Diocese de Santo André

Mala publica in plebem recidunt (Os males públicos recaem sobre o povo)

A vida em sociedade é um grande desafio. Esse desafio passa por diversas dimensões das quais se destaca a economia e a política. De maneira bem simples a economia (do grego, oikos = casa; nomos = lei) pode ser entendida como as normas, leis, regras que organizam a casa, por isso o tempo todo as pessoas fazem economia, não só no corte de gastos, mas também na gestão e organização da própria casa. Política, por sua vez, vem do grego pólis = cidade. A política deve ser a arte de bem cuidar da cidade, por meio da ação dos políticos/cidadãos.

Tendo feito esse primeiro movimento é possível assegurar que a economia e política se caracterizam como ações fundamentais para o bem viver dos indivíduos, desde que se coloquem a serviço do povo. Colocar-se a serviço do povo significa fazer da economia e da política ferramentas para a promoção da vida das pessoas, como afirma a Doutrina Social da Igreja (nº 334) o desenvolvimento econômico deve ser global e solidário a todos. Nesse caso, pode-se trazer como ilustração a passagem do livro de Ester (Est 5,1b-2; 7,2b-3), lido na liturgia da Solenidade de Nossa Senhora Aparecida. O trecho, em síntese, apresenta Ester diante do rei Assuero (representante da economia e da política) que se dispôs a atender o pedido de Ester, ainda que fosse o de ceder metade do seu reino. Diante da possibilidade do poder econômico, ou seja, de possuir parte do reino, Ester clama pela vida dela e de seu povo (judeus condenados à morte).

Essa é uma forte metáfora de alguém que não se deixa ludibriar pelo poder econômico e político para causa própria, mas que se coloca na condição de olhar os mais vulneráveis e excluídos. Como se lê nas preliminares do livro de Ester: “A luz se levanta com o sol. Os humildes são exaltados e devoram os poderosos” (Est 1j). Diante de tão forte frase não é possível deixar de direcionar a reflexão à Menina de Nazaré, à humilde serva do Senhor, isto é, Maria, mãe de Deus e nossa!

Assim como tantas mulheres do povo de Deus, Maria não deixa a essência da fé de lado e continua a afirmar o Deus libertador, por isso ela canta: “Agiu com a força de seu braço, dispersou os homens de coração orgulhosos. Depôs poderosos de seus tronos, e a humildes exaltou. Cumulou de bens os famintos e despediu ricos de mãos vazias” (Lc 1, 51-53). Trata-se do modelo econômico e político do Reino de Deus, onde não deve haver acúmulo de riquezas de um lado e miséria de outro; onde a justiça consiste em depor dos tronos de poder aqueles que se colocam acima do bem comum praticando a usurpação do que é de direito das pessoas mais humildes. O casamento em Caná da Galileia (cf. Jo 2,1-11) é o primeiro sinal de Jesus, um sinal de reafirmação da vida, da festa, do direito à alegria. Fazer a política e economia do Reino é ser sinal de contradição, frente ao deus-dinheiro, à idolatria, ao individualismo e à ganância.

Esse testemunho, utopia dos cristãos, não é um caminho fácil, afinal nunca foi prometido um caminho fácil aos cristãos, mas é o caminho que passa pelas cruzes das perseguições, das indiferenças, das calúnias, assim como ocorreu com Jesus, o profeta da libertação de Jerusalém. A exemplo de tantos profetas, Jesus, resistiu sem temer e enfrentou toda violência dos donos do poder – político e econômico – do seu tempo, sendo conduzido à cruz, seu trono, e pendurado na cruz se tornou ao mundo o grande sinal de contradição, pois ele que veio trazer a vida, entregou-a para que todos a tivesse em plenitude.

Os males públicos da época de Jesus recaíram sobre ele, sobre Maria, sobre as amigas e os amigos dele. Os males públicos até hoje caem, como nos lembra o Documento de Aparecida, diante dos rostos daqueles que sofrem: comunidades indígenas e afroamericanas; mulheres excluídas; jovens que recebem uma educação de baixa qualidade e não têm oportunidades de progredir em seus estudos; pobres; desempregados; migrantes; deslocados/refugiados; agricultores sem terras; meninas e meninos submetidos à prostituição infantil; crianças vítimas de aborto; dependentes químicos; vítimas de terrorismos; anciãos que são excluídos dos sistemas produtivos; encarcerados em condições desumanas etc. (cf. nº 65 – Documento de Aparecida).

Diante de tantos desafios fazer política (cuidar da cidade) e fazer economia (promover o crescimento e o bem comum) é missão e desafio do cristão, independente, das ideologias partidárias é preciso gritar: nenhum direito a menos; educação de qualidade assegurada a todos; justiça distributiva, respeitando o desenvolvimento sustentável e tantas outras coisas…

“Essa é a tarefa essencial da evangelização, que inclui a opção preferencial pelos pobres, a promoção humana integral e a autêntica libertação cristã […]. Ao participar dessa missão, o discípulo caminha para a santidade. Vivê-la na missão o conduz ao coração do mundo. Por isso, a santidade não é fuga para o intimismo ou para o individualismo religioso, tampouco abandono da realidade urgente dos grandes problemas econômicos, sociais e políticos da América Latina e do mundo, e muito menos fuga da realidade para um mundo exclusivamente espiritual” (nº 148 e 148 – Documento de Aparecida).

Escrito por Jerry Adriano Villanova Chacon, filósofo e educador, membro da Pascom da Paróquia Nossa Senhora das Graças em Santo André.

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