A INICIAÇÃO CRISTÃ:
ARTICULADORA DAS URGÊNCIAS NA AÇÃO MISSIONÁRIA
(10/09/2017)
D. Pedro Carlos Cipollini
Introdução
O itinerário de Iniciação cristã é um processo, um caminho gradual e contínuo, que introduz paulatinamente a pessoa num grupo ou comunidade, associação ou comunidade. Insere a pessoa numa nova forma de vida e de comportamento.
A pessoa batizada é envolvida no processo mistagógico (isto é, entrar no mistério) da revelação dos mistérios da fé, ou seja, dos segredos e planos de amor e salvação de Deus apresentados na Escritura Sagrada
Esta iniciação requer uma opção pessoal pelo encontro com a pessoa de Jesus Cristo. O iniciado deve entrar em contato com a Palavra de Deus, viver em comunidade e celebrar a vida em todas as suas dimensões, na liturgia e nos sacramentos.
“Ou educamos na fé, colocando as pessoas realmente em contato com Jesus Cristo, convidando-as a segui-lo, ou não realizaremos nossa missão evangelizadora” (DAp 287)
A Igreja toda é chamada a entrar em um processo de conversão, em vista de assumir de forma conjunta e corresponsável esse desafio: a Iniciação Cristã.
1. Pós-cristianismo?
O mundo mudou, o Evangelho já não permeia toda a sociedade; em muitos lugares já vivemos numa época de pós-cristianismo. Não se pode contar com uma sociedade religiosa, onde as famílias transmitiam os princípios da fé. A mudança de época exige que o anúncio de Jesus Cristo não seja mais pressuposto, porém explicitado continuamente” (cf. Doc. 102 CNBB/2015 -Diretrizes)
É cada vez mais necessário um processo de iniciação à fé. Em tempos de tantas ofertas religiosas (pluralismo religioso), é preciso saber dar as razões de nossa esperança em Cristo (cf. 1Pd 3,15).
A iniciação tem como objetivo levar o cristão a se identificar com sua fé através do discipulado; a ser incorporado em Cristo e participar de sua missão.
A iniciação produz uma passagem de um estado de vida a outro. Está na origem de um processo de mudanças que permite à pessoa ser introduzida na comunidade humana, num mundo de valores, com vistas a uma experiência mais perfeita de Jesus Cristo, tornando-se forte para a missão
O modelo mais antigo de iniciação cristã é a preparação através da qual se recebem os três sacramentos (batismo, crisma e eucaristia) que conferem a identidade cristã. Processo preparado pelo catecumenato que progressivamente vai introduzindo a pessoa na compreensão dos mistérios da fé. Isto perdurou na Igreja até o século IV – V.
2. Casa da Iniciação cristã
“Para que as comunidades sejam renovadas, devem ser casa de Iniciação à Vida Cristã, onde a catequese há de ser uma prioridade. Um novo olhar permitirá uma nova prática”(Doc. 100 CNBB/2014).
O grande desafio da pastoral paroquial é fazer com que todos percebam o vínculo que há entre Batismo, Confirmação e Eucaristia. Pretende-se passar da catequese como mera instrução para adotar a metodologia ou processo catecumenal conforme as orientações do Ritual de Iniciação Cristã (RICA) e o Diretório Nacional de Catequese. “Neste sentido, padres, catequistas e a própria comunidade precisam de uma conversão pastoral para rever a catequese de adultos, jovens, adolescentes e crianças” (Doc. 100 – CNBB/2014).
3. Iniciação cristã: articuladora das urgências na missão evangelizadora
As Diretrizes gerais da ação missionária apresentam a Iniciação cristã como 2ª urgência: Igreja: casa da iniciação cristã (Doc. 102 – CNBB/2015 Diretrizes)
Missão como 1ª urgência: “O estado permanente de missão implica uma efetiva iniciação à vida cristã” (Doc. 102 – CNBB/2015 Direttrizes).
Animação bíblica da pastoral é a 3ª urgência. Iniciação à Vida Cristã e Palavra de Deus estão intimamente ligadas. Uma não pode acontecer sem a outra” (Doc. 102 – CNBB/2015 Diretrizes).
A Igreja: comunidade de comunidades é a 4ª urgência pois o discípulo missionário vive sua fé em comunidade. Sem comunidade, conversão à Palavra de Deus, testemunho de fé, não há a Igreja…tudo isto se dá na Iniciação cristã.
A Igreja a serviço da vida plena para todos (5ª Urgência). A Igreja da caridade, samaritana diante dos sofredores deste mundo, nela se vive a missão.
Na transmissão da fé a Igreja entrega ao fiel tudo o que ela crê e é, iniciando-o em sua doutrina, vida e culto. Transmissão da fé e iniciação cristã se exigem mutuamente e mutuamente se aperfeiçoam.
Conclusão
A Iniciação à vida cristã é uma urgência (cf. DAp 131-136) que aglutina todas as outras. É um longo processo vital de introdução à vida e pratica da fé em todos os seus aspectos. (cf. tb. Com adultos, catequese adulta – Estudo CNBB n. 80).
A opção pela Iniciação Cristã supõe renovação e revitalização interna e profunda da Igreja. Significa dar de fato a primazia à ação missionária e evangelizadora. É superar a tendência de centrar-se sobre si mesma em uma pastoral de conservação, para se abrir criativamente aos não crentes, cristãos afastados ou indiferentes, inseguros ou vacilantes.
A essência da missão da Igreja é professar a fé, dar testemunho desta fé e transmitir a fé. A Igreja deve transmitir Jesus Cristo e colocar as pessoas em contato com Ele, não existe urgência mais urgente. É isto que pretende fazer a Iniciação à Vida Cristã.
É durante toda a vida do cristão que esta fé é transmitida e vivida e anunciada. De modo particular a Igreja entrega a vida que tem, transmite a vida que vive e gera nela pela Iniciação Cristã.#