Alguns não os veem, outros os acham importunos e há aqueles que têm medo. Mas de quem estamos falando? Dos pobres, os filhos prediletos de Deus. À margem de uma sociedade, muitas vezes egoísta e apressada, eles carregam histórias de injustiças, vícios, erros, mas nada que diminua o amor de Deus, pelo contrário, como Jesus nos recorda na passagem do rico e de Lázaro (Lc 16, 19-31), sendo que o último já teve seu lugar garantido no céu.
Para deixar a Igreja de Cristo mais perto de quem Deus mais ama, Papa Francisco instituiu o Dia Mundial do Pobre, que está no segundo ano em 2018, e a Diocese de Santo André organizou outra vez um evento pensando neles. Mas que já cresceu em comparação ao ano passado.
Com a contribuição de paróquias e comunidades religiosas, com seus leigos e missionários, aproximadamente 900 pessoas foram atendidas pela ação social na Praça do Carmo no dia 18 de novembro (Confira todos os números no final da matéria). Os moradores de rua e irmãos que necessitavam de ajuda receberam atendimentos médico, odontológico e jurídico, roupas, banho, corte de cabelo e barba, manicure, além de almoço e café da manhã.
O dia ainda terminou com a Santa Missa, presidida pelo bispo Dom Pedro Carlos Cipollini, que também conversou com os irmãos no período da manhã. “Jesus veio ao mundo pobre, viveu pobre e morreu pobre. Assim, Jesus nos mostra onde está o caminho da vida e da solidariedade que salva”, disse Dom Pedro. “Queremos, atendendo ao apelo do Papa Francisco, fazer um sinal que, se Jesus está do lado dos pobres, a Igreja também está. Tudo sinaliza que a Igreja quer seguir os passos de Jesus. E todo o cristão precisa fazer algo para os pobres”, frisou o bispo.
Histórias de sofrimento
Estes pobres vêm com histórias, que, por muitas vezes, preferem nem contar. “Olha, moço, eu moro com meu marido. Tive um probleminha com bebida e fiquei internada por um mês. Mas estou melhor. Tenho um casal de gêmeos, mas é difícil falar. Só Deus mesmo. Eles estão com meus tios”, contou L.C, 29 anos, que abriu o sorriso quando falou da ação da Igreja. “Gosto disso. Eu conheço, já tive com o pessoal da Missão Belém (comunidade católica)”, completou.
Alguns só vieram por causa da amizade. “Um irmão da igreja ajudou a gente chegar aqui. Perdi meu trabalho, separei da mulher e pago a pensão da minha filha”, explicou R.R.S, 31 anos, que iria tomar banho. “Somos amigos (falando do R.R.S), um ajuda o outro na rua. Estou gostando muito daqui”, emendou C.B.L, 38, que toca violão e guitarra. Ambos vieram de Mauá.
Há ainda quem estava batalhando por um emprego para se aposentar e aproveitou para usar os serviços disponíveis, como o de manicure. “Sou de (São José do) Rio Preto e vim para cá para tentar um emprego. Faltam três meses para me aposentar. Sou auxiliar de enfermagem e, com minha idade (49 anos), só indicação. Estou gostando muito da ação da Igreja. Estão dando roupa, sapatos”, frisou J.R.S.
Experiência de vida
Quem estava servindo contou como influencia na fé. “Isso é revigorante porque minha conversão foi com os pobres. Fiz muito Pastoral de Rua e via nos pobres a face de Cristo. Muitas vezes, Deus falou comigo por meio dos pobres. Então, é uma renovação porque sei que estou ao lado de Cristo, estando ao lado dos pobres”, disse o farmacêutico Rodrigo Luna, missionário da Comunidade Shalom e que auxiliou no atendimento médico.
Para Adilson Gonçalves Ferro, 42, da Paróquia Maria Mãe de Deus e dos Órfãos (Santo André), foi uma “experiência única”. “É a primeira vez que faço um trabalho deste. É importante é reconhecer a realidade e que precisamos dar mais atenção para quem precisa”, disse ele, que ajudou a distribuir as roupas. “Queremos dar o que tanto ganhamos de Deus para quem mais precisa. Estou muito feliz com esta ação, em participar. Foi um privilégio”, completou a cabeleira Vanessa Golin de Oliveira, da Paróquia Nossa Senhora de Lourdes, de Mauá.
Segundo um dos organizadores do evento, Airton Campanelli, o evento na Praça do Carmo é o ápice para quem gosta de ajudar ao próximo. “Quando, no dia a dia, levamos comida para eles, eles nos pedem roupa, o que é fácil ajudar. Mas quando nos pedem banho, médico, advogado, corte de cabelo ou fazer a barba fica mais difícil. Neste segundo encontro com os pobres tudo se tornou viável. É tudo bênção de Deus. Não tem como explicar. É só vivendo mesmo e agradecer a Deus por tamanha graça que tivemos neste dia”, finalizou.
Comunidades buscaram os irmãos de rua, alguns em outras cidades do Grande ABC. Durante a manhã, carros chegavam com mais irmãos de ruas para o atendimento. Depois, as próprias comunidades levaram de volta.
Números
400 pães com café com leite
400 pedaços de bolo
251 banhos
210 pares de sapato
1.000 peças de roupas
76 atendimentos médicos
3 chamadas de SAMU
295 Cortes de barba
339 Cortes de cabelo
26 atendimentos jurídicos
89 mulheres que fizeram manicure
380 almoços
800 sobremesas
200 kits de higiene
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Texto e fotos de Thiago Silva