A análise de conjuntura social, política, econômica e cultural e a 6ª Semana Social Brasileira nortearam a segunda Coletiva de Imprensa da 58ª Assembleia Geral (AGCNBB) da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), realizada no início da tarde desta terça-feira (13/04), pela plataforma Zoom.
Participaram do bate-papo com os jornalistas das emissoras de televisão, rádio, sites, jornais e revistas católicas e assessores de imprensa das dioceses e arquidioceses, os bispos da Diocese de Carolina (MA) e presidente da Comissão de Análise de Conjuntura Social, Dom Francisco Lima Soares; da Diocese de Brejo (MA) e presidente da Comissão Episcopal para a Ação Sociotransformadora, Dom José Valdeci Santos Mendes; e da Diocese de Itacoatiara (AM) e membro da Comissão Episcopal para a Ação Sociotransformadora, Dom José Ionilton Lisboa de Oliveira.
Os profissionais foram acolhidos pelo presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Comunicação da CNBB, Dom Joaquim Giovani Mol Guimarães, com apoio da assessora de Comunicação da CNBB, Manuela Castro, e do coordenador de Comunicação da Diocese de Santo André e assessor da Comissão Episcopal para a Comunicação da CNBB, Pe. Tiago José Sibula da Silva.
Análise de Conjuntura Social
Presidente da Comissão de Análise de Conjuntura Social, Dom Francisco Lima Soares apresentou o documento “Povo de Deus sofre com a doença e a fome”, baseado num estudo realizado para a CNBB feito por um grupo que faz parte de oito pontifícias universidades católicas do Brasil.
“Foi visto e foi dito que o mundo inteiro já passava por graves problemas que explodiu com a pandemia. Havia um aprofundamento de crise econômica e muitas tensões políticas no mundo inteiro, como as polarizações entre os Estados Unidos e a China”, relata.
Com a chegada da pandemia do coronavírus, a situação se agrava. “A sobrevivência da humanidade foi colocada à prova. Neste sentido, os indicadores econômicos e a conjuntura política apontam na direção do aprofundamento da crise econômica e sanitária, porque elas levam a à fome, à miséria e à desesperança, que também matam e podem matar tantos ou até mais do que à Covid-19. Então, a crise social salta aos olhos, em especial nas periferias das grandes cidades”, salienta.
Na Diocese de Santo André, o Vicariato Episcopal para a Caridade Social tem incentivado a doação de alimentos não perecíveis nas paróquias e comunidades das sete cidades do Grande ABC, a fim de elaborar cestas básicas para distribuição às famílias carentes.
Aqui você pode fazer a doação utilizando o pix e conhecendo também os pontos de arrecadação
Segundo Dom Francisco, as economias dos Estados Unidos, do Japão e da China representam pouco mais da metade da riqueza mundial e quando chega a pandemia, países da América Latina, mais especificamente no Brasil, sofrem com o agravamento da crise e, principalmente, com a alta no preço dos alimentos.
“Além de uma série de problemas sociais, o Brasil tem tido muita dificuldade em termos de preservação do meio ambiente. A questão ambiental no Brasil é também um problema sério, somado ao problema político, que não existe uma coesão, uma harmonia”, constata.
“É um problema que nós como a Igreja precisamos nas pequenas iniciativas tomarmos posição sobre isso”, frisa.
Criado em novembro de 2019, o Vicariato Episcopal para a Caridade Social apresentou um Plano de Trabalho para 2021, que trata da atuação na busca do diálogo entre igreja, entidades e poder público para atender ao povo mais carente, principalmente nas regiões periféricas da Diocese de Santo André.
Solidariedade é fundamental
Membro da Comissão Episcopal para a Ação Sociotransformadora, Dom José Ionilton Lisboa de Oliveira também iniciou sua reflexão baseada numa fala do Papa Francisco contida num livro intitulado “Terra Futura: Diálogo com o Papa Francisco sobre ecologia integral”, em que o sumo pontífice diz que “a humanidade é pisoteada por esse vírus (falando da pandemia da Covid-19) e por tantos outros vírus que nós ajudamos a crescer”. Ele complementa dizendo: “esses vírus injustos são a economia de um mercado selvagem e as injustiças sociais violentas.”
Dom Ionilton também comentou sobre o relatório de análise de conjuntura em que destaca o maior colapso hospitalar e sanitário do Brasil vivenciado diante da pandemia da Covid-19.
“Nós, como Igreja, estamos neste primeiro momento fazendo o que nós podemos à nível de solidariedade. Está aí a Ação Emergencial “É Tempo de Cuidar” da Cáritas, que salvou muitas vidas com certeza, com todas as ações em cada diocese e cada arquidiocese, porque a caridade agora é o verbo, a ação principal. Temos que fazer caridade”, reforça Dom Ionilton, ao citar artigo que escreveu para o site da CNBB que fala da capacidade de indignação, também.
“Indignação com o que levou a esse maior colapso sanitário e hospitalar da história do Brasil. E aí lembrei que o Papa Francisco, na (Exortação Apostólica Pós-Sínodal) Querida Amazônia, nos chama a se indignar. Não podemos ficar indiferentes e pede que a gente não se deixa anestesiar a nossa consciência social”, ao recordar a Constituição Federal, que diz no artigo 196: “ a saúde é direito de todos e dever do Estado.”
Ação Sociotransformadora
Com o tema central “Mutirão pela vida: por terra, teto e trabalho”, a 6ª Semana Social Brasileira é uma iniciativa da CNBB vivenciada ao longo de três anos (2020-2022). Segundo o presidente da Comissão Episcopal para a Ação Sociotransformadora, Dom José Valdeci Santos Mendes, a inspiração para o tema surge a partir de 2014, quando o Papa Francisco se encontra com os movimentos populares “nenhuma família sem teto, nenhum camponês sem terra, nenhum trabalhador sem direito”.
Diante dessa motivação, três eixos estruturais norteiam a 6ª Semana Social Brasileira: a democracia, a soberania e a economia. “No sentido de que à democracia que queremos refletir é sobre uma democracia participativa, uma democracia onde a pessoa tem voz, vez e participação. A economia, a partir do ângulo de olhar a experiência das próprias comunidades, experiências que estão dando certo e como tem a soberania, olhando sobretudo as nossas comunidades, o que há de importante que está acontecendo, tanto no campo como na cidade”
A 6ª Semana Social Brasileira traz como grandes objetivos, a articulação e mobilização das pessoas da Igreja, dos movimentos sociais e populares, e a sociedade brasileira para o envolvimento nos processos sócio políticos do país, realizando mutirões (mais de 90 promovidos no formato online) resultando em processo de mobilização, formação e proposição de ações concretas de incidência política e transformação social nos âmbitos locais e nacional, bem como reconhecimento e valorização das potencialidades de resistência popular nas lutas cotidianas do povo, numa parceria com todos movimentos populares, centrais sindicais, com todos aqueles que lutam por uma sociedade mais justa e mais fraterna, pautada na justiça, na dignidade e no direito.
“Possibilitar levantamento e sistematização de violações de direitos humanos e da natureza que afetam o acesso à dignidade e conquista da terra, teto e trabalho, contribuindo para a elaboração de concretização do projeto popular para o Brasil”, enfatiza Dom Valdeci.
“A 6ª Semana Social é um grande acontecimento que deve ocorrer em todos os estados, municípios, dioceses, arquidioceses, paróquias, envolvendo todos os movimentos e a sociedade, para dizer que nesse processo queremos apontar rumos e caminhos que de fato prevê e ajude o nosso povo a conquistar espaço, direito e dignidade”, finaliza.
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