Leituras: Is 61,1-13; 1Pr 5,1-4; Evangelho: Jo 10,11-16
Caríssimos irmãos e irmãs a Palavra de Deus foi proclamada. Nós queremos abriga-la em nossos corações refletindo-a brevemente.
A primeira leitura do profeta Isaías, chama a atenção para o dom da vocação profética. O Senhor escolhe, unge e envia. A escolha de Deus é misteriosa e secreta. Ele escolhe quem quer. Deus unge com o seu Espírito Santo os seus escolhidos, colocando neles os dons necessários para exercer a missão. Ele os envia! Jesus é o Filho Amado escolhido pelo Pai e ungido para operar a salvação do mundo. Sua missão é evangelizar os pobres. Vocês caros ordinandos, foram escolhidos, hoje são ungidos e enviados em missão por Jesus Cristo, através da Igreja, sinalizada pelo Bispo sucessor dos apóstolos.
Lembrem-se que a missão deve ser exercida ao modo de Jesus o Servo do Senhor, ou seja, na sua “kenosis”, no seu rebaixamento e humildade. Esta “humilitas” que o vosso fundador vos deixou como senha, quer dizer “kenosis” rebaixamento (cf. Fl 2,6-11). Devem ir até os últimos, até as “periferias existenciais”, como exorta o Papa Francisco, ir não no discurso, mas na prática. Esta é vossa missão profética, pois o profeta ensina pelo agir, mais do que com palavras.
Por isso, tende os mesmos sentimentos de Jesus Cristo, sentimentos de amor, que são contrários ao egoísmo. Pelo conhecer, recebo Deus para dentro de mim, pelo amor, ao contrário, eu entro em Deus. Jesus o Servo de Deus é a imagem da Esperança: Deus está do lado dos que sofrem. O que nos leva a estar próximo dos que sofrem, dos migrantes em especial, como é vosso carisma, é a “kenosis”. É preciso mergulhar fundo no abismo do sofrimento dos irmãos para colocar aí a força do ressuscitado. “Vivemos hoje num mundo que rejeita os valores da civilização da Vida, da Civilização do Amor, da Verdade; nossa esperança é a Igreja, Imagem da Trindade” (Card. Van Thuan, Testemunhas da Esperanças, p. 167).
O Evangelho nos apresenta Jesus o Bom e Belo Pastor. Hoje meus caros filhos, Peter e Joseph, vocês se tornam servos ordenados de Jesus Cristo o Bom Pastor. O que caracteriza o bom pastor? É o amor serviço. Servir é palavra chave que abre as portas do pastoreio para o presbítero. No Novo Testamento, a palavra discípulo e servo se equivalem. O bom pastor vive da caridade pastoral que é participação na caridade pastoral de Jesus Cristo. Indica a vivência de uma espiritualidade de confiança mais que de otimismo, de fidelidade, mais que de êxito.
Recordem-se: o amor a Deus ocupa o primeiro lugar na ordem dos preceitos, mas o amor ao próximo ocupa o primeiro lugar na ordem da execução. Vocês desejam ser bons pastores? Lembrem-se que é preciso lavar as vestes no sangue do cordeiro (cf. Ap 7,14). Isto quer dizer: é o amor-serviço de Jesus que nos purifica, que nos lava. O gesto do lava-pés exprime isto mesmo. É o amor serviçal de Jesus que nos tira fora de nossa soberba e nos torna capazes de Deus, capazes de pastorear, nos torna puros. O primeiro olhar de Jesus, o bom pastor não se dirige ao pecado do ser humano, mas ao seu sofrimento. Sim, o amor misericordioso é a morte da morte, aurora da ressurreição.
A segunda leitura, exorta o presbítero a ser modelo para o rebanho. Mantende longe de vós, o egoísmo, a imoralidade, a ganância. Não tenham vida dupla, com coração dividido, entre o amor de Jesus que os escolheu para estar com Ele (cf Mc 10,3) e outros amores a pessoas e coisas materiais. Fujam do mundanismo que arruína as comunidades.
E aqui permitam-me recordar o exemplo do bem-aventurado João Batista Scalabrini fundador de vossa Congregação. Seu lema episcopal era “Video Dominum inixxum scalae” (Vejo o Senhor no alto da escada). É com os olhos fixos no Senhor do rebanho que se deve pastorear o rebanho. Porque o homem se agita mas é Deus que o conduz. Estejam unidos Deus Ele se torna hoje vossa segurança e herança.
Scalabrini acreditava que a reconciliação é caminho de construção da cidadania universal. Foi um pastor ferido pela dor dos que estavam no abandono e na pobreza.
Vocês se tornam continuadores do seu carisma de apóstolo dos migrantes, apóstolo da catequese, homem inquieto e resiliente, que se fez tudo para todos.
Neste ano de São José, ao serem ordenados sacerdotes nesta igreja a ele dedicada, peçam sua proteção e sigam seu exemplo de fidelidade.
Que Maria Santíssima, mãe de Jesus Cristo e dos sacerdotes, interceda por vós para que sejam dignos do ministério que estão para receber.
Amém
Dom Pedro Carlos Cipollini
Bispo de Santo André