São muitas as heranças do Papa Francisco. Uma delas é a “Jornada mundial dos Pobres”. Ele percebeu que, na atualidade, se não for a Igreja Católica a levantar a voz em nível mundial, em favor dos pobres, poucos o fariam. Existem gestos de generosidade, filantropia, promovidos por ONGs e outras entidades, mas a preocupação em resolver o problema da pobreza no mundo está ficando para trás. Grandes potências e conglomerados econômicos não se preocupam com pobres, a não ser para ignorá-los ou eliminá-los, inclusive através de guerras.
No dia 16 de novembro, celebraremos o IX Dia Mundial dos Pobres, com o tema “Tu és a minha esperança” (cf. Sl 71,5), escolhido pelo Papa Leão XIV. O “convite bíblico à esperança” e a missão da caridade, mandamento social da Doutrina Social da Igreja, mobilizam toda a Igreja do Brasil a realizar a Jornada Mundial dos Pobres, do dia 09 a 16 de novembro de 2025.
Em sintonia com o Ano Jubilar, o Papa nos convida para que, mesmo em meio às provações da vida, a esperança permaneça firme e encorajadora. Destaca que os empobrecidos são testemunhas de uma esperança forte e confiável. A Jornada Mundial dos Pobres deve recordar às nossas comunidades que eles estão no centro da ação pastoral, pois são os preferidos de Jesus Cristo: “Tudo o que fizerdes a um destes pequeninos é a mim que o fazeis” (Mt 25,40).
Conforme nos revela a Bíblia, os pobres, excluídos e marginalizados, ocupam lugar especial no coração de Deus, e por isso no coração a Igreja. Neles a comunidade cristã encontra o rosto e a carne de Cristo, que, de rico que era, se fez pobre por nós (cf. 2Cor. 8,9). Muitos criticam a opção preferencial pelos pobres feita pela Igreja, mas esta opção é a opção de Cristo, basta ler os Evangelhos.
O papa Leão XIV escreveu: “A condição dos pobres representa um grito que, na história da humanidade, interpela constantemente a nossa vida, as nossas sociedades, os sistemas políticos e econômicos e, sobretudo, a Igreja. No rosto ferido dos pobres encontramos impresso o sofrimento dos inocentes e, portanto, o próprio sofrimento de Cristo” (in Dilexit te n.9).
O fato é que os pobres aumentam no mundo. Em parte, porque o supérfluo dos ricos, que deveria servir para garantir o necessário aos pobres, em vez disso, é o necessário dos pobres que serve para garantir o supérfluo dos ricos. A pobreza tem muitos rostos: a pobreza daqueles que não têm meios de subsistência material, de quem é marginalizado socialmente e não possui instrumentos para dar voz à sua dignidade e capacidades; a pobreza “moral”, “espiritual”, “cultural”; a pobreza de quem não tem direitos, nem lugar ou liberdade. A sociedades é marcada por numerosas desigualdades e o surgimento de novas formas de pobreza, mais sutis e perigosas, e por regras econômicas que aumentaram a riqueza, “mas sem distribuí-la”. Diante desse cenário, não basta o compromisso de eliminar as causas estruturais da pobreza.
Para mudar este cenário de pobreza e miséria, o que precisamos, sobretudo, é uma “mudança de mentalidade”, libertando-nos antes de tudo da ilusão de uma felicidade que deriva de uma vida hedonista. Uma visão da existência centrada na riqueza e no sucesso a todo custo, em detrimento dos outros, com suporte de sistemas político-econômicos injustos. Somente com uma mentalidade solidária a pobreza diminuirá e com isto teremos mais paz e segurança.
+Dom Pedro Carlos Cipollini
Bispo de Santo André
