São Caetano do Sul – 10 de setembro de 2015

Leituras: Ez 36, 24-28 Rm 8,31-39     Mt 5, 1 – 12

           Hoje é dia de festa nesta comunidade paroquial. É jubileu! É júbilo e alegria. Comemorar sessenta anos de caminhada, de fé e esperança, é algo que emociona e tem sabor de vitória, uma vitória que Deus dá aos que perseveram no amor. Louvado seja Deus, portanto. Gratidão e louvor, creio eu, exprimem os sentimentos desta comunidade paroquial que hoje, faz memória do caminho percorrido e ao mesmo tempo, cheia de gratidão, louva agradecida os dons e graças que recebeu ao longo deste tempo que iniciou em 1947.

Rezando o teço nas casas, as famílias aqui da Vila São José se uniam sempre mais. Em 1948 foi construída a capela Nossa Senhora Aparecida, em terreno doado pelo Sr. Adelino e Sra. Rosalina Ribeiro. No dia 10 de setembro de 1955, Dom Jorge, então Bispo de Santo André criou a paróquia do Sagrado Coração de Jesus. Foram muitos os que trabalharam para que a paróquia fosse fundada. Que Deus os recompense.

A Palavra de Deus aqui proclamada nos inspira e ilumina nesta celebração!

O profeta Ezequiel descreve a bondade de Deus que reúne o povo vindo de vários lugares, para que sejam purificados e recebam um coração novo. É o que aconteceu aqui ao longo destes anos. Os fiéis, paroquianos e paroquianas, ao longo do tempo, buscando o caminho do Evangelho que é caminho de conversão, receberam coração novo, semelhante ao de Jesus: manso, humilde e repleto de amor a Deus e ao próximo! Formaram esta bela comunidade paroquial. Hoje a paróquia, como parcela de nossa Diocese de Santo André, pode fazer a renovação de sua dedicação a Deus que lhe diz: “Sereis meu povo e eu serei vosso Deus”.

O trecho da carta aos romanos que ouvimos fala da fidelidade de Deus que protege durante a travessia da vida: “Se Deus é por nós quem será contra nós?”, e ainda, “Quem nos separará do amor de Cristo? Nada!”. Perseverar no amor de Cristo que nos uniu e une a cada dia, é a missão da comunidade paroquial, dar testemunho de Jesus é sua tarefa. Como damos este testemunho? Sendo comunidade de discípulos e missionários. Uma comunidade paroquial que ama Jesus não pode ficar acomodada, contente com as vitórias do passado, mas deve lançar as redes em águas mais profundas. Ir ao encontro dos irmãos e irmãs, em especial os últimos, que esperam por alguém que os ilumine com o pão da Palavra de Deus e os gestos de solidariedade e partilha que ela nos inspira.

O Evangelho finalmente nos propõem as bem-aventuranças como ideal a ser buscado e praticado. A primeira e a última bem-aventurança que aparece nos Evangelhos nos falam da fé: “Feliz a que acreditou” (Lc 1,45) e “Felizes os que não viram e creram” (Jo 20, 29). Sem a fé não se pode falar do Reino de Deus nem das bem-aventuranças. É impossível agradas a Deus sem a fé (cf. Hb 11,6). Segundo Jesus as pessoas felizes são as que vivem a fé, vivem as exigências do Reino de Deus, sintetizadas na pobreza e no amor fraterno.

As bem-aventuranças são regra de vida para os que seguem Jesus. A pobreza aqui quer dizer abandanar-se nas mãos de Deus e confiar unicamente Nele. As bem-aventuranças são o julgamento que Jesus faz sobre a vida humana. Jesus quer dizer que a vida bem vivida deveria ser assim. As bem-aventuranças desmascaram nossas falsas seguranças baseadas no dinheiro, na fama e no poder. Nelas Deus propõe uma nova ordem de valores, Jesus diz não à ordem deste mundo, ordem do pecado. Sobre as pessoas condenadas pelo não (rejeição) da sociedade, Jesus pronuncia o sim de Deus.

Vou contar aqui uma pequena história que penso eu, explica muito bem o que é a bem-aventurança da pobreza, a primeira que é a raiz de todas as outras.

Um jovem rico foi falar com um padre muito sábio e lhe pediu um conselho para orientar sua vida. O padre o conduziu até a janela que tinha vidraça e lhe perguntou: – O que vês através dos vidros? Ele respondeu: – Vejo pessoas que vão e vêm andando com pressa e vejo um aleijado pedindo esmolas na rua. O padre então, mostrou-lhe um grande espelho e novamente o interrogou: – Olhe neste espelho e diga-me: o que vês? Ele respondeu: Vejo a mim mesmo. O padre lhe disse: Pelo espelho já não vês os outros. Porém, repare, tanto a vidraça como o espelho são feitos do mesmo vidro. Mas no espelho, é colocada uma fina camada de prata colada no vidro e assim não vês nele a não ser a tua pessoa. Deves comparar-te a estas duas espécies de vidro: pobre, vês os outros e tem compaixão deles, rico, coberto de prata, vês apenas a ti mesmo.

Que vocês, aqui desta comunidade paroquial do Coração de Jesus sejam uma comunidade que enxergue pelos vidros de uma vidraça, de uma janela e não por um espelho. Parabéns ao pároco Pe. Fernando e a todos os que fizeram parte desta história e hoje continuam fazendo, levando avante a chama de amor que ilumina-noa a partir do Coração de Jesus. AMÉM!

+Dom Pedro Carlos Cipollini

Bispo Diocesano de Santo André