SOLENIDADE DE CORPUS CHRISTI
19/06/2025 – Leituras: Gn 14,18 – 20; 1Cor 11,23-26; Lc 9,11-17
Homilia – Dom Pedro Carlos Cipollini – Bispo de Santo André
Caros irmãos e irmãs. Hoje celebramos a solenidade do Corpo e Sangue do Senhor Jesus que nos é entregue por amor. A Eucaristia faz, reúne e une a Igreja; e a Igreja faz a Eucaristia, dom total de amor divino: “tendo nos amado amou-nos até o fim”. A Eucaristia é o coração palpitante que dá vida ao corpo místico de Cristo, a sua Igreja. É escola de caridade e solidariedade.
No dia de hoje, a Igreja revive o mistério da quinta-feira santa, porém, à luz da ressurreição. Também na quinta-feira santa se realiza uma procissão eucarística no final da celebração, na qual acompanhamos Jesus do Cenáculo onde instituiu o Sacramento da Eucaristia, até o Horto das Oliveiras. Naquela noite Jesus foi entregue nas mãos dos malfeitores após ser traído. Ele se entregou por amor e assim vence a noite, passando pela morte. Cruzando as portas da morte, ele ressuscita e se converte em pão vivo: alimento inesgotável ao longo dos séculos.
Na solenidade do dia de hoje, nós retomamos a procissão da quinta-feira da paixão do Senhor, mas, porém, na perspectiva da ressureição: o Senhor Jesus ressuscitou e caminha conosco, alimentando-nos ao longo dos éculos. Na procissão da quinta-feira santa acompanhamos Jesus na solidão de sua paixão, na procissão de hoje o acompanhamos, seguindo-o. Ressuscitado Ele vai à nossa frente, acompanha-nos até os confins do mundo na missão de levar a alegria do Evangelho a todos.
Levamos Jesus na Eucaristia pelas ruas de nossas cidades. Consagramos a Ele nossa cidade, as casas e todos os locais onde se vive na cidade: que nossa vida de cada dia com seus sofrimentos e alegrias sejam impregnadas de sua presença. Colocamos assim diante de Jesus o sofrimento dos doentes, a ansiedade dos jovens, a esperança das crianças e a tristezas dos idosos, as tentações, os medos e angústias de todos em cada dia. A procissão, a benção do Santíssimo e esta celebração Eucarística, quer ser uma grande benção pública de Jesus Eucarístico para nossa cidade pois Ele mesmo, Jesus Cristo é uma benção para toda a humanidade.
Daqui de nossa Catedral, quero bendizer a Deus porque estamos unidos como Diocese, em inúmeras celebrações que se realizam em nossas cidades. Bendigo a Deus pelo fervor eucarístico de nosso povo fiel, dos padres e diáconos, dos inúmeros ministros extraordinários da distribuição da sagrada Comunhão Eucarística, pelo esforço em solenizar este dia como festa da Eucaristia, da comunhão e unidade, que temos em Cristo, pão da vida. Manifestamos assim o que somos: povo reunido na presença de Jesus Cristo, nosso único salvador, somos um, com Ele e Nele.
Na Eucaristia Jesus está presente em corpo, sangue, alma e divindade. Ele está presente caminhando conosco pelas estradas da vida. Por isso, hoje, nesta festa da gratidão, nos ajoelhamos diante dele para agradecer e adorar. Adorar o Corpo de Cristo é acreditar que neste pão se encontra realmente a Jesus Cristo, o filho de Deus que dá sentido à nossa vida e ao universo todo, à criatura “mais pequena” e à história humana.
Hoje, agradecemos a Jesus porque se doa a nós totalmente para que aprendamos a amar e servir, doando nossa vida por amor assim como Ele fez. Alimentando-nos dele, é Ele que nos transformará Nele, e não é nosso corpo que o assimilará, como fazemos com os alimentos. É este alimento divino que nos transforma nele. Que maravilha fez por nós o Senhor, agradeçamos e adoremos Jesus na Eucaristia.
A Eucaristia faz de uma comunidade humana um “mistério de comunhão”, capaz de levar Deus ao mundo e o mundo para Deus. Quem se alimenta do corpo e sangue de Cristo não pode ficar indiferente diante das divisões, injustiças e sofrimentos que assolam o mundo. Pois este pão é aquele que veio para que todos tenham vida e vida plenamente.
Por isso, neste dia nos é apresentado o Evangelho da multiplicação dos pães. Num lugar deserto, Jesus acolhe a multidão, cura seus males e ensina-lhes a Palavra. Sacia os corpos famintos, dando-lhes o pão e ao mesmo tempo, Ele mesmo torna-se pão da vida, que alimenta a vida espiritual do povo de Deus.
Não havia alimento para o povo. Para os discípulos a fome do povo se resolve em comprar e vender pães. Esta é a mentalidade do sistema injusto que domina o mundo através do dinheiro. Para Jesus a fome se resolve com a partilha do pão. Jesus abençoa, reparte e dá os cinco pães e dois peixinhos que foram encontrados entre a multidão. São os mesmos gestos que ele fez ao instituir a Eucaristia. Ele não distribui o pão diretamente ao povo, mas dá aos seus discípulos para que eles distribuam: dai-lhes vós mesmos de comer. Os discípulos devem repartir, partilhar e ensinar a partilha. Só assim o Reino de Deus se torna presente no mundo até ser definitivo na eternidade.
Deste modo, Jesus nos deixou como herança, não apenas belas palavras e nem somente boas lembranças, mas deixou-nos o seu próprio corpo e sangue, ou seja, sua vida concreta: “Este é meu corpo que é dado por vós, para a vida do mundo”.
Da Eucaristia recebemos a forças para amar e servir, não apenas quando sentimos vontade, quando somos movidos pelo sentimento ou atração. O amor não é somente isso, o amor é sobretudo doação. Eis a grande lição que a Eucaristia nos dá. O amor não é só sentimento, ele requer também, vontade e decisão. Por isso amar é um mandamento.
Para aprendermos plenamente o que é o amor devemos olhar para a Eucaristia, corpo e sangue do Senhor e dela nos alimentar. Na Eucaristia aprendemos que amar é sacrificar-se, partilhar e estar presente.
Peçamos ao Senhor neste dia santo para nós, nós que estamos aqui para santificá-lo e honrá-lo, que nos seja dada a graça de um coração eucarístico, para que todos creiam em Cristo, e a vida divina em nós se propague pelo mundo todo.
Amém