intervenção nos sindicatos e estive na “negociação” com o ministro do Trabalho (com o Vice-presidente da CNBB) para defender os direitos dos grevistas e não para propriamente negociar.
  • Em 1979 fiz parte da Comissão de Negociação dos Metalúrgicos, estando do lado dos operários na mesa de negociação e não como mediador.
  • 1980 famosa greve de 42 dias em que a Igreja esteve dentro até o fim, com o famoso 1º de maio
  • Ainda em 1979 houve a grande Missa de 1º de Maio na praça da prefeitura de São Bernardo, com Vinicius de Moraes, Lula e Tito Costa.”

 

Dom Cláudio foi presença marcante como pastor da Igreja do ABC não somente junto ao movimento operário, mas solícito a todas carências e dificuldades do povo. Apoiou as lutas por moradia, denunciou com veemência as desocupações, foi solidário às reivindicações por melhor atendimento no setor de saúde, transporte e educação.

Em 1996 escreveu uma nota e enviou para ser lida em todas as paróquias nas missas de domingo na qual denunciava: “…Estamos todos chocados com a inteira história, que terminou com o despejo de quase duas mil famílias no Jardim Alzira Franco, em Santo André. Fui pessoalmente visitar as famílias agora acampadas na igreja de São José. …Não podemos deixar de nos unir à sociedade civil que cobra das autoridades municipais, atuais e imediatamente anteriores, uma responsabilidade específica e fundamental nesta história, rejeitando toda manipulação política e eleitoreira dos pobres. Apoiamos o povo na sua luta justa por moradia digna. Morar decentemente faz parte da cidadania. É claro que a luta pela solução deste e dos demais graves problemas sociais deve ser sempre uma luta sem violência, democrática, dentro dos parâmetros de um Estado de direito. Trata-se, porém de uma luta justa, legítima e urgente.”

Nunca se descuidou da vida da Igreja e, com sua capacidade de análise profunda da realidade, com seu vasto conhecimento histórico da Igreja e adesão ao Papa, motivou o clero e os fiéis a se organizarem nas diversas pastorais e nos diversos serviços da Igreja presentes na Diocese de Santo André. Junto às Comunidades Eclesiais de Base e pastorais sociais reafirmou sempre que a opção pelo pobre é evangélica, que devemos nos questionar sempre sobre o que Jesus faria se estivesse em nosso lugar. Este é, assim o considero, seu maior legado.

E nesta visão de fé inquestionável mostrava claramente que a Igreja de Jesus Cristo deve estar sempre ao lado do povo empobrecido na busca de justiça e na organização para conseguir condições de vida digna.

Com sua liderança soube envolver várias forças atuantes que cresceram na consciência da busca da Justiça Social. Todos tiveram que ouvir a voz do Pastor que não falava da cátedra, mas se envolvia diretamente nas questões sociais.

Sua presença junto ao povo das periferias o fez conhecedor das dificuldades que o atingia. Como pastor e homem de Igreja procurou despertar em todos a responsabilidade missionária. Surgiram centenas de Comunidades nas periferias. Buscou realizar Projetos Missionários como, por exemplo, com a Diocese de Ímola, na Itália, com a Diocese de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul e com o Instituto Espanhol de Missões Estrangeiras (IEME). Suas preocupações missionárias iam além das fronteiras de sua Diocese. Preocupava-se com as carências religiosas de outras áreas do Brasil, destacando a Amazônia. Realiza o Projeto Missionário de Igreja Irmãs Diocese de Santo André e Diocese de Santarém no Pará.

O povo precisa de bons pastores” … com essa preocupação, tem um cuidado muito especial com a formação dos futuros padres. Em uma época em que se levantava a questão da crise vocacional, não teve dúvidas em recomeçar e incentivar a Pastoral Vocacional na Diocese e projetar a criação de um Seminário. Levantando as linhas mestras da formação presbiteral, amadureceu seu projeto de formação dando as condições necessárias para que se desenvolvesse. Construiu as duas casas de formação: Casa dos Filósofos e Casa dos Teólogos que formam o Seminário da Diocese de Santo André.

O trabalho leigo sempre foi muito valorizado por Dom Cláudio. Confiou paróquias e comunidades a religiosas e leigos, especialmente preparados para isso. Incentivou a atribuição de ministérios, pelos quais os leigos passam a exercer funções importantes na vida paroquial, tanto na linha de evangelização como na preparação para receber os sacramentos. Preocupado com a necessidade de formar o laicato, no ano de 1992, organizou um curso de evangelização por correspondência onde ele ministrou aulas da Doutrina Social da Igreja para mais de 500 leigos; fundou, em 1993, o Instituto de Teologia para Leigos com carga curricular de uma Faculdade de Teologia cujo curso tinha a duração de cinco anos.

A visita pastoral às paróquias lhe possibilitava um contato direto com o povo, o que lhe permitia sentir, bem de perto, os seus problemas e as suas necessidades, sejam no plano espiritual, humano ou socioeconômico. Na condução pastoral da Diocese sempre teve uma preocupação de que os planos de pastoral não significassem apenas um instrumento burocrático de trabalho, mas que fossem realmente uma expressão dos anseios e projetos do povo, uma elaboração provinda do povo para o povo. Para isso, eram realizadas pesquisas entre o povo de todas as paróquias e assembleias paroquiais preparando a assembleia diocesana. Durante os anos que esteve à frente da Diocese, tivemos quatro planos de pastoral. A grande meta de todos eles foi a Evangelização, isto é, fazer com que o povo se conscientizasse de que a mensagem de Cristo só pode assumir seu verdadeiro significado quando encarnada na vida real, no dia a dia de cada um.

Na riqueza de sua atuação pastoral na Diocese de Santo André, chama a atenção na pessoa de Dom Cláudio seu amor pela Igreja, pelo Papa e sua postura de homem que tem da História uma visão dinâmica, atualizada e engajada, dando-nos a entender que o Espírito de Deus atua na História da humanidade, mas seu grande legado, sem dúvida, como bom filho de São Francisco de Assis, foi seu efetivo amor aos mais pobres, aos injustiçados, procurando ser junto ao seu povo a presença de Jesus, o bom Pastor.

Este legado de Dom Cláudio, amor evangélico aos pobres, ultrapassou o território de nossa Diocese e se tornou um legado para a Igreja no mundo em dois acontecimentos:  quando no conclave de 2013, logo após se constatar a eleição do Papa Francisco, Dom Cláudio o abraçou e disse: “não esqueças dos pobres” (fato narrado pelo próprio Papa) e quando se tornou emérito aceitou a presidência da Comissão Episcopal para a Amazônia que lhe foi oferecida pela CNBB, criou a Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM) e, às vésperas de seus 85 anos, com ardor missionário defende os direitos dos indígenas e dos povos ribeirinhos, que devem ser preservados, e trabalha na preparação e execução do Sínodo dos Bispos para a Amazônia, que será realizado em Roma de 06 a 27 de outubro e do qual foi nomeado Relator Geral pelo Papa Francisco.

 

Artigo desenvolvido por Irmã Wilma Carvalho

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