A Santa Sé publicou no último dia 10 de maio, a Carta Apostólica do Papa Francisco, sob forma de motu proprio “Antiquum Ministerium”, pela qual se institui o Ministério de Catequista.
E para aprofundar o assunto e trazer um olhar sobre a realidade diocesana e brasileira quanto aos processos de iniciação à vida cristã e missão dos catequistas, o coordenador da Comissão de Animação Bíblico-Catequética na Diocese de Santo André, catequeta na Comissão Episcopal para Animação Bíblico-Catequética da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) e membro do GREBICAT (Grupo de Reflexão Bíblico-Catequética), o doutor em Teologia e professor da PUC-RJ (Pontifícia Universidade Católica), Pe. Eduardo Antônio Calandro, comenta sobre a relação do 8º Plano Diocesano de Pastoral com o ministério, os principais pontos do motu proprio assinado pelo Santa Padre e os próximos passos da Igreja nessa ação evangelizadora.
Acompanhe a entrevista:
1. Como a Diocese de Santo André tem se preparado e já realizado os trabalhos junto aos catequistas, na Comissão de Animação Bíblico-Catequética, à luz do 8° Plano Diocesano de Pastoral, em sintonia com o ministério instituído pelo Papa Francisco?
A nossa diocese vem sempre avançando nestes processos da iniciação à vida cristã. Claro que é algo que os catequistas vão assumindo gradualmente, que não é uma nova metodologia, mas sim um novo paradigma na ação evangelizadora da igreja. A nossa diocese assumiu ser uma igreja que fortaleça a cultura e a espiritualidade do acolhimento, sempre numa perspectiva de permanente ação missionária. E a catequese abraça isso. Antes de tudo ela é acolhedora, tem quer ser acolhedora. Antes de tudo tem que envolver a pessoa na comunidade para que depois saia iniciada. Então, o primeiro passo da catequese é acolher. O segundo passo é o aprofundamento da fé. E o terceiro passo é ser missionário. Não dá para pensar numa catequese onde se para nos sacramentos.
Então, a nossa diocese tem investido todas as forças nisso, a todo momento se investe nestes processos de iniciação à vida cristã, que todas as paróquias estão se esforçando para compreender, para assimilar, para adaptar e para fazer acontecer na ação da catequese, desde os encontros com pais e padrinhos até os adultos. Essa proposta que o Papa Francisco nos traz sobre o ministério do catequista acredito que vem nos dar mais força para nós. Cultivar essa cultura e espiritualidade do acolhimento, porque é a Igreja cada vez mais acolhendo os catequistas, essa ação tão importante que temos na Igreja, que é a pessoa do catequista. Então, o ministério vem como valorização. Ele vem para valorizar a pessoa do catequista, vem para que essa igreja também acolha a pessoa do catequista, Quando falo sobre a Igreja, o povo de Deus, mas também a Igreja, o nosso bispo diocesano. Aliás, neste ano de 2021, o nosso bispo (Dom Pedro Carlos Cipollini) assinalou na sua fala, na abertura da Semana Catequética 2021, o quanto achava importante esse ministério do catequista, reconhecendo, valorizando a pessoa do catequista. Também os nossos padres, o quanto valorizam os nossos catequistas, por causa da sua ação importante entre nós. Então, acredito que dentro do nosso plano diocesano, entra nessa proposta: é a igreja acolhendo, a igreja valorizando, mais ainda a pessoa do catequista.
2. Quais os principais pontos a se destacar no motu proprio “Antiquum Ministerium”, no qual o Papa Francisco institui o Ministério do Catequista?
Nesse texto que foi assinado no dia 10 de maio, algo muito importante para nós, primeiro a fidelidade ao passado e a responsabilidade que nós temos no presente, ou seja, é indispensável para que uma Igreja se lance para frente, que ela olhe para o seu passado, para a nossa tradição. Nós valorizamos a tradição, temos a Sagrada Escritura, o magistério do catecismo. Então é olhando para trás, aquilo que há tantos séculos acontece na Igreja, essa ação evangelizadora através de leigos e leigas, que se sentem chamados para a missão. Agora é importante esclarecer aqui também que o ministério não deve ser associado apenas a serviço, um serviço que se presta. Ministério tem a ver com dom, dom que vem do alto, que vem de Deus. Deus oferece esse dom que se manifesta numa vocação e que esta vocação é manifestada através de um carisma. Ser catequista é abraçar um carisma. Então, o ministério é dom e carisma. O ministério do catequista é abraçar um dom. É abraçar um carisma na ação evangelizadora da Igreja.
E com isso, é claro, temos a valorização da pessoa do catequista. Isso não podemos esquecer. Nós temos que aprender cada vez mais a valorizar essa pessoa que doa a sua vida semanalmente. Outro ponto importante que o motu proprio ressalta é o de que o catequista é testemunha da fé. Ele é mestre e mistagogo. Ele acompanha essa pessoa, é um pedagogo que acompanha, que conduz para o mistério. É o mistagogo. Ele institui não em nome próprio. Nenhum catequista fala em nome próprio. Ele fala em nome da Igreja. Por isso, ele pode ser um ministério. Ele representa, ele é a Igreja. Uma identidade que só se conquista através do quê? Através da oração, do aprofundamento, o estudo motu proprio fala disso, e a participação direta na vida eclesial, na vida da comunidade, porque daí ele pode desenvolver toda a sua ação evangelizadora da catequese com muita coerência. Ele é coerente. Isso está no motu proprio. Também vale a pena lembrar que o convite do papa é para que as conferências episcopais no Brasil , a nossa CNBB possa analisar e avaliar qual a melhor maneira para a instituição desse ministério. No entanto, o mais importante para nós, com certeza, é a valorização da pessoa do catequista.
3. Quais os próximos passos da Catequese no Brasil e na Diocese de Santo André?
A primeira coisa é não ser impulsivo. Não pensar como “vamos agora instituir o ministério para todos os catequistas, para todas as pessoas que queiram ser catequista”. Acho que não podemos esquecer do que o motu proprio diz. Então precisamos olhar para a qualidade dessa pessoa, o tanto de aprofundamento que essa pessoa vive, Porque, por exemplo, podemos encontrar algumas pessoas que dizem:” já sou catequista há 30 anos e não preciso mais estudar, não preciso ir mais em semana catequética, não preciso mais fazer formação”, então, esse é um perfil que não cabe neste modelo do ministério do catequista. O ministério vai exigir sempre aquela pessoa criativa, aquela pessoa que quer se aprofundar, participa da sua comunidade. É aquele catequista que é por vocação, ele está sempre procurando, tentando, buscando algo novo para a ação evangelizadora. Então, a primeira coisa é não ser impulsivo. A segunda questão, a Congregação para o Culto Divino vai publicar um rito para a instituição do ministério. Então, vamos aguardar a Santa Sé nos mostrar qual o modelo, como devemos fazer isso numa celebração para a instituição desse ministério. E é claro, a nossa conferência episcopal, a CNBB, de modo particular, a Comissão Episcopal para Animação Bíblico-Catequética vai nos trazer uma proposta olhando para a nossa realidade brasileira. Mas eu gostaria de ressaltar que no Brasil, na nossa realidade brasileira, em 2005, quando nós publicávamos o nosso Diretório Nacional de Catequese, já se tem lá uma proposta para o ministério do catequista instituído. Então, nós como Brasil há 16 anos que já refletimos sobre esse assunto. Graças a Deus, agora, a Santa Sé publica para a Igreja toda, o mundo todo abraça essa proposta. Mas em 2005, no número 245 do diretório, já se assinalava a importância da instituição do ministério do catequista. Então, nós como Igreja do Brasil temos uma proposta. Existe até um estudo da CNBB intitulado ministério do catequista, que já tem lá uma série de reflexões que nos ajudam a pensar nesse ministério.
O que temos que fazer como Igreja no Brasil como CNBB, como Diocese de Santo André, primeiro olhar para essa história que temos no Brasil. Há 16 anos já falávamos desse assunto, do ministério do catequista. Segundo, esperar a Santa Sé nos apresentar a proposta do ritual para a instituição desse ministério. Mas também é preciso criar alguns critérios. Quais são esses critérios para se receber esse ministério? Aí vale a pena a gente olhar o texto Estudos da CNBB, número 95, que fala sobre o mistério do catequista. Esses passos são importantes.
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Referências Bibliográficas:
DIRETÓRIO NACIONAL DE CATEQUESE (Documentos da CNBB n°. 84) Paulinas, São Paulo 2006
MINISTÉRIO DO CATEQUISTA (Estudos da CNBB n°. 95) Paulus 2007