Diocese de Santo André

Homem de Fé, coragem e cultura

 Dom Jorge Marcos de Oliveira foi o primeiro bispo de Santo André quando da criação da diocese em 22 de julho de 1954. Era carioca e tinha sido por vários anos bispo auxiliar do Rio de Janeiro, antes de aqui chegar. Dom Jorge renunciou à Diocese em 1975 por motivo de saúde. Foram vinte e dois anos de intenso trabalho pastoral e apostólico em um período no qual se fez o Grande ABC. Destaco três virtudes que sobressaiam em Dom Jorge conforme testemunho dos que o conheceram de perto.

A primeira virtude que se destacava em Dom Jorge era sua fé inabalável em Deus e consequentemente no ser humano. A partir de sua entrega a Deus ele se entregou totalmente, como primeiro bispo de Santo André, à causa da promoção humana, que para ele era indispensável no processo de evangelização, como escreveu o papa Paulo VI na Evangelii Nuntiandi, documento que trata da evangelização no mundo de hoje.

Chegando no Grande ABC que compreende a extensão do território da Diocese desde então, ele se preocupou não somente em criar paróquias e comunidades, consolidando as existentes, mas também se preocupou com a vida do povo sofrido. Por ocasião de sua chegada, começava também a migração de pessoas vindas para cá em busca de uma vida melhor. Isto aumentou com o processo de industrialização e a instalação das grandes montadoras. Os problemas sociais se avolumaram e o bispo era uma referência, uma pessoa à qual todos recorriam para remediar os males sociais.

Uma segunda virtude que se destacava em Dom Jorge era sua coragem. A ele se poderia aplicar o dito de Plutarco: “O homem verdadeiramente corajoso não busca perigos, mas enfrenta-os”. Dom Jorge soube enfrentar os perigos e correr riscos em sua missão de Pastor e Profeta, numa realidade conflitiva como era o Grande ABC em evolução naquele tempo. Compreendendo que a fé sem obras é morta, como ensina o apóstolo São Tiago, ele se lançou na grande empreitada da caridade social. Foi assim que surgiram muitas obras caritativas uma das quais se destaca até hoje: o Lar Menino Jesus que acolhe crianças.

Em terceiro lugar Dom Jorge se destacava por sua cultura, seu humanismo integral, que hoje é lembrado por aqueles que o conheceram de perto. Também na promoção da cultura ele buscou colocar em prática seu lema episcopal: “restaurar tudo em Cristo”. Dom Jorge tinha um bom relacionamento não somente com os operários que ele muito incentivou e apoiou ao ponto de o Professor José Pedro Martins, em um de seus livros, dizer que ele está na origem da consciência social e sindicalista do Grande ABC, mas também foi um homem que apoiou a cultura, a educação para todos.

Recordar os grandes homens que souberam construir um mundo melhor ouvindo a Palavra de Deus e o Povo, é sempre bom. Nosso momento histórico exige dirigentes que saibam discernir o que é melhor para todos. Com muita coragem e abnegação se construirá um futuro de inclusão onde caibam todos. Sem a fé em Deus, a coragem e o amor ao saber, ficaremos patinando, como ovelhas sem pastor, ou com pastores e governantes incapazes de aprender as lições de sabedoria que emanam da Palavra de Deus e da vida de nosso povo. Somente o conhecimento adquirido pelos estudos não bastam.

O que fez de Dom Jorge um grande bispo, como escreveu Carlos Heitor Cony, seu colega de seminário, foi a coragem de ter um ouvido para escutar Deus e outro para escutar os pobres e ainda a capacidade de sempre ser muito franco e decidido nas tomadas de posição sempre analisadas com prudência.

 

Artigo desenvolvido por Dom Pedro Carlos Cipollini

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