Segundo as Nações Unidas, o mercado ilegal do tráfico de pessoas movimenta 32 bilhões de dólares por ano

Por Nádia Nicolau

Liberdade cerceada. Dignidade ferida. Sonhos roubados. O tráfico humano atinge os bens mais preciosos de uma pessoa. É a forma de escravidão contemporânea que ainda é tratada como uma realidade invisível pela sociedade.

A Organização das Nações Unidas (ONU), no Protocolo de Palermo, que é uma diretriz internacional, reconhece como tipos de tráfico de pessoas, a exploração sexual, a extração de órgãos ou tecidos, casamento forçado e exploração de trabalho análogo a escravo.

O imigrante sul-africano, Hendrik J. R., 39 anos, vive há um ano no Brasil. Em 2006, em Joanesburgo (África do Sul), ele foi vítima de uma gangue nigeriana de tráfico de órgãos. “Eu fiquei assustado, mas consegui me libertar. Falaram que um rim poderia valer 100 mil dólares”, afirma.

O tráfico humano é complexo e constrangedor, presente em nosso território e no resto do mundo. Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), estima-se que 20,9 milhões de pessoas são vítimas de trabalho forçado globalmente, incluindo aí as vítimas de tráfico de seres humanos para exploração sexual e laboral.

Para o coordenador responsável pela Coordenadoria Nacional de Erradicação do Trabalho Escravo (CONAETE), Jonas Moreno, a escravidão moderna atinge trabalhadores independentemente de sua condição social, cor, sexo e idade. “A maior incidência recai sobre trabalhadores de estados em que o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é muito baixo, como Piauí e Maranhão, cujo ponto de vulnerabilidade é a educação”, diz.

Na maioria dos casos, os trabalhadores são encontrados em condições péssimas, em ambientes totalmente impróprios, segurança e saúde precárias, além de jornada excessiva. “A capital paulista é o local de maior concentração de trabalhadores resgatados, especialmente no setor de confecção”, conta Jonas. Entre as indústrias processadas, existem as de marcas de grife. Em 2014, uma delas foi processada em 10 milhões de reais.

Há vários fatores para que o tráfico humano e o trabalho escravo aconteçam, entre eles, a miséria, a impunidade, a busca pelo explorador de vantagens competitivas, que é uma concorrência desleal. Além disso, há motivações mais complexas, como a capacidade de sonhar com uma vida melhor, conhecer outros países, outras culturas, fugir de uma vida de violência doméstica, abusos, enfim, este crime não só viola direitos, mas destrói a capacidade de desejar, de sonhar inerentes ao ser humano.

Segundo o Governo do Estado de São Paulo, no combate existe uma política pública nacional que atinge 16 estados da federação.

“A principal medida é a repressão, porém na parte preventiva ao trabalho escravo, a atuação estatal é pouca. São necessárias políticas públicas efetivas para retirar o trabalhador da situação de vulnerabilidade, como cursos de alfabetização e de qualificação profissional”, fala Jonas.

A sociedade pode ajudar a combater, denunciando para os órgãos competentes da sua região e não consumindo produtos de origem duvidosa. As Olimpíadas de 2016, no Brasil, é um momento propício para que a sociedade esteja alerta, em que a exploração laboral pode estar presente em diversos setores deste evento, além da exploração sexual, que atinge adultos e crianças.

Box:

  • Duvide de propostas de emprego fácil e lucrativo.
  • Antes de aceitar a proposta de emprego, leia atentamente o contrato de trabalho, busque informações sobre a empresa contratante.
  • Evite tirar cópias dos documentos pessoais e deixá-las em mãos de parentes ou amigos.
  • Deixe endereço, telefone e/ou localização da cidade para onde está viajando.
    Informe para a pessoa que está seguindo viagem endereços e contatos de consulados, ONGs e autoridades da região.
  • Nunca deixe de se comunicar com familiares e amigos.