Diocese de Santo André

De onde vem a paz?

DE ONDE VEM A PAZ?
Dom Pedro Carlos Cipollini – Bispo de Santo André

O ano novo está chegando. No primeiro dia do ano, é celebrado o dia da paz ou da “confraternização universal”. Glória a Deus nas alturas e paz na terra! Este o anúncio do nascimento de Jesus (cf. Lc. 1,14). Este anúncio natalino leva a outro, feito por Jesus: bem-aventurados os que promovem a paz, serão chamados filhos de Deus (cf. Mt 5, 9).

Dedicar um dia para comemorar a paz é dedicar um dia para comemorar o sonho de Deus. Sonho que coincide com os anseios do coração humano. Todos desejamos a paz. Até mesmo os que fazem a guerra. Estes imaginam que a melhor maneira de conseguir a paz é se prevenir-se através da guerra: “si vis pacem para bellum”.

A paz que os anjos anunciaram, não é simples ausência de conflito, fim de um estado de guerra. Para o cristianismo, a paz faz memória da criação, da harmonia primeira descrita na Bíblia. No Paraiso, havia a convivência pacífica entre a criação, as criaturas e o Criador: Paz é a “inocência original”, na qual o homem foi criado e vive a harmonia consigo mesmo, com Deus, com os outros, com a natureza. Não é estado passageiro entre duas guerras.

Mas se todos querem a paz, por que a guerra? Não nos esqueçamos que toda violência – e estamos envoltos nela – é uma forma de guerra. O século que estamos vivendo deveria ser mais pacífico que o século passado, pois, com a globalização, a guerra seria um suicídio, dado a interligação de todos e a eficiência das armas.

De onde nos pode vir a paz? Jesus, certa vez, chorou sobre Jerusalém e disse: “Se reconhecesses aquele que pode te conduzir à paz” (Lc 19, 42). É Jesus que pode nos conduzir à paz. Ele é a nossa paz, como escreve o apóstolo Paulo (cf. Ef. 2, 14). Porém, muitos ainda não o veem, não ouvem sua voz, outros o rejeitam…

A mensagem central de Jesus é a fraternidade universal, Deus sendo Pai de todos. Todos vivendo como irmãos. Para isto é preciso desarmar o coração. Este é um gesto que nos compromete, do primeiro ao último, do pequeno ao grande, do rico ao pobre. Por vezes, é suficiente algo simples como um sorriso, um gesto de amizade, um olhar fraterno, uma escuta sincera, um serviço gratuito.

Com estes pequenos-grandes gestos, aproximamo-nos da meta da paz, e lá chegaremos mais depressa quanto mais, ao longo do caminho, ao lado dos nossos irmãos e irmãs reencontrados, descobrirmos que já mudamos em relação ao nosso ponto de partida.

Aproveito para saudar e parabenizar o Diário do Grande ABC pelo prêmio recebido: Mérito Legislativo/2024, concedido pela Câmara dos deputados. Justa homenagem a um jornal que defende a justiça e o direito, condições para que haja a paz tão desejada.

Artigo publicado no Diário do Grande ABC

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