Diocese de Santo André

Seminário da Pastoral da Moradia e Favela marca início da atuação na Diocese de Santo André

A Diocese de Santo André realizou o primeiro Seminário da Pastoral da Moradia e Favela, na tarde do dia 16 de agosto, no auditório do Edifício Sede Santo André Apóstolo, organizado pelo diácono João Ribeiro e conduzido pelo Frei Marcelo Toyansk Guimarães, frade capuchinho e coordenador nacional da pastoral. O encontro marcou o início desta nova pastoral na Diocese e reuniu religiosos, lideranças comunitárias, movimentos sociais e pesquisadores que trouxeram diferentes olhares sobre a realidade da moradia no Grande ABC.

A Pastoral da Moradia e Favela é uma ação da Igreja que busca estar próxima das comunidades mais vulneráveis, especialmente famílias que vivem em ocupações, cortiços e favelas. Sua missão é unir fé e compromisso social, defendendo o direito à moradia digna e construindo esperança junto ao povo.

Entre as falas mais marcantes, o padre Alfredo Gonçalves, missionário scalabriniano e assessor do Serviço Pastoral do Migrante, trouxe uma profunda reflexão espiritual. Ele iniciou lembrando que a chave é o símbolo de quem tem raízes e pertencimento. “A chave significa identidade. Quem não tem chave, não tem porto seguro, vive à deriva”, afirmou, destacando que milhões de brasileiros hoje não possuem esse acesso a um lugar que possam chamar de lar.

Padre Alfredo descreveu a casa como a “roupa da família”, que reveste sua intimidade e garante dignidade. “Uma família sem casa é como um corpo nu exposto em praça pública”, disse, mostrando que o teto não é apenas um abrigo físico, mas um espaço de segurança, calor humano e memória. Inspirado nos Salmos, recordou que a casa é lugar de refúgio e encontro, e que a ausência dela expõe as pessoas a uma vida marcada pela instabilidade e pela hostilidade.

O sacerdote também apontou a diferença entre uma casa-tenda e uma casa-fortaleza. Para ele, a tenda é imagem de abertura, acolhimento e comunidade, enquanto as fortalezas, mansões e palácios modernos se fecham e acabam se tornando “túmulos dos egoístas”. “A casa de Deus é uma tenda. Quem mora em uma tenda aprende a acolher o estrangeiro. Quem se fecha em uma fortaleza, fica cego ao grito de quem não tem casa”, disse.

Por fim, ele alertou que sem um teto digno, o ser humano perde até a capacidade de sonhar. “Só pode sonhar com o infinito quem tem um lugar para descansar. Quem está na rua sonha apenas com o pão ou com um cobertor”, afirmou, lembrando que em São Paulo existem milhares de imóveis vazios ao mesmo tempo em que famílias dormem sob marquises. Para ele, a ausência de moradia desumaniza e empurra a vida para a sobrevivência mais dura.

A história e a luta das comunidades foram lembradas por Nilda Silva, do Movimento de Defesa dos Direitos das Favelas. Ela trouxe um retrato da mobilização que começou ainda no final da década de 1970, quando padres e lideranças locais se uniram para resistir a despejos e dar voz aos moradores. Recordou que Santo André foi pioneira ao criar a primeira Secretaria de Habitação, resultado direto da pressão popular. “Ninguém escolhe viver em área de risco. A falta de política pública é que empurra as famílias para esses lugares”, disse, lembrando também da sua própria experiência em favela, onde a presença da Igreja foi muitas vezes sinal de cuidado e esperança.

Thiago Gallo, da União de Moradia e da Campanha Despejo Zero, trouxe um panorama atual da realidade. Citando a Constituição de 1988, recordou que a moradia é um direito social, mas que, para ser garantido, exige luta constante. “A moradia é a porta de entrada para todos os outros direitos. Sem um teto seguro, não há como viver com dignidade”, afirmou. Em sua fala, apresentou números que revelam a gravidade da situação: milhares de famílias no Estado de São Paulo vivem sob ameaça de despejo, enquanto imóveis seguem vazios aguardando especulação. Para ele, é uma contradição que precisa ser denunciada pela sociedade e enfrentada com políticas públicas consistentes.

O olhar acadêmico foi trazido por Francisco Comaru e Fernando Botton, do Laboratório Justiça Territorial da Universidade Federal do ABC. Eles apresentaram resultados de pesquisas recentes sobre áreas de risco em Mauá e em outras cidades do Grande ABC, ressaltando que “o conhecimento técnico precisa caminhar junto com a luta popular”. Francisco lembrou que a UFABC é uma universidade pública criada com o compromisso de dialogar com a realidade das periferias, e Fernando destacou que o laboratório desenvolve metodologias de pesquisa participativa, em que moradores e pesquisadores constroem juntos os diagnósticos e soluções. “É preciso que a ciência esteja a serviço da vida, ajudando a transformar as condições em que o povo vive”, afirmaram.

Depois das falas, os participantes foram divididos em grupos para conversar sobre a realidade das sete cidades do Grande ABC. O momento de partilha permitiu que cada comunidade trouxesse seus desafios e esperanças, revelando a força da união e do diálogo.

Encerrando o seminário, Frei Marcelo lembrou que esta pastoral nasce na Diocese de Santo André para ser “uma presença solidária e companheira, capaz de caminhar junto ao povo, acolher seus clamores e apontar caminhos de esperança”. O encontro deixou claro que a luta por moradia não se limita a conquistar um espaço físico, mas envolve o direito de cada família viver com segurança, dignidade e afeto.

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