Entrevista com Dom Pedro Carlos Cipollini
Bispo de Santo André
- A Diocese de Santo André completou 70 anos no dia 22 de julho. Ao longo deste período, quais as principais transformações e desafios enfrentados?
Foram muitos os desafios. Primeiro foi a fase inicial de implantação da nova Diocese, com território totalmente desmembrado da Arquidiocese de São Paulo. Nesta época estava iniciando a expansão industrial do Grande ABC e a chegada de migrantes e imigrantes vindos para trabalhar exigiu da Igreja um esforço enorme, para evangelizar sem se esquecer da promoção humana. Surgem assim as pastorais sociais. O crescimento rápido da população, a falta de padres, a evangelização em tempos de ditadura, as transformações que se sucederam até o nosso hoje marcado pela tecnologia. São múltiplos os desafios e eles crescem a cada dia.
- O papel da Diocese continua sendo o mesmo que era em sua fundação ou houve adaptações?
O papel de uma Diocese é sempre o mesmo: ser uma Igreja de pedras vivas, construída através da fé dos fiéis que dela fazem parte. A Diocese é uma porção do Povo de Deus, da Igreja que está localizada em determinado local. Ela deve dedicar-se à evangelização, celebrar os sacramentos e dar testemunho de Jesus Cristo, dentro da realidade em que vive. É lógico que suas tarefas vão exigindo que se exerça a missão de maneira diferente, conforme a sociedade vai evoluindo. Cada época, cada década teve seu desafio especial, embora existam desafios que permanecem, estão sempre presentes. Cada um dos quatro bispo que me antecederam fizeram sua parte e deixaram seu legado, que procuramos levar avante.
- O sr. foi nomeado como bispo da Diocese de Santo André, em maio de 2015. Nestes nove anos à frente da Diocese, quais foram as mudanças realizadas e melhorias?
Com a graça de Deus e ajuda dos padres e leigos, foram muitas as mudanças e melhorias realizadas. Percorri toda a Diocese em visita pastoral missionária, acompanhado de padres e leigos. Foi marcante, algumas comunidades nunca tinham recebido visita do bispo. Mas no início, após saldar as dívidas que encontrei, o grande desafio foi reorganizar a administração das paróquias, readaptar a administração central da Diocese, criar mais paróquias (foram sete), as transferências de padres que atingiu todas as paróquias, feitas pela necessidade de revigorar a pastoral. Uma realização que tem uma distinção especial foi o Primeiro Sínodo Diocesano do qual participou toda a Diocese. Foram traçadas as linhas mestras da ação evangelizadora e se articulou o 8º Plano de Pastoral. Foi criado o Vicariato Episcopal para a Caridade Social que é a organização da ação caritativa da Igreja junto aos pobres. Foi criado o Tribunal Eclesiástico. Foram reformadas as três casas do Seminário Diocesano e ordenados 28 padres para a Diocese de Santo André. Foram elaborados Diretórios para facilitar a vida interna da Igreja nas suas várias dimensões.
- Quantos membros e fiéis possui a Diocese de Santo André? Como mantê-los e atrair novos fiéis?
A Diocese abrange os sete municípios do Grande ABC. É uma população de 2.696.530 habitantes conforme o último senso. Deste montante temos 46% que se declaram católicos ou seja 1.240.404. A Igreja Católica está bem enraizada no ABC, embora tenha diminuído seu número, não tanto porque muitos se tornaram evangélicos, mas porque muitos não querem participar de comunidade religiosa nenhuma e cresce também o número dos ateus. A atração de novos fiéis se dá pela pregação do Evangelho, pelo testemunho, enfim pela acolhida e missão, que são os objetivos pastorais de nossa pastoral diocesana.
- Qual é a seu ver a maior conquista nestes anos todos?
Creio que para todos nós católicos, a maior alegria é a alegria de evangelizar, de poder levar o Evangelho a todos. No dizer do Papa Francisco: “a suave e reconfortante alegria de evangelizar, mesmo quando for preciso semear com lágrimas” (EM 10).