Prezados padres, queridos irmãos e irmãs! Esse é o momento em que nós queremos deixar a palavra de Deus que ouvimos ir até nosso coração. Coração que na sagrada escritura simboliza e é o local íntimo. Só nosso. Onde só Deus e nós mesmos podemos entrar. Aquilo que nós frequentemente chamamos de nossa consciência. Então que essa palavra entre em nosso coração.
O que diz a palavra de Deus para nós? Nós que buscamos Jesus estamos aqui, temos fé Nele. E ele também se manifesta a nós na sua palavra. O Concílio Vaticano II diz quando é proclamada a palavra de Deus durante a Santa Eucaristia é o próprio Jesus que fala. E Jesus falou a Pedro, aos apóstolos nesta pesca milagrosa como conhecemos a narrativa do Evangelho. Percebemos que neste fato, neste acontecimento, quando se descobre a verdade, o poder da palavra de Deus na vida muda.
Pedro e os outros discípulos seguiam Jesus esporadicamente, ouvindo, mas não deixaram o seu trabalho. A partir deste momento, eles decidem seguir Jesus porque passam a acreditar na sua palavra. Palavra de Jesus toca o coração, o íntimo deles. Por isso, Pedro diz: ‘Em atenção a sua palavra, vamos lançar a rede em águas mais profundas’. Jesus não era pescador. Pedro era e sabia que ali não tinha condições, até disse a Jesus. Mas Jesus falou e ele em atenção a palavra de Jesus, fez o que Jesus mandou. Isso é a fé, em atenção a sua palavra.
Então, assim como povo que rodeava Jesus, que esperava uma palavra de vida, é interessante considerar que o povo da terra de Jesus, Nazaré, pedia milagres. E esse povo de Cafarnaum não pede milagres a Jesus. Eles pedem a palavra. Correm atrás de Jesus porque querem ouvir o seu ensinamento.
Também hoje o que se espera de nós cristãos batizados que sejamos testemunhas de Jesus, possamos ouvir, acreditar e levar ao mundo essa palavra, que pode transformar os corações e as situações, em atenção a sua palavra eu lançarei as redes. Então Jesus envia esses apóstolos. ‘Não tenham medo’, diz Jesus, primeiro. É preciso tirar o medo. Depois Pedro se reconhece pecador, mas Jesus o aceita e o capacita, assim como a primeira leitura mostra, que Deus envia um profeta, o purifica, perdoa seus pecados. Ele capacita, como dizemos os escolhidos para enviá-los. Do jeito que são.
Na sua simplicidade, na sua pobreza, Jesus escolhe pescadores. Não escolheu pessoas poderosas, cultas, do mundo acadêmico, do mundo da mídia, da influência na época. Escolheu pescadores, porque fica muito claro que a obra desenvolvida pelos apóstolos é de Deus. Porque humanamente falando, por si mesmos, não teriam forças. Hoje também é assim. Então, que nós coloquemos nesta dinâmica da pobreza. Eles deixaram tudo para seguir Jesus. Jesus chama os pescadores, aí entra o mistério da vocação, do chamado.
Deus escolhe misteriosamente aquele que Ele quer. Pessoas às vezes são fracas, humanamente falando. Mas tem aquilo que Jesus pede, a fé. E a fé muda a nossa vida. Muda o nosso comportamento. Muda nossas atitudes como mudou a atitude de Pedro e de alguns apóstolos. Muitos nesta pesca, muitos pescaram e viram esse fato. Mas a fé na palavra de Cristo ficou com poucos. Esses que Ele enviou. ‘A quem eu enviarei? Eis me aqui’! A fé é sempre um dizer, como o profeta, como os apóstolos. ‘Eis me aqui, Senhor’. Dispostos a fazer cumprir a palavra na minha vida, na minha realidade, no mundo.
Por isso toda pessoa de fé que acolhe a palavra de Deus se torna missionária, não fica acomodada. Como os apóstolos que entraram nessa dinâmica da pobreza em deixar muitas coisas para seguir Jesus. Nós também temos que entrar nessa dinâmica da pobreza interior. Muitas vezes também material, no sentido de abandonar ídolos, abandonar crenças que não condiz com aquilo que é cristão, de deixar de lado tantas coisas relativas e pequenas para a partir da fé sermos enviados por Deus para anunciar ao mundo. O que vamos anunciar? Aquilo que Paulo diz na segunda leitura, o mistério pascal, que Cristo morreu e ressuscitou. Que hoje também a morte, o luto não tenha a última palavra. Mas é a vida que tem a última palavra, porque Deus está comprometido com a vida, comprometido com seu projeto em favor do Reino de Deus.
E no batismo cada um é chamado a participar desse projeto de Deus. Cada um é chamado a dizer: ‘Eis me aqui, envia-me’! No dia a dia, nas pequenas coisas, nos seus afazeres, na sua vida que possa anunciar o mistério pascal de Jesus. Morreu, mas ressuscitou. A situação está difícil, mas Deus se compromete a fazer vencer a vida.
E queria terminar essa reflexão dizendo uma palavrinha sobre o ministério do pároco. Tenho celebrado esses dias e vou celebrar ainda muitas posses de padres. Cada posse eu escolho uma pequena palavra, um conceito, a partir daquilo que é próprio do ministério do padre. É a caridade espiritual. É vida espiritual. Gostaria de falar sobre a presença. O ministério da presença do padre, do pároco no meio do seu rebanho. Hoje há uma busca extraordinária pela figura do padre como artista. Cantor, liturgista, showman, alguém que sobressai a alguma arte ou especialidade. Não é verdade? Claro, constatamos isso.
É de se perguntar. O que o padre pode oferecer de próprio dele. Qual a virtude, força que deve sobressair no pároco. O que deve ser mais evidente, que as pessoas procuram somente nele. É Jesus. O sacerdote é representante de Cristo. Sereis minhas testemunhas até o fim dos tempos. Então, desta maneira, o ministério da presença é o que distingue o pároco. Estar presente, ser presença de Jesus para a comunidade. Estar presente na comunidade, no meio do povo, ou como diz o Papa Francisco: ‘Ter cheiro de ovelha’.
Estando presente o padre pode acolher. Hoje se fala muito em acolhida. Uma das ações pastorais escolhida como prioridade do nosso sínodo é a acolhida. É necessária a presença que acolhe, a disponibilidade que recebe o outro. O estar à disposição. Começa com a acolhida. A transformação das paróquias em comunidades cristãs capazes de iniciar na fé, os que buscam conhecer Jesus. É difícil sempre estar presente para acolher, são muitos afazeres do pároco. Mas não nos esqueçamos que às vezes, a nossa possibilidade de fazer as coisas depende da nossa escala pessoal.
Se você privilegia, preferencia o serviço teu, e não o serviço teu a você mesmo, mas o serviço ao povo, sempre se arrumará tempo para estar disponível para acolher. E o acolhimento é o início da transformação da paróquia que deve passar de uma paróquia de manutenção para uma paróquia missionária.
Na verdade, o nosso grande desafio está na capacidade de passar de uma pastoral de manutenção para uma pastoral missionária. E o primeiro passo é a acolhida. Acolher. Tanto insiste o Papa Francisco em que a Igreja seja uma ‘Igreja de acolhida de todos’. E o ministério da presença faz o padre mergulhar na vida das pessoas, nas alegrias, crises da vida dos seus paroquianos. O fato de estar presente na paróquia, de ouvir afeta profundamente a oração, a ação e a pregação do sacerdote. O padre que não está presente aos irmãos, não consegue estar presente a Deus.
Quem não escolhe os irmãos, não saberá escolher, nem acolher a Deus. Portanto, o sacerdote, o pároco é um sacramento da presença de Cristo. Aí está a grandeza e a beleza, e também a responsabilidade da sua missão. Então desta forma, o padre pode ser uma vela que se gasta, queimando cada dia. Sim, uma vela que vai se queimando. Isso é sacrificado. Mas não tem outro modo de a vela iluminar. É assim que a luz se faz para muitas pessoas. Traduzindo numas palavras bem conhecidas. É morrendo que se vive. Isso é na vida de todo cristão, muito mais de um sacerdote. É nessa dinâmica pascal de morrer para si, a fim de que os outros tenham vida, que se manifesta a paternidade verdadeira que faz do pároco uma imagem sublime de Cristo, o bom pastor.
Rezo e faço votos a Deus que o ministério do novo pároco no meio de vocês, com a colaboração de todos, possa ser um ministério frutuoso. Como disse Jesus naquele famoso discurso antes da sua partida, a oração sacerdotal que Ele fala da videira e dos ramos, precisamos dar frutos, cada um e a comunidade. Frutos para o pai. Trabalhando para que seu Reino venha a cada dia, como vamos pedir daqui a pouco na oração do Pai Nosso. LOUVADO SEJA NOSSO SENHOR JESUS CRISTO!