Celebrando a unidade na diversidade e a importância da Igreja em saída nos tempos atuais, a abertura do Ano Jubilar Scalabriniano aconteceu oficialmente neste domingo (07/11) recordando a figura do beato João Batista Scalabrini – fundador da Congregação dos Missionários de São Carlos – , cuja beatificação completará 25 anos no dia 9 de novembro de 2022, data do encerramento do Ano Scalabriniano com o tema “Fazer do mundo a pátria do homem”. Esse período também intensificará as orações e as iniciativas, a fim de que o bem aventurado Scalabrini seja proclamado santo.
Na Basílica Menor – Paróquia Nossa Senhora da Boa Viagem, a Igreja Matriz de São Bernardo, a programação teve início com a Santa Missa, celebrada em várias línguas, e logo depois, uma série de apresentações culturais, com as presenças de representantes da Bolívia, Paraguai, Brasil, Itália e Rússia, além de barracas com comidas típicas de diferentes países.
Na Igreja Matriz de Santo André, a abertura do Ano Scalabriniano aconteceu em todas as missas dominicais. Em Ribeirão Pires, a Capela João Batista Scalabrini (Rua Inglaterra, nº 41 – Jardim Dois Melros) sediará missa nesta terça-feira (09/11), às 19h.
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A Igreja em saída e as vocações cultivadas por Scalabrini
Um momento que emocionou a todos os presentes na celebração ocorrida na Basílica Menor aconteceu antes da homilia do Pe. José Edvaldo Pereira da Silva, CS – diretor do Instituto Cristóvão Colombo (ICC), em São Paulo, que presidiu a celebração – com a entrada das imagens de Nossa Senhora, com seus títulos marianos de vários países, carregadas por imigrantes acolhidos pelo Brasil, os leigos scalabrinianos com as bandeiras das nações e o quadro do beato Scalabrini, além das crianças da Catequese depositando flores em frente ao altar.
“João Batista Scalabrini cultivava três grandes vocações: da eucaristia, do crucifixo e de Nossa Senhora. Ele dizia que é da eucaristia que emana a alma das missões, a força do testemunho, a capacidade de se entregar a Deus para ir além dos próprios limites, para poder se dirigir às pessoas com aquele afeto, com aquela disponibilidade para abrir a porta dos corações e servir ao próximo, aos migrantes”, constata Pe. Edvaldo.
De acordo com o padre carlista, João Batista Scalabrini viveu numa época de conflito entre Igreja e Estado, uma crise social muito grande, mas que era um visionário e um homem de Deus a frente do seu tempo. “Destaco uma frase que ele dizia: “Devemos sair do templo para exercemos uma atividade salutar no templo”. Hoje, o Papa Francisco diz: Igreja em saída! Ele dizia no tempo dele, ir aonde o povo está, ir aonde a Igreja precisa estar para ser uma palavra de conforto, para ser inspiração, para levar Jesus Cristo aqueles corações famintos e sedentos da palavra”, constata.
No dia 9 de novembro de 2022 será celebrado o jubileu de prata da beatificação de João Batista Scalabrini (1839-1905), bispo de Piacenza, na Itália, fundador da Congregação dos Missionários de São Carlos e considerado o Pai dos Migrantes.
“Queremos pedir a graça de vivermos como Igreja, acolhidos dentro desse espírito scalabriniano. Convidamos a todos para rezar por esse rosto de igreja multicultural, para sermos acolhedores, sobretudo, com aqueles que estão chegando à nossa terra”, conclama Pe. Alejandro Cifuentes Flores, pároco anfitrião, que participou da missa juntamente com outros padres scalabrinianos.
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O acolhimento e a missionariedade
O catequista Edmar José dos Anjos de Souza, 35 anos, recorda que o legado de João Batista Scalabrini continua presente nos tempos atuais, ao dizer que o beato sempre foi uma pessoa atenta ao seu tempo, na Itália, quando o país passava por um grande fluxo de migração. “Foi um homem que observando aquelas pessoas migrando em situações de vulnerabilidade, pensou: “Preciso fazer algo, enxergar Cristo nos migrantes”. Então, esse carisma, essa herança do Scalabrini está muito presente nesta comunidade, onde nós estamos muito atentos àquelas pessoas que vêm até nós, onde nós podemos estar evangelizando e também ajudando materialmente muitos migrantes, muitos refugiados de guerra. Porque esse é o sonho de Scalabrini: ser com o outro, ser migrante com o migrante, mostrando a consciência dessa identidade num mundo em mobilidade”, comenta o analista de sistemas.
A professora Patricia Aparecida Pereira Batistini, 50 anos, avalia que a motivação principal para vivenciar esse Ano Scalabriniano é apresentar a vida de João Batista Scalabrini àquelas pessoas que ainda não o conhecem, a fim de inspirar o acolhimento aos migrantes e a missionariedade – prioridades presentes no 8º Plano Diocesano de Pastoral – com o objetivo de retomar a dignidade das pessoas, muitas delas em situação de rua e passando fome.
“A acolhida é um diferencial, porque esse espírito scalabriniano nos motiva para isso. Trazer essas pessoas para perto, que chegam de um lugar, de nacionalidades e línguas diversas, mas precisamos lembrar que todos somos filhos de Deus. É isso que Ele quer: uma única família em Cristo”, cita Patrícia, que junto com o marido Sérgio participavam da Paróquia Santo Antônio, no Bairro Batistini, e atualmente são ministros da Eucaristia da Paróquia Nossa Senhora da Boa Viagem. “Somos um exemplo dessa acolhida fervorosa que encontramos aqui”, frisa.
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A unidade na diversidade
Essa unidade na diversidade que demonstra a riqueza cultural e promove a união dos povos em Jesus Cristo foi observada durante a abertura do Ano Scalabriniano. Presente à celebração, o secretário de Cultura de São Bernardo, Adalberto José Guazzelli, 56 anos, nasceu na cidade do Grande ABC, mas tem suas raízes ligadas à Itália, já que há quase cem anos, seus avós italianos Guazzelli e Bechelli chegaram ao Brasil na década de 1920. “O Brasil é feito de várias culturas, vários povos imigrantes, e uma peculiaridade que une a todos é a recriação da sua história num local diferente”, analisa.
Segundo Adalberto, que também é comerciante, a Igreja é fundamental neste sentido, porque a fé além de unir, traz esperança e revigora esses povos. “Lembro muito bem quando criança via os meus avós falando que eles tinham três coisas que trouxeram para o Brasil: a fé, a vontade de trabalhar e a união familiar, (a expressão “Dio, famiglia e lavoro”) que era a trindade do imigrante. E isso vejo em todas as nações, povos imigrantes que vêm para cá, porque o imigrante, de fato, sai de sua terra por uma necessidade, ninguém quer deixar a sua casa, e como falei é muito importante termos na Igreja essa união, essa unidade que torna nos todos irmãos, independente do país, da região”, salienta.
Há nove anos no Brasil, a mexicana Maria Fernanda Cota Montoya, 39 anos, disse que é muito emocionante presenciar todos unidos na mesma fé. “Para mim é muito importante essa união de todos os povos em Cristo, a força que Ele nos dá para fazer chegar a um lugar novo. Nos faz sentir que pertencemos à comunidade. Sou muito grata por ser acolhida neste país tão lindo que é o Brasil”, agradece a professora de espanhol, casada com um brasileiro.
A boliviana Cristina Edmunda Sanchez de Orellana, 57 anos, nutre do mesmo sentimento. A costureira e microempreendedora no segmento de confecção de roupas vive no Brasil há 31 anos e demonstra igualmente o amor pelas duas pátrias. “Não esqueço do meu país, amo a Bolívia, mas também amo o Brasil. Me sinto uma filha desse país”, afirma a mãe de dois filhos, que considera a fé um fator essencial para superar os desafios no mundo de hoje. “Algo que aprendi muito nesta caminhada com os padres scalabrinianos, de como a Igreja ajuda a nos fortalecer espiritualmente e como a acolhida é importante”, ressalta Cristina, responsável por levar a imagem da Nossa Senhora de Copacabana, a padroeira da Bolívia, juntamente com todos títulos marianos em frente à representação do Sagrado Coração de Jesus, numa mensagem que traz a unidade de todos os povos em Cristo.