Um dos quatro tempos fortes do ano litúrgico, a Quaresma é o tempo que precede e nos prepara para a celebração da Páscoa. Tempo de reconciliação com Deus e com nossos irmãos. Tempo de oração, Jejum e caridade.
Durante 40 dias, uma oportunidade muito especial de transformação pessoal para chegarmos novos homens e novas mulheres à Páscoa do Senhor, em cujo mistério fomos inseridos pela Vida, Morte e Ressurreição de Jesus Cristo para uma comunhão plena e universal de todos os filhos de Deus.
Desde pequenos, experimentamos este tempo de graça de muitas formas. Quem não se lembra das imagens cobertas de roxo em nossas capelas do interior? De nossas mães ralhando conosco para não ouvirmos músicas, e que se o fizéssemos, que fosse com moderação? Da música instrumental em todas as emissoras de rádio na Sexta-Feira Santa? Da vivência das Vias-Sacras nas estradas do sítio e do ajoelhar-se no pedregulho das estradas, pelo menos uma vez por semana? Nada de carne nas quartas e sextas, bebidas, bailes ou festas enquanto Jesus estava no deserto sofrendo todo tipo de tentação para desistir da missão para a qual viera? Vivíamos bem este tempo de sacrifício e experimentávamos, com muita alegria, a Páscoa… longe de coelhos e ovos de chocolate.
E hoje, com o que nos ocupamos ou nos preocupamos mais na Quaresma? Com a boca ou com a língua? (Com o que comeremos ou não; ou com o que diremos ou não acerca de nosso irmão?) Com nossa atitude e ação, ou nossa omissão diante desta cultura de morte tão nociva à vida e à família que avança a passos largos a olhos vistos? Com os bens materiais ou com nosso progresso espiritual? Com as coisas passageiras da vida ou com a implantação do Reino de Deus já no meio de nós?
Para conhecer a Deus Pai, devemos ser próximos, e por que não íntimos, de seu filho Jesus Cristo que é o caminho, a verdade e a vida? Devemos deixar as coisas do mundo e nos ocuparmos da melhor parte, que é sentar-se aos pés de Jesus, como fez Maria, enquanto Marta não conseguiu parar um minuto sequer para deixar-se saciar na verdadeira fonte. (Lc 10, 38-42)- “Marta! Marta!”
Pela leitura orante dos textos bíblicos, podemos praticar pequenos retiros espirituais, criando condições favoráveis de local, horário e abertura de espírito. Quanto mais nos aprofundamos na Palavra, mais nos afastamos das misérias do mundo e mais nos fortalecemos para os desafios de cada dia. Foi Jesus quem nos ensinou a se retirar para rezar… No deserto, nos altos montes ou no Jardim das Oliveiras… Sozinho, em casal e/ou em família, busquemos fazer esta experiência do encontro pessoal com o próprio Mestre.
Dediquemos esta Quaresma a amar nossos irmãos como Jesus nos amou em nossas imperfeições e limitações. Levemos pão a quem tem fome; água a quem tem sede; visitando a quem está doente ou preso; enfim…vestindo a quem está nu e partilhando nosso amor, com o desapego também de nossos aparelhos eletrônicos, para ajudar nossos irmãos a carregarem seus próprios fardos, que não são virtuais, mas reais. Sejamos dóceis à ação do Espírito Santo em nós.
Esforcemo-nos para fazermos de nossa Quaresma um período afetuoso para conosco e para com todos os que convivem e caminham conosco. Que nossas atitudes sejam coerentes com a fé que professamos, bem como com o maior de todos os mandamentos: “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo.”(Mt 22, 34-40)