A música tem sido fundamental para a convivência mais saudável nestes tempos de pandemia. Do alto de suas varandas, músicos alegram os vizinhos. Das janelas, cantores entoam mensagens de esperança. Nas lives, artistas mobilizam milhões de pessoas em prol da solidariedade. Nas homenagens, profissionais da Saúde são agraciados com aplausos num ritmo emocionante.
Nunca é demais lembrar o protagonismo das canções ao longo da história da humanidade, mais precisamente a partir dos séculos XIX e XX se tornando uma arte popular e acessível para a população. Temas que marcaram êxitos nas competições esportivas, que simbolizaram o fim de guerras, a liberdade dos povos, que tornaram filmes antológicos e que, sobretudo, fazem parte da trilha sonora do nosso dia a dia.
A música como terapia
Diríamos que é impossível viver sem música. Seja pelo rádio, pela televisão, celular, computador. Nas missas, nos filmes, nas novelas, nas séries, nos shows. Os sons e as vozes acalmam a alma e confortam os corações. Recorda-nos de momentos inesquecíveis. Traz felicidade e saudades. Eleva a nossa autoestima. Aproxima os povos. Luta pela paz. Prega a igualdade, sem divisões. No contexto dos tempos atuais, a musicoterapeuta Sarah Carolinne da Silva, avalia como a música pode influenciar positivamente na vida das pessoas e colaborar, sobretudo, para a saúde física, mental, social e espiritual.
“Foi na Segunda Guerra Mundial, quando médicos contrataram músicos para tocarem aos pacientes que chegavam mutilados das batalhas. E eles perceberam nesses pacientes que recebiam os músicos se recuperavam muito mais rápido comparado aos outros pacientes. Isso gerou um questionamento. Será que a música está ajudando no processo de reabilitação? Será que algo acontece no corpo deles quando escutam músicas? E foi a partir daí que nasceu a musicoterapia”, relembra.
A profissional explica que a influência da música em nosso corpo libera hormônios importantes que geram o bem-estar e fortalecem a nossa imunidade, o nosso organismo, contribuindo para o enfrentamento de doenças físicas e psíquicas.
“Muitas vezes estão comparando a pandemia do coronavírus como uma guerra. Uma guerra contra o vírus, onde temos que fica isolados, longe das pessoas que amamos. Existe o medo, uma ansiedade, a insegurança e acabamos ficando numa situação parecida com aquela dos soldados pacientes, devido à fragilidade. Mas talvez a música hoje seja para você esse remédio como foi para eles. Esse encorajamento. Então, ouça músicas que te fazem feliz, que recordem dos bons momentos”, avalia.
Cantar com fé
Coordenador da Comissão Diocesana de Liturgia, Pe. Guilherme Franco Octaviano, destaca a importância da música durante o período de isolamento social e mais do que nunca, de priorizar as igrejas domésticas em cada lar. “A música tem a capacidade de ir até o ponto mais profundo do nosso ser. Desperta lembranças. Muda algumas emoções e sentimentos em nós. Então, que nós possamos usar a música para bem vivermos esse tempo. Cante em nossos momentos de oração, os cantos que fazem parte da nossa vida de fé, aqueles que cantos que nos ajudam a rezar melhor”, enfatiza.
Segundo o pároco da Paróquia São Jorge, em Santo André, esses ritos diários são maneiras que contribuem para o enfrentamento da pandemia e amenizar consideravelmente o distanciamento entre nós. “Então, a música alegra o ambiente. Eleva a nossa autoestima para unir o pessoal que está em casa, em torno de uma oração, de algo em comum. Que possamos neste tempo, como cristão que somos, elevar uma voz um canto de esperança, de fé e de força, diante de tanta dificuldade. Estamos confiantes em Deus que esse tempo passará”, comenta o sacerdote.
Instrumento de evangelização
Sarah explica que na aula de história de musicoterapia, as pessoas aprendem que o primeiro dado histórico sobre a música sendo utilizada de forma terapêutica é bíblica. “É o momento que Davi vai tocar harpa para espantar os demônios do Rei Saul, acalmando-o. Naquele momento ele está fazendo uma utilização musicoterapêutica da música. Teve um cuidado de observar como o Rei Saul estava. Daquilo que precisava naquele momento. Então, o tocar não foi inadequado para o contexto, e sim uma música que somente ajudou o Rei Saul a se acalmar”, cita a especialista, ao sempre recomendar a passagem nos ministérios de música. Como orientação, Sarah afirma que é fundamental utilizar um repertório musical, de acordo com o ambiente e proposta de cada atividade.
“Seja na Santa Missa, na Adoração, no Santo Terço, no Louvor. Se for algo mais agitado, influenciar isso na melodia e na harmonia. Mas se quiser ajudá-la a ter um momento de interiorização, de reflexão, isso também deve ser refletido em sua harmonia e melodia. Entender que a música causa algo dentro de você. E se a música tem o poder da cura, de potencializar esse processo de recuperação, também tem o poder de potencializar esse processo de encontro com Deus”, analisa.
Setor Música
Parte integrante da Comissão Diocesana de Liturgia, o Setor Música oferece material para os músicos e fiéis diocesanos utilizarem cantos próprios para cada celebração. “Procure nos momentos de oração em família, mesmo que você não seja cantor profissional, se recordar de como a música é tão importante em nossas vidas para rezarmos e vivermos bem esse período”, conclui Pe. Guilherme.
Uma das grandes iniciativas encabeçadas pelo Setor Música no último ano foi a confecção do Fascículo I do Hinário Litúrgico Diocesano, lançado no dia 10 de agosto de 2019.