Diocese de Santo André

Magnificat

A minha alma engrandece ao senhor! Engrandecer, magnificar, louvar, é a primeira palavra da versão em latim deste cântico de Maria do Evangelho de São Lucas (cf. Lc 1,46-55). Muitos biblistas acham que Maria não disse este cântico, exatamente com estas palavras e neste exato momento. Também para nós hoje é difícil lembrar exatamente quais foram as orações espontâneas que fizemos há tantos anos atrás. Não nos esqueçamos de que São Lucas escreveu o seu Evangelho muitos anos após a morte de Jesus.

Neste mês de maio, vamos recordar este cântico porque ele mostra-nos como a comunidade primitiva via Maria. Ele é testemunho sobre a pessoa desta mulher única. É como que o retrato de Maria que ficou para a comunidade que a conheceu e foi depois transmitido para as gerações futuras. Os relatos da infância de Jesus no Evangelho de São Lucas trazem-nos vários hinos: o cântico de Maria (Lc 1,46-55), de Zacarias (Lc 1,67-79), de Simeão (Lc 2,29-32). Estes cânticos têm em comum a presença do Espírito Santo, o anúncio da salvação que Jesus, a promessa de libertação que se estenderá a toda a humanidade, um clima de esperança e a certeza da vitória do bem e da luz. Este cântico tem semelhança com outros cânticos do Antigo Testamento como, por exemplo, o cântico de Ana (cf. 1Sm 2, 1-10).

O Magnificat pode ser dividido em três partes: a) Maria, a mulher de fé, se vê como a humilde servidora. Louva a Deus pela salvação recebida, mostrando assim sua profunda espiritualidade (cf. Lc 1,46-50). b) Maria, a profetiza, se revela como membro da nova humanidade. Ela proclama a vinda do Reino de Deus pois percebe que Deus está transformando as relações sociais (cf. Lc 1,51-53). c) Maria, mulher de seu povo, uma israelita que recorda a ação de Deus a partir de Abraão. Recorda que através da história Deus é fiel e seu amor é para todos e para sempre (cf. Lc 1,54-55)

O Magnificat começa com uma explosão de louvor: minha alma engrandece, exalta…meu espírito se alegra, rejubila… Esta exclamação significa que Maria no mais profundo do seu ser (alma, coração, vida) está centrada em Deus e não nela mesma, e ainda que o centro de seu ser (espírito) acolhe a Deus como sua raiz última. Em Maria Deus encontrou acolhida plena por isso ela se alegra, pois, Deus habita todo o seu ser.

Alegria é marca do Espírito Santo habitando em nós. A humildade de Maria também transparece pois, ela não é arrogante, vaidosa nem orgulhosa. Maria é uma mulher equilibrada e madura, isto é ser humilde humanamente falando. Reconhecer que tudo que você tem vem de Deus, ao mesmo tempo não tem falsa modéstia pois, sabe que todas as gerações a chamarão bem-aventurada.
O cântico de Maria traz até nós a esperança dos profetas e de toda a humanidade.   É o louvor da profetiza de uma nova humanidade. Esperança de que com o messias, o salvador, virá o Reinado de Deus, reinado de justiça e paz. Reinado de Deus onde os fracos e pobres terão vez, dignidade e vida. Maria profetiza a ação de Deus que transforma a sociedade. Deus tem força para dar vida ao que está morto e recriar o que está se extinguindo. Esta ação recriadora de Deus é fruto de sua misericórdia, sua compaixão. Deus tem o coração perto da miséria humana. Deus dispersa os soberbos (autossuficientes) e acolhe os humildes. Ele age com braço forte, quer dizer, toma iniciativa para intervir na história. Ele derruba do trono (poder político) os que usam mal o poder. Enche de bens os famintos e despede os ricos de mãos vazias (poder econômico opressor).

No Magnificat “Maria nos inspira um jeito de ser cristão atual, da cidadania planetária. Ela nos abre uma trilha nova e desafiadora, que integra mística e consciência histórica, espiritualidade e compromisso ecológico-social” (Ir. A. Murad).

Neste mês dedicado a Maria vamos repetir este cântico de Maria que é o cântico da Igreja.

*Artigo de Dom Pedro Carlos Cipollini para o jornal A Boa Notícia      

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