HOMILIA DA MISSA CRISMAL

4/8/2021 – Memória litúrgica de São João Batista Maria Vianney Cura d’Ars

Dom Pedro Carlos Cipollini – Bispo de Santo André

 

Queridos presbíteros, diáconos religiosos, fiéis leigos, seminaristas.

Todos que nos seguem pelas redes sociais da Diocese,

Exmo. Sr. Dom Nelson Westrupp, do que comemora 30 anos de episcopado:

 

Como é bom estarmos aqui. Marcar nossa presença diante do Senhor Jesus crucificado e ressuscitado, estarmos juntos, rezarmos juntos, refazer nossas forças ao redor da Eucaristia que é o nosso tesouro, sim o tesouro do sacerdote, que preside a santa missa, e para isso é ordenado.

Estamos neste dia celebrando a Missa Crismal que não nos foi possível celebrar no dia em que deveria ocorrer, devido á pandemia ainda em curso, não acabou mas arrefeceu-se um pouco, possibilitando este nosso encontro. Esta celebração é ponto alto da vida do Clero em especial para os presbíteros. É dia de receber o amor de Cristo que chama e renovar o propósito de segui-lo, neste tempo desafiador, através da renovação das promessas sacerdotais.

Hoje também estamos encerrando o Ano Vocacional que mobilizou nossa diocese, focando nas vocações sacerdotais. Erguemos a Deus nossa ação e graças pelos 30 anos de episcopado de Dom Nelson, bispo Emérito. Ele justificou sua ausência por motivo de saúde, em carta a mim endereçada, ontem à tarde. Porém está nos seguindo pela mídia da diocese, e portanto, em comunhão conosco. No final da celebração será saudado por um representante do Presbitério.

Cada ano na Missa crismal somos convidados a renovar nosso sim, à chamada de Deus que pronunciamos no dia de nossa ordenação sacerdotal. Eis-me aqui! Dissemos e nos prostramos. O próprio Senhor Jesus pelas mãos do bispo, impôs suas mãos sobre nós, nos consagrou e ungiu para a missão. Alguns já percorreram um longo caminho, outros estão iniciando. Quantos trabalhos, cansaços, desilusões talvez, tristezas, mas também quantas alegrias, alegrias profundas e verdadeiras.

Sacerdote para que? Para estar diante de Deus e o servir na pessoa dos irmãos e irmãs. Esta é a essência do ministério sacerdotal (cf. Dt 18,5-7).

Grandiosa é a missão que cada um recebeu, grande é a missão do sacerdote. Você é privilegiado, um escolhido por Deus entre tantos. Agradeça a escolha que Ele fez de você, o chamado e a unção são fontes de alegria! “Não fiqueis tristes como os outros que não tem esperança”(1Ts 4,13), exorta o apóstolo Paulo. E Nosso Senhor diz aos apóstolos: “Aminha alegria esteja em vós, e a vossa alegria seja completa” (1Jo,15-11).

Vamos abençoar os santos óleos para ungir o povo de Deus. Nos sacramentos o Senhor Jesus nos toca por meio dos elementos da criação. Os sacramentos são expressão da corporeidade de nossa fé, que abraça o corpo e a alma, a pessoa inteira. Como faz bem considerarmos isto! Deus assume nossa corporeidade, nossas fraquezas, nossas inseguranças e dúvidas. Ele sabe que desejamos ser sempre melhores, mas nossas forças às vezes não ajudam. Então ele vem ao nosso encontro como bom samaritano e derrama óleo sobre nossas feridas.

O belíssimo hino que cantaremos a seguir “Acolhei, ó Redentor” nos exorta à confiança; “Quem na fraqueza se abisma, seja em vigor restaurado, graças à unção deste crisma, que te fez do Cristo soldado” e ainda nos pede este hino; “Seja festivo este dia, dele se faça a memória, óleo de santa alegria, já nos promete a vitória”.

Estamos iniciando este mês dedicado ás vocações na Igreja. Nesta primeira semana rezamos pelas vocações sacerdotais e celebramos hoje o dia do padre, na memória litúrgica do padroeiro o Santo Cura d ‘Ars. Sei que estamos em um momento difícil para os padres, há uma crise em forma de cansaço, insatisfação, desânimo. Alguém perguntou: como dizer feliz dia do padre para padres infelizes?

Talvez você tenha tudo para sentir-se infeliz… É o peso exagerado dos múltiplos trabalhos e exigências do ministério. O risco de se tornar funcionário. É o povo bom, mas exigente demais com os padres. Os padres não conseguem atender a multiplicidade de grupos e pastorais. Fiéis que não aceitam ser corrigidos. É a necessidade de formar o povo para a compaixão evangélica e não para o moralismo conservador. É a necessidade de cuidar da saúde, mas sobretudo dos sentimentos e do equilíbrio psíquico, em uma sociedade que está na era do vazio. Sim, tudo isto é real, mas cada geração tem sua batalha a vencer, sem medo e sem amargura. Não deixe a amargura e o vitimismo tomar conta de sua vida

Mas temos a certeza de que você tem tudo para se sentir feliz. Você é muito amado por quem lhe chamou, por Jesus. E é ele a sua força, a nossa força: “Vinde a mim vós todos que estais cansados e sobrecarregados e eu vos aliviarei” (Mt 11, 28). Isto vale para nós bispos e padres sobretudo. Tenhamos fé. “A fé é a resposta a uma Palavra que interpela pessoalmente, a um Tu que nos chama por nome” diz o Papa Francisco (Lumen Fidei, n. 8).

Seja Jesus teu caminho, Verdade e Vida. Seu amigo certo nas horas incertas. Tenha amigos verdadeiros, não é possível ter muitos, mas tenha. É uma grande ajuda. E sobretudo reze. A oração é a força do sacerdote para vencer as batalhas e introduzi-lo na terra prometida da paz de espírito e fortaleza da alma. Tenha paciência, dias melhores virão. A paciência é a esperança segurando sua lâmpada acesa em meio á escuridão.

Todos conhecemos a história de vida do Santo Cura d‘Ars. Ele também sentiu cansaço. Por duas vezes tentou fugir de Ars (cf. F. Trochu, O Cura D’Ars, Vozes, 1959, p. 288-305). Não aguentava mais, se sentia esgotado. Foi na oração que encontrou forças para perseverar, para rever sua decisão e até viver com bom humor. O Cura d’Ars viveu o que ensina hoje o papa Francisco: “A caridade e a misericórdia exigem que um Padre se comprometa também a endireitar o que às vezes saiu errado. Todos precisamos da misericórdia e ao mesmo tempo da correção da Igreja. Esta falta de percepção da ligação, entre a misericórdia e a correção, causou muito dano à Igreja no passado” (cf. in Constituição Apostólica Pascite gregem Dei de 23 maio 2021). Sim é difícil esperar com humildade e paciência. Fácil é desesperar! É a grande tentação diante da banalização do mal em nós e no mundo.

Permitam-me externar a todos os sacerdotes aqui presentes minha gratidão, meu carinho. Que sejam realizados no ministério. Não digo sejam felizes da felicidade do mundo que não ama a cruz, mas da felicidade evangélica que inclui a cruz, a qual paradoxalmente é motivo de alegria.

Saibam os senhores que amo e me preocupo com todos vocês presbíteros. Grande parte de meu ministério é me ocupando e preocupando com os senhores. Uma prova disso é que quis morar com um padre, preferi um padre para me ajudar como bom Cireneu. Agradeço o Clero que me forneceu dois ótimos padres para esta difícil função (Pe. Guilherme e Pe. Camilo). Somente um Clero de alta envergadura,  pode ter padres capazes de servir nesta missão delicada, mas tão necessária, numa diocese populosa como a nossa.

Quero agradecer o nosso Clero pela coragem e perseverança neste tempo de pandemia. Foi muito edificante presenciar o zelo e desprendimento do Presbitério principalmente. Zelo no atendimento diante de tanto sofrimento e risco que correram. Desprendimento pela renúncia a parte da côngrua e a aceitação de privações. Em nome de nossa Diocese: Deus lhes pague pela generosidade e colaboração, principalmente em ajudar a manter as estruturas necessárias da Diocese, para o bom funcionamento do conjunto.

Coloquemos como intenção especial desta Santa Missa o Sr. Bispo Emérito Dom Nelson. Rezemos também pelos padres que estão em tratamento de saúde em especial o que está mais combalido, Pe. George. E por fim, rezem por mim, para que eu possa ser melhor, no desempenho da missão que me foi confiada. Que apesar da minha fragilidade, possa contar com vossas valiosas orações e a colaboração de todos.

AMÉM.