Instituída na diocese em maio na Assembleia da Caridade, a Comissão Justiça e Paz da Diocese de Santo André vem externar à sociedade brasileira, em especial aos cristãos de nossa região, a consternação com os graves e repetitivos eventos de violências e atentados à paz, neste momento tão relevante da história do país.
Chamam a atenção, particularmente nas últimas semanas, o assassinato do indigenista brasileiro, Bruno Araújo Pereira, e do jornalista inglês, Dom Phillips, enquanto percorriam a floresta amazônica em prol de um trabalho em defesa dos povos indígenas e da floresta, e a morte de Marcelo Arruda, guarda municipal de Foz do Iguaçu (PR) perpetrada por um militante político alucinado de ódio, enquanto a vítima comemorava seu aniversário de 50 anos. Estes e outros atos são mostras da intolerância extrema que resulta do discurso de ódio cotidianamente disseminado, a revelar uma preocupante escalada de hostilidades de toda ordem.
O aumento do desemprego, a precarização do trabalho, a desigualdade social, o ataque sistemático aos territórios dos povos indígenas, a fome, o aumento da população de rua são algumas das formas da violência estrutural visibilizada nos tempos de hoje. Ricos cada vez mais ricos e pobres cada vez mais pobres.
O número de armas de fogo nas mãos da população aumentou mais de 300%, de 2018 a 2021. “O gasto com armas é um escândalo, suja o coração, suja a humanidade” (Papa Francisco, 21 de março de 2022), particularmente quando alimentado por discursos fundamentalistas, inclusive religiosos, que transformam adversários em inimigos e comprometem a fraternidade.
Tudo isso é a face que emana do mesmo mal: êxtase de ódio, egoísmo, preconceito, instigação, armamentismo.
Nosso país, desde a redemocratização, conviveu pacificamente com as disputas eleitorais e, por mais acirradas fossem, sempre foram realizadas de forma pacífica. Surge agora um clima diferenciado, que exige das autoridades ações enérgicas para refrear a escalada indesejável da violência, que gera cada vez mais violência.
Repudiamos esses episódios de intolerância, ódio e ganância. Conclamamos e exortamos nosso povo a rejeitar o ódio que gera o ódio, recusando provocações, e acreditando que a via pacífica será o caminho para superação dos nossos problemas.
É preciso expressar esperança aos sofredores, para que não desistam, aos que têm poder de cuidar, defender e promover o bem comum, para que não se omitam e aos que diretamente ferem e destroem a paz, para que se convertam!
Esperança, Justiça e Paz!
Comissão Justiça e Paz da Diocese de Santo André, 14 de julho de 2022
“Digo-vos que, se estes se calarem, as pedras clamarão” (Lc 19,40)