7 de setembro 2017 – Dom Pedro Carlos Cipollini
Introdução
Ao iniciar esta reflexão a vocês que são leigos na Igreja e que estão prestes a assumir uma responsabilidade, um serviço ministerial gostaria de dizer como São Paulo: “Minha alegria e minha coroa” (Fl 4, 1). Um agradecimento de coração a vocês que deram o sim para o serviço ao Povo de Deus.
Quero reconhecer os rostos de vocês leigos e leigas da Igreja de Santo André. Vocês são generosos e pela fé em Jesus Cristo desejam viver o amor, na sua forma mais sublime que é o serviço aos irmãos. Ministério quer dizer serviço; Jesus disse: “Eu vim para servir e não para ser servido”(Mt 20,28).
Hoje é um dia de alegria para nossa Igreja. Começamos a vivenciar aqui de forma antecipada o Ano do Laicato, no qual a Igreja do Brasil está convocada a refletir sobre a dignidade e missão do leigo na Igreja.
O Ano do Laicato irá da Festa de Cristo Rei no final de novembro deste ano (26.11.2017) até a festa de Cristo Rei do ano que vem(25.11.2018). Nele refletiremos sobre o papel do leigo na Igreja, a partir do Documento 105 da CNBB/2016 : Cristãos Leigos e Leigas na Igreja e na Sociedade. Sal da Terra e Luz do Mundo (Mt 5,13-14).
Sinto-me feliz em dar continuidade a esta prática que nossa Igreja já tem, herdada do passado, continuada por meu antecessor Dom Nelson, de valorizar os ministérios leigos e realizar em conjunto este conferimento. Momento bonito de uma Igreja bonita.
Peço que acompanhem esta reflexão que preparei para vocês hoje.
- Os leigos na Igreja
O Concílio Vaticano II resgata a dignidade do leigo a partir do batismo. A Constituição Dogmática Lumen Gentium trata do leigo na Igreja em seu capítulo IV e fundamenta a participação do leigo na vida da Igreja, não como uma permissão dada pela hierarquia (bispos e padres) mas como um dever que brota do batismo:
“Os fiéis (leigos) pelo batismo foram incorporados a Cristo, constituídos no povo de Deus e a seu modo feitos partícipes do múnus sacerdotal, profético e régio de Cristo, pelo que exercem sua parte na missão de todo o povo cristão na Igreja e no mundo” (LG 31).
“E ainda que alguns por vontade de Cristo sejam constituídos mestres, dispensadores dos mistérios e pastores em benefício dos demais, reina, contudo, entre todos verdadeira igualdade quanto à dignidade e ação comum a todos os fiéis na edificação do Corpo de Cristo.” (LG 32)
“Assim, quer pela oblação, quer pela sagrada comunhão, todos – cada um segundo sua condição – exercem na ação litúrgica a parte que lhes é própria” (LG 11)
Os leigos devem atuar em três âmbitos ministeriais dos assim chamados “ministérios laicais”: a) no interior da Igreja através da vida comunitária, participação na liturgia e na vida celebrativa, na organização e administração das comunidades b) nas diversas pastorais c) na ação de índole secular na construção de uma sociedade mais justa e fraterna.
O Papa Francisco escreveu: “Assim como o leigo não pode substituir o pastor, o pastor não pode substituir os leigos e leigas no que lhes compete por vocação e missão” (EG 102). Por isso é necessária a mútua colaboração e entendimento para que o ministério ordenado e os ministérios leigos funcionem bem.
É preciso ter presente que: “Os bispos são os principais dispensadores dos mistérios de Deus, como também ordenadores e guardas da vida litúrgica na Igreja a ele confiada” (SC 15). O bispo é o sumo-sacerdote de seu rebanho, é ele o presidente da vida litúrgica na diocese, porém na impossibilidade de presidir todas as celebrações da diocese ou de reunir todos os fiéis na Catedral, ‘vê-se na necessidade de reunir os fiéis em grupos e paróquias presididas por um pastor (padre) que faz as vezes do bispo’”(SC 42).
- Os ministérios
“Uma Igreja toda ministerial oferece espaços de comunhão, corresponsabilidade e atuação dos leigos e colabora com a descentralização” (Doc 105 – CNBB n. 152).
Todos sabemos da importância dos diversos ministérios na Igreja e agradecemos a Deus por vocês aceitarem a missão. Vocês se prepararam para este momento em que recebem oficialmente o conferimento para exercerem este serviço à comunidade. Quem serve à Comunidade serve a Jesus.
Alguns requisitos:
- Conhecer o que se deve fazer: ler atentamente o Manual que foi preparado e que receberão nesta celebração (Ministérios Extraordinários: Subsídio Formativo). Ler também o nosso Diretório de Liturgia que está sendo impresso.
- Espiritualidade baseada na confiança, na esperança e na paz.
Confiança: O que existe de melhor em nós se constrói através de coisas bem simples que até uma criança pode realizar. Uma criança é plena de confiança. Mas em todas as idades, existem pessoas marcadas por sofrimentos, abandono, separação de entes queridos, morte. Assim, o futuro se torna incerto e elas perdem o gosto de viver.
Devemos viver da confiança, confiar porque Deus confia em nós, em você, por isso Ele te chamou a este serviço…
Esperança: Existem no Evangelho realidades que tornam a vida radiante. A confiança nos leva à esperança, e a esperança não decepciona. A esperança nos tira do desânimo, dá sabor à nossa vida. A esperança é âncora segura. Você deve dar testemunho de sua esperança vivendo o Evangelho e dando o testemunho, o bom exemplo de vida cristã.
Paz: A confiança e a esperança nos conduzem à paz. A paz é outra realidade do Evangelho que torna nossa vida bela, digna de ser vivida. Nossa vida hoje está rodeada de violência. Há muita competição, agressividade, desamor. Quem é de Cristo deve ser capaz de levar a paz, a paz é o dom maior do Ressuscitado. É necessário começarmos a construir a paz em nosso coração, e depois, com o coração pacificado, poderemos ser discípulos e discípulas de Jesus, portadores da paz.
A confiança, a esperança e a paz do coração se encontram em uma misteriosa presença em nós: Jesus Cristo. Através do Espírito Santo, Jesus permanece quieto dentro de nosso coração esperando que lhe possamos dar atenção. Então como não responder a Jesus: Eu queria te seguir por toda minha vida, mas vós conheceis minhas fragilidades. Porém Jesus nos deu tudo, Ele nos deu o seu Espírito Santo. Quem tem um coração decidido a confiar em Jesus Cristo, com toda força do seu coração, tem um programa de vida: viver na gratidão, ter o sorriso dos redimidos. Para todos nós Deus deve ser uma fonte inesgotável de confiança. Ele é amor e perdão, nos acolhe como somos. Ele habita o centro de nosso ser. Ele te chamou!
Fidelidade e perseverança
Quem se dispõe a servir a Deus deve fazer, sem interesse, o bem ao outro. Não ter outra intenção a não ser o serviço. Isto não é pouca coisa, porque servir a Deus é Reinar com Ele. Por isso é necessário a fidelidade. Ser fiel, levar a sério a função que vai exercer. Deus sonda teu coração e se você for servo fiel receberá o prêmio de sua fidelidade. É preciso também perseverar, não desistir por qualquer motivo, porque Deus não desiste de você.
Enfim: “Ser ministro(a) é bem mais que exercer um ofício, é uma vocação, um chamado que gera alegria ao coração!
- Algumas recomendações Práticas
3.1 Orientações Gerais
- Seguir as orientações da Diocese e não o parecer pessoal (gosto, não gosto) de outras pessoas ou instâncias não diocesanas. Zelo em tudo, mas sem exagero do rigorismo.
- Ler atentamente o “Subsídio Formativo” que já receberam hoje (capa roxa)
- Os ministérios não são direito adquirido, mas chamado ao serviço: “somos servos inúteis”(Lc 17,10).
- Existem na Igreja ministérios ordenados (Bispo padre e diácono) e ministérios não ordenados com dois tipos: instituídos (leitorado e acolitado) e conferidos: ministério extraordinário da comunhão, da Palavra, da Benção, das Exéquias, etc. Existem serviços na comunidade que não precisam ser nem ordenados, nem instituídos ou conferidos mas são nomeados, p. ex.: CPP e CAEP (que toda paróquia deve ter – é norma da Igreja – CDC cân 537).
- O Ministro é da comunidade e não do padre. É conferido para servir à comunidade paroquial e não a toda a Diocese. Quando muda de paróquia o padre não deve levar ministros consigo. Porque é ofensivo a Jesus acompanhar o padre e não ficar na comunidade onde Ele te chamou. A carteirinha emitida pela Diocese tem como objetivo identificar nos eventos regionais e diocesanos nos quais possa participar, além de visita aos enfermos.
- Não fazer o que é do padre, não imitar o padre, cada um tem seu lugar e suas funções nas celebrações litúrgicas
- Diferença entre dia santo e feriado, é preciso ter isto presente.
- A sacristia não pode ser sala de visita e nem a igreja salão social de festas, sacristia é área de serviço, como fazer para não ficarem todos ali trocados e parados impedindo a movimentação?
- Roupa deve ser a indicada pela diocese é a Opa, veste própria para cerimônia religiosa e irmandades (cf. dicionário), não é túnica (o comprimento é só até o joelho). Deve vestir sempre que for servir.
- Os Ministros Extraordinários devem ajudar a criar comunhão na Comunidade
- Ter consciência que você representa o que a comunidade deve ter de melhor, por isso as pessoas te olham, veem teu exemplo.
3.2 MINISTROS Extraordinários da Comunhão – MEC
- Quando tem padres eles devem distribuir a Eucaristia (são os ministros ordinários)
- Ministro não dá benção do Santíssimo Sacramento.
- Dizer Corpo de Cristo ao distribuir a comunhão, apesar do barulho da música ensurdecedora que existe em certas celebrações.
- Ajudar a ensinar o povo a comungar: na mão ou na boca, em pé ou de joelhos, a critério do fiel.
- Não ficar encostado (ou muito próximo)no altar, sobretudo durante a Oração Eucarística, isto é próprio dos ministros ordenados.
- Ao levar a Santíssima Eucaristia, não colocar em qualquer lugar: no bolso, na bolsa, no porta luva o carro, etc. Deve-se ter a teca de metal (a paróquia pode fornecer) e a bolsa de pano apropriada.
3.3 Ministros Extraordinários do Culto e da Palavra – MECP
- Não ocupar a presidência que o padre ocupa e que é reservada para a celebração da missa, sinalizando que Celebração da Palavra não é missa
- Homilias objetivas (não é aula, exposição, demonstração de cultura, exposição de ideias, avisos, comentários…) A homilia deve ter espiritualidade, piedade para poder ser aplicada na prática do dia a dia.
- Fazer a leitura orante para se preparar para o momento de celebrar a Palavra (uma opção, sintonizar a TV+/canal 27 ou o facebook da Diocese, onde o bispo fala sobre a Palavra)
- Seguir as instruções da Diocese para a Celebração da Palavra
- A celebração da Palavra não pode ser excessiva ou abusiva deixando de celebrar a missa por qualquer motivo, cancelando missas, mudando demais os horários pré-fixados!
- Ministros Extraordinários das Exéquias e da Benção – MEE, MEB
- Importância da presença que deve ser confortadora, consoladora
- Não perder o foco: estar ali para rezar, abençoar e não para dar entrevista, fazer discursos ou se informar.
- Tanto nas exéquias como nas bênçãos não se deve demorar além do necessário
- Discrição, serenidade, atenção neste momento de dor.
Conclusão: “Serviços e ministérios estão fundamentados nos Sacramentos do Batismo e da Crisma. Uma Igreja toda ministerial oferece espaços de comunhão, corresponsabilidade e atuação dos leigos e colabora com a descentralização” (Documento 105/CNBB n.152); tudo a fim de termos uma Igreja toda ministerial de comunhão e participação.