Diocese de Santo André

Num mundo de guerras e desigualdades, migrantes que vencem na vida

“Porque eu era um estrangeiro e me acolheste” (Mt 25.35). Nesta sexta-feira (18/12) se completa 30 anos da resolução adotada pela Assembleia Geral das Nações Unidas sobre a Convenção Internacional sobre a Proteção dos Direitos de Todos os Trabalhadores Migrantes e Membros de Suas Famílias.

No entanto, após dez anos de sua publicação, a ONU (Organização das Nações Unidas) proclamou a data como o Dia Internacional dos Direitos dos Migrantes, como parte de uma campanha global para promover a sua ratificação, contudo, tendo até o início do século XXI apenas 51 ratificações de países que vivem mais intensamente os fluxos migratórios, mas que se torna uma importante ferramenta para criação de leis que defendam os direitos e protejam os cidadãos migrantes.

Pacto Global das Migrações

Avanços ocorreram ao longo das duas últimas décadas. Em abril de 2019, Pe. Paolo Parise, que coordena a Missão Paz, entidade que auxilia imigrantes na cidade de São Paulo, apresentou a palestra “Um olhar realista sobre o Pacto Global das Migrações da ONU”, na Diocese de Santo André.

Dividida em duas partes, a exposição teve como foco a realidade dos fluxos migratórios no Brasil e a apresentação dos objetivos do Pacto Global da ONU (Organização das Nações Unidas) para as Migrações em 23 pontos, endossados oficialmente em Assembleia Geral das Nações Unidas, no dia 19 de dezembro de 2018.

“Destaco três pontos essenciais como a garantia dos direitos, fazer conhecer também a realidade local e se inserir, ou seja, acolher aquele que vem de outro lugar, e a oferta de um trabalho formal e digno, sem explorações”, enfatiza.

Todavia, alguns dos tópicos elencados pelos documentos da ONU dependem da atuação dos governos, por meio de políticas públicas, para serem colocados em prática. Outros através de tratados internacionais.

Mais de 160 países aprovaram o Pacto Global para uma Migração Segura, Ordenada e Regular da ONU, que estabelece diretrizes para o acolhimento aos imigrantes. Entretanto, assim como os Estados Unidos, o Brasil se retirou do acordo no início deste ano. Um grande obstáculo pela frente.

Novos desafios

Desafio este que viveu a família síria Zarba, do casal Aiman Zarba, 39 anos, e Tamador Faher Aldeen, 34 anos, com os filhos Mohamad, 13 anos, Ahmad, 9 anos, e Ali Jusé, 5 anos.

Chegaram ao Brasil em 2014 (moraram no Egito durante 2012 e 2013), mas não sem antes presenciar a guerra civil que a Síria (localizada no sudoeste da Ásia, no Oriente Médio) vivia, através de protestos populares contra o governo que progrediram para uma revolta armada que se iniciaram no primeiro semestre de 2011, sendo inspirados pela Primavera Árabe (expressão utilizada para designar a série de manifestações que ocorreram no Oriente Médio e no Norte da África, a partir do final de 2010).

Diante da crise humanitária e econômica, o casal sírio decidiu ir em busca de um país que oferecesse oportunidades de emprego e acesso aos serviços básicos. Mesmo com todas as dificuldades enfrentadas pela nação da América Latina, no que tange principalmente à desigualdade social e cenário de violência, o Brasil foi o destino escolhido por Zarba e Tamador. “Chegamos aqui a vida era muito diferente de lá. Na Síria, o meu marido trabalhava de fiscal de container. Moramos em Guarulhos (cidade da Região Metropolitana da Grande SP). Era muito difícil encontrar trabalho, além das dificuldades da língua (idioma)”, recorda Tamador, além do preconceito que muitas vezes atinge os povos de países asiáticos e africanos.

Chegada ao ABC

As adaptações demoraram um pouco a acontecer, mas quando chegaram a Santo André (Grande ABC), começaram a ver um novo horizonte em suas vidas. Além da acolhida, principalmente da Pastoral do Migrante da Diocese de Santo André, por meio do Centro de Apoio ao Migrante (Região Santo André – Utinga), com apoio do assessor Pe. Jean Dickson Saint-Claire e da coordenadora Helena Teodoro, as portas foram abertas para que a família se estabelecesse na cidade.

A família começou a participar dos eventos e festividades que envolvem os migrantes, principalmente na Igreja Matriz de Santo André, como nas edições da Festa das Nações, nas quais vendiam esfihas e doces árabes. “É uma outra vida para nós. Nossos filhos estão na escola. Temos um pequeno comércio de comida árabe, aprendemos bem o português”, conta a esposa.

“Graças a Deus, a gente é feliz morando no Brasil. A gente tem trabalho, um restaurante pequeno. Encontramos pessoas brasileiras muito boas em nosso caminho”, complementa Tamador.

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