Diocese de Santo André

Corpus Christi: “Eis o pão que os anjos comem, transformado em pão do homem”

A festa de Corpus Christi é um momento de profunda importância histórica, cultural e espiritual, porque celebra a Eucaristia, nosso maior tesouro. Temos a oportunidade de, publicamente, prestar honra, amor, agradecimento e louvor ao dom inestimável do Cristo que se faz alimento da alma e fonte de forças para cumprir com a nossa missão e vocação. É motivador penetrar a história dessa santa celebração, que denota como Deus cuida de cada detalhe, de maneira tão infinita que talvez nossos olhos não consigam alcançar.

Para remontar essa história da solenidade, é importante visitarmos a cidade de Liège, na Bélgica, onde viveu santa Juliana de Mont Cornillon, grande intercessora da causa da instituição dessa festa na santa liturgia da Igreja. A região de Liège já vinha sendo marcada por grandes teólogos que delineavam em seus estudos o valor absoluto da Sagrada Eucaristia. Segundo o papa emérito, Bento XVI, à época do século XIII, a diocese de Liège era um verdadeiro “cenáculo eucarístico”, tamanha sua importância perante o reconhecimento do valor da Eucaristia para todos nós.

Em sua vida de oração, Juliana tinha a visão da lua cheia com um risco cortando-a pela metade. Após certo tempo sem entender, pediu ao Santíssimo Sacramento que lhe fosse explicado o significado de tal visão. Assim, ela teve a revelação de que a lua representava a igreja e suas festas, enquanto o risco mostrava uma falta de solenidade. Ela viu, então, o próprio Senhor Jesus, que lhe pediu que se instituísse uma festa litúrgica em honra a Seu Corpo e Seu Sangue.

Essa tarefa, no entanto, não foi fácil e a solenidade não surgiu da noite para o dia (até porque todas as decisões precisam ser avaliadas com cautela e orientadas pelos pastores em quem a Igreja confia a condução de seu rebanho), mas sua perseverança foi a semente da qual Deus se utilizou para preparar a Igreja para essa santa solenidade. Dessa forma, também nós devemos nos dispor a ouvir o Senhor e seguir Sua voz, ainda que a missão a nós confiada pareça inalcançável. Afinal, é o Senhor quem sabe de tudo, não nós.

Juliana partilhou sua experiência com alguns padres e bispos. Alguns a apoiaram de pronto, outros hesitaram um pouco mais, mas nenhum conseguiu de fato encaminhar esse pedido para que se efetivasse. O bispo de Liège, contudo, instituiu na diocese a solenidade de Corpus Domini, que era já uma festa em honra à Sagrada Eucaristia. A freira adoeceu e morreu sem ver instituída a solenidade na Igreja Universal, mas seu amor por Jesus Eucarístico continuou dando frutos mesmo após sua morte.

Aconteceu que, mais ou menos na mesma época, a cidade de Bolsena, na Itália recebeu o padre Pedro de Praga, que estava celebrando uma missa na Cripta de Santa Cristina. Diz-se que ele chegou a duvidar da presença real de Cristo na Sagrada Eucaristia e, talvez por isso, na hora da Consagração, o padre e a comunidade testemunharam que da hóstia consagrada começaram a cair gotas de sangue, que marcaram o corporal do altar. Essa comprovação do milagre eucarístico tornou-se relíquia e ainda hoje pode ser vista na cidade de Orvieto, também na Itália.

Orvieto é vizinha a Bolsena, e à época era onde residia São Tomás de Aquino, acompanhante do papa Urbano IV, que, antes do pontificado, foi um dos bispos com quem santa Juliana partilhou as visões que tivera. O papa solicitou, então, que o corporal fosse levado a ele para análise. Uma procissão de bispos, padres e leigos acompanhou o corporal e se diz que, ao ver o pano manchado de sangue, papa Urbano IV proclamou que aquele era o corpus Christi (corpo de Cristo).

Em 11 de agosto de 1264, o papa instituiu a solenidade como festa de preceito para a Igreja Universal, a ser celebrada na quinta feira após a festa de Pentecostes. Na Bula de instituição – denominada Transiturus de hoc mundo – Urbano IV escreveu, lembrando também as experiências místicas de santa Juliana: “Embora a Eucaristia seja celebrada solenemente todos os dias, consideramos justo que, ao menos uma vez por ano, se faça mais honrosa e solene memória. As outras coisas, de fato, de que fazemos memória, nós as aproveitamos com o espírito e com a mente, mas não obtemos por isso a sua real presença. Por sua vez, nessa sacramental comemoração do Cristo, ainda que sob outra forma, Jesus Cristo está presente entre nós na própria substância. Enquanto estava prestes a ascender ao céu, disse: ‘Eis que estou convosco todos os dias, até o fim do mundo’ (Mt 28, 20)”.

Em Sua bondade e sabedoria, quis o Senhor Deus unir santas trajetórias para tecer a realização dessa solenidade. Além da história da diocese de Liège, de santa Juliana e de seu contato com o bispo que viria a ser o papa, além do milagre eucarístico que seguramente curou e converteu muitos corações, Deus quis também presentear essa solenidade com as contribuições de São Tomás de Aquino, um dos maiores teólogos daquela e de todas as épocas, a quem o papa solicitou que compusesse os textos do ofício litúrgico. As obras-primas compostas na ocasião preenchem até hoje nossos corações nessa solenidade, como o hino “Tantum ergo”, que conhecemos com os versos “Tão sublime Sacramento adoremos neste altar…”.

Hoje, a festa de Corpus Christi continua enaltecendo publicamente nosso amor por Jesus Eucarístico, e há também a contribuição da confecção de belos tapetes, muitos feitos com agasalhos a serem doados aos mais necessitados; há famílias que enfeitam suas casas com bandeiras, para manifestar o cuidado de preparar os caminhos do Senhor. Essas tradições denotam a fé e o amor à Sagrada Eucaristia e, por isso, são acolhidas com alegria pela Igreja. É possível compreender, portanto, que o Senhor nos permite a dádiva da continuidade de uma missão. Unimo-nos a esses grandes personagens e seguimos tecendo esse desejo do próprio Senhor, manifestado há mais de 7 séculos a seus filhos.

Aproveitemos a proximidade dessa festa para refletir a importância da comunhão com o Senhor, afinal, se Ele está na Eucaristia, onde é que devemos buscá-Lo?

Que nos empenhemos na confissão e comunhão frequentes, pois o Senhor é o alimento da nossa alma, Aquele que nos sustenta, nos constitui e nos une a Sua santidade.

Artigo desenvolvido pela revisora Thiele Piotto

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