Diocese de Santo André

Pe. Rubens: o eterno legado pela democracia e justiça social

Não seria um adeus, mas um até breve. Aliás, nem uma despedida, pois sua presença continuará marcante para sempre. Assim pode ser resumido o sentimento de cerca de 400 pessoas que lotaram na manhã de domingo (27/10), a Paróquia Nossa Senhora das Dores, na Vila Palmares, na cidade de Santo André, a fim de prestarem homenagens e o devido reconhecimento ao fundador da comunidade, Pe. Emílio Rubens Chasseraux, que faleceu aos 80 anos na manhã do último sábado (26/10), em Santo André.

A Missa de Corpo Presente foi presidida pelo bispo diocesano Dom Pedro Carlos Cipollini, concelebrada pelo vigário geral Pe. Ademir Santos de Oliveira, e pelos padres Jackson Henrique da Silva (atual administrador da Paróquia Nossa Senhora das Dores), Roberto Alves Marangon (pároco da Bom Jesus de Piraporinha – Diadema), Fernando Valladares (pároco da Nossa Senhora Aparecida – São Bernardo), Camilo Gonçalves de Lima (secretário episcopal) e o diácono Franco Chippari. Compareceram também familiares do Pe. Rubens, além do prefeito de Santo André, Paulo Serra, o vice-prefeito Luiz Zacarias, e o presidente da Câmara Municipal, Pedrinho Botaro.

Logo após, o cortejo seguiu para o Cemitério Cristo Redentor, na Vila Pires, na cidade andreense, onde ocorreu o sepultamento. A missa de sétimo dia será na próxima sexta-feira (1º/11), às 19h30, na Paróquia Nossa Senhora das Dores (Rua Mamede Rocha, 318 – Vila Palmares, Santo André). Numa bela homilia, Dom Pedro explanou sobre o evangelho do dia e um importante relato sobre a trajetória do Pe. Rubens, que havia completado 55 anos de sacerdócio no dia 29 de junho de 2019.
Confira alguns trechos da homilia:

Palavras do coração
“Pe. Rubens falou aos corações e as palavras que ficam são essas, que se falam ao coração. Por isso que talvez se tivéssemos que recordar uma frase bonita é aquela de São Francisco: ‘cessem, portanto, as palavras, falem as obras’. Porque na vida do Pe. Rubens foi isso que ele fez. As obras que a partir da sua fé, obras de caridade, a partir do seu empenho de humanização, as obras de promoção humana.”.

Conselhos
“Certa vez, numa das visitas que fiz a ele, pedi um conselho para Pe. Rubens. E ele me disse: carregue sua cruz com alegria. Foi um grande conselho. Então, nós queremos bendizer a vida dele. Como diz a primeira leitura, que os justos que seguem a sua consciência e os mandamentos de Deus descobrirão a verdade, o segredo da vida, e o amor de Deus que preenche toda a terra.”

Opção pelos pobres
“O Pe. Rubens foi sim, não só um justo, mas um sacerdote a serviço do Reino de Deus, pois a própria igreja está a serviço. Ele pôs em primeiro lugar o Reino, no sentido de promover a Boa Nova e não podia ser diferente de Jesus. Ele foi perseguido, mas foi ouvido. Um grito de alerta em favor dos pobres, com toda aquela preocupação social. E nós, o que faremos em favor dos pobres? Pe. Rubens deu exemplo luminoso de opção clara para estar no meio dos pobres.”


Depoimentos e testemunhos
Colega de Pe. Rubens desde os tempos de seminário, no início da década de 1960, Marcos Padovani, 71 anos, resume brevemente o carisma e atuação do sacerdote muito além do espaço físico da igreja. “Acompanhei todo o trabalho dele na Vila Palmares, como já foi muito dito por aqui. Era barraco, uma extrema pobreza, bairro operário em formação. E eu tive a oportunidade de começar todo esse trabalho pastoral junto com ele”, recorda.

Por sua vez, Maria do Socorro, 62 anos, diz que a família é muito grata pela generosidade com que Pe. Rubens tratava as pessoas, dando dignidade e alimento para quem tinha fome e precisava de moradia. “Ele ajudou muito os pobres. Me lembro quando a Dona Beatriz cedeu o fundo do quintal de sua casa que era um barraquinho para ele celebrar as missas. Por isso, agradeço muito ao Pe. Rubens pela formação humana de cada pessoa, principalmente deste bairro”, atesta.

Mensagens dos bispos
Dom Pedro resgatou carta de Dom Jorge Marcos de Oliveira, o primeiro bispo da Diocese de Santo André (1954-1975), endereçada ao clero e fiéis do Grande ABC, escrita no dia 1º de março de 1970, na época em que Pe. Rubens foi preso em plena ditadura militar, destacando a atuação do sacerdote em prol da justiça social.
Já Pe. Jackson leu a mensagem do bispo emérito da Diocese de Santo André, Dom Nelson Westrupp, que ressaltou: “Pe. Rubens venceu a batalha, combateu o bom combate da fé, passou pela grande tribulação, alvejou suas vestes no Sangue do Cordeiro e agora, vitorioso, é contado entre aqueles que contemplam a Face gloriosa do Pai do Céu. Já pode sorrir com aquele sorriso de quem vê a Deus face a face. Acabou para ele as limitações e as dores deste mundo”.

Biografia

Filho de Alessandre Chasseraux Junior e Altumira Oliveira Chasseraux, Pe. Emílio Rubens Chasseraux nasceu no dia 22 de junho de 1939, na Paróquia Senhor Bom Jesus do Bonfim, em Campinas, Estado de São Paulo; e foi batizado aos 02 de julho de 1930, na Paróquia do Sagrado Coração de Jesus, em sua cidade natal. Com uma família numerosa e pobre, residindo em Piratininga, Rubens ingressou, pela Arquidiocese de Botucatu, no Seminário São José, em Botucatu, Estado de São Paulo, para os estudos de Seminário Menor. Cursou Filosofia no Seminário Maior de Aparecida, em Aparecida, e Teologia no Seminário Central da Imaculada Conceição do Ipiranga, em São Paulo.

Rubens sempre foi um jovem que se preocupava com as dificuldades dos mais pobres. Em 1961, foi designado para trabalhos pastorais na recém-criada Paróquia Santa Edwiges, no Sacomã. Como seminarista, também começou a visitar a favela do Vergueiro, em São Paulo, trabalhando sobretudo em vista dos mais pobres.
Já subdiácono, foi excardinado da Arquidiocese de Botucatu aos 06 de fevereiro de 1964, sendo incardinado na Diocese de Santo André, acolhido por Dom Jorge Marcos de Oliveira, primeiro Bispo Diocesano.

Sem dizer ao bispo que não tinha onde ficar, passava o dia estudando e até assistia aulas escondidas no Seminário Central e pernoitava na Praça do Carmo, por opção pessoal, com os moradores de rua. Antes da ordenação, Dom Jorge o orientou a residir na casa paroquial da Paróquia Santa Teresinha, em Santo André, com os padres franceses. Foi ordenado presbítero no dia 29 de junho de 1964, pela imposição das mãos de Dom Jorge Marcos de Oliveira, na Catedral Diocesana Nossa Senhora do Carmo, em Santo André, tendo dois moradores de rua como padrinhos de ordenação. Celebrou a primeira missa aos 30 de junho de 1964, na mesma Igreja Catedral.

Pe. Rubens foi nomeado vice-reitor do Seminário Menor da Diocese, instalado em São Bernardo do Campo, e também Vigário Coadjutor da Paróquia São Judas Tadeu, no Bairro Campestre, em Santo André. Abandonou os dois ofícios para residir, desde 1964, na favela de Vila Palmares, na recém-criada Paróquia Nossa Senhora das Dores, dormindo ao lado de um lixão como morador de rua. Pe. Rubens, além de construir a atual Igreja Matriz Nossa Senhora das Dores e sua casa paroquial, fundou uma escola de alfabetização, creche para atender as necessidades de Vila Palmares e a Associação Quilombo dos Palmares, dentre outras obras sociais. Estava inserido nos movimentos populares, organização de amigos de bairro e militância de grupos de fé e política. Foi perseguido e torturado pela ditadura militar no ABC Paulista, sendo inclusive preso algumas vezes entre 1968 e 1970.

Na Diocese de Santo André, além de Pároco da Paróquia Nossa Senhora das Dores por 46 anos (1964-2010); foi também Coordenador Regional (Região Santo André – Centro), em 1977; Administrador Paroquial das Paróquias na cidade de Santo André: Nossa Senhora de Fátima (1999-2000); Santa Rita de Cássia (1999-2003); Jesus Bom Pastor (2002).

Aos 17 de fevereiro de 2010, Dom Nelson Westrupp, scj, Bispo Diocesano de Santo André na época, aceitou a sua renúncia de ofício eclesiástico e se tornou “emérito”.

Pe. Emílio Rubens Chasseraux partiu para a Casa do Pai no dia 26 de outubro de 2019, aos 80 anos de idade.

Compartilhe:

nomeacoes

Nomeações – 01/01/2025

Paróquia Santo Antônio é dedicada a Deus

Diocese de Santo André inicia Jubileu Ordinário com celebração e peregrinação

De onde vem a paz?

Missa do Dia de Natal reafirma o convite à alegria e fé em Jesus Cristo

Homilia da Noite de Natal

Na Noite de Natal, Dom Pedro destaca a pobreza e humildade do Menino que salva o mundo

Jubileu de Ouro: 50 anos da Paróquia Santo Antônio celebrados com gratidão

nomeacoes

Decretos e provisões – 21/12/2024

Diocese de Santo André celebra a ordenação de seis seminaristas ao diaconato transitório