Nos dias de hoje, vivemos numa sociedade em que é valorizado o espetáculo. Um espetáculo não se referindo ao teatro ou ao cinema, mas sim ao espetáculo da vida, no qual todos fazem parte, no qual todos podem sofrer e rir, no qual todos querem um bem estar, porém com essa sociedade do espetáculo acabam ocorrendo certas banalizações culturais e religiosas, uma grande generalização da mídia, que leva informações precipitadas ao público só para promover uma certa polêmica em assuntos que muitas vezes não merecem tanta atenção.
Com esse fator da “civilização do espetáculo”, acabamos entrando numa “sociedade líquida” como diz o sociólogo polonês Zygmund Bauman. Uma sociedade em que tudo vai desfazendo os “sólidos”, ou seja, as bases acabam se desfazendo e se transformando em algo que a sociedade deseja que seja como ela quer. Algo mais simples e de fácil entendimento, daí acabam se perdendo as características de elementos básicos como culturais, filosóficos, literários, etc.
Em meio ao esfacelamento das bases sociais, por conta de uma “civilização do espetáculo” como diz Vargas Llosa, podemos ver que no âmbito da fé, que essa “civilização do espetáculo” está bem ativa, por conta de que a sociedade não busca mais aquela tradição antiga que muitas religiões, como cristianismo, judaísmo, islamismo e tantos outros trazem consigo acaba não oferecendo opções para uma sociedade rápida, prática e agilizada, porém entra em contradição pois com a “liquefação” das bases da sociedade, muitos jovens estão voltando para um devido tradicionalismo, pois procuram um porto seguro ou algo para se apoiar em meio a “liquefação” de tudo que o ser humano construiu ao longo de séculos.
A “civilização do espetáculo” acaba fornecendo um meio mais fácil para muitos que desejam algo simples, que não exija esforço para praticar, Vargas Llosa diz que o homem procura “formas alternativas de praticar a religião” como as religiões orientais que fornecem meios “fáceis” para se praticar.
Com esses meios mais “fáceis” fornecidos pela “civilização do espetáculo” algumas práticas que entorpeciam o espírito, como a reza, a confissão, a comunhão entre outras, acabam sendo deixadas de lado, segundo Llosa, e aí entram as drogas e o álcool.
Com tudo isso, podemos ver que a “civilização do espetáculo” além de ser um meio da sociedade esfacelar suas bases por conta de um comodismo sem igual e também por conta da sociedade rápida, prática e interdependente em que vivemos, vemos que a sociedade do espetáculo é uma fuga de um mundo real, onde existe dor, sofrimento, tristezas para um mundo de alegrias temporárias e diversões. E no âmbito da fé também vemos essa fuga, a partir do momento em que a sociedade não procura mais uma religião fixa e fica frequentando várias religiões e seitas religiosas, procurando algo que complete a falta que todo ser humano tem dentro de si, falta um meio, um caminho que se é possível chegar ao transcendente, ao Criador.
Nessa busca do caminho para o transcendente, podemos ver que surgem várias seitas que oferecem um caminho mais fácil e simples para as pessoas, assim, a velha tradição é deixada de lado, as práticas religiosas milenares ficam de lado e se esfacelam.
Portanto, em meio à “civilização do espetáculo”, que já se encontra enraizada no coração da sociedade contemporânea, é necessário uma chamada de atenção para a sociedade, para que se conscientize de que a vida não é apenas um parque de diversões, no qual a alegria, paz e tranquilidade vêm momentaneamente, mas deve-se viver a vida real, em que se labuta no dia a dia, se tem sofrimento, dor, tristeza, mas também existem alegrias verdadeiras. É necessário que a fé seja renovada, que o homem encontre verdadeiramente um sentido para sua vida espiritual, religiosa. É preciso que o homem caminhe sempre rumo ao transcendental, mas para isso é necessário que ele saiba viver firmemente a religião que escolheu e não abandoná-la apesar de erros, perseguições e até mesmo crises de fé, se manter firme e confiante. A ”civilização do espetáculo” oferece um mundo praticamente perfeito, porém ilusório.
Fonte: A12 – Rafael Peres, Estudante de Filosofia – Seminarista Redentorista