Em tempos de violência somos convidados a falar de paz,
para criar uma cultura de paz. A violência presente na sociedade, de modo especial nas cidades, chegou a um ponto crítico.
Ela vai se tornando questão de segurança nacional. Pergunta-se: estamos em guerra civil? A violência compromete as conquistas e o futuro de nossa sociedade. Precisamos combater a violência. Ela não traz benefício a ninguém, ela começa e termina nela mesma: violência gera violência.
O que significa o progresso econômico e científico diante da perda inútil de tantas vidas, vítimas da violência na maior parte das vezes impune? Ou acabamos com a violência ou a violência acabará conosco. Mais que nunca hoje é necessário educar para a paz. Na realidade nós somos educados para a desconfiança, a acusação e a suspeita. Não conseguimos entender o que o outro diz, porque não ouvimos. Não ouvindo não há diálogo e estouram os conflitos.
A miséria tanto material como moral, insegurança, desamor, decepção com a vida e consigo mesmo, estão na raiz da violência. A sociedade muitas vezes consegue propor somente o gozo e a posse de bens, como valores pelos quais vale a pena lutar. Assim, a competição por bens materiais torna a busca do dinheiro o valor supremo. Todos os meios são válidos para conseguir o fim. Não há ética nem princípios. E neste terreno a corrupção desponta como violência maior. Ela lhe rouba os recursos de projetos vitais, para projetos egoístas e pessoais.
O mito de que nós brasileiros somos um povo pacífico, não se sustenta mais. Morrem mais pessoas, principalmente crianças e jovens, vítimas da violência no Brasil do que no Iraque e no Oriente Médio, que são zonas declaradas de guerra.
A Igreja Católica quer trabalhar por uma cultura da Paz: Somos da paz! A Igreja Católica tem proclamado o Evangelho da solidariedade e da paz: “Felizes os que promovem a paz” (Mt. 5, 9). O tema da paz deve preocupar todo aquele que acredita em Jesus Cristo. Os seres humanos desejam a paz. As pessoas tem um ideal de vida, mesmo que a nível inconsciente, de paz e harmonia, pois os seres humanos compartilham valores básicos, universais, entre eles a paz. Poderíamos até dizer que o instinto de sobrevivência, em seres inteligentes de forma privilegiada como os humanos, exige a paz em primeiro lugar.
A Igreja quer mobilizar todas as pessoas de boa vontade para divulgar esta idéia de que a paz é necessária, é fruto da solidariedade que constrói uma sociedade mais justa e fraterna. Se não por convicções religiosas e humanísticas, ao menos pela sobrevivência da sociedade.
Que sejamos pessoas de paz. Que possamos acabar com a violência que se manifesta às vezes em nosso gestos, em uma frase talvez, e até mesmo no tom da voz. O cristianismo propõe à sociedade a reflexão e o convite para se trabalhar pela paz porque crê que a paz, é possível, ela vencerá no final. É muito maior o que nos une como cidadãos da humanidade do que o que nos desune. A paz é possível!
Dom Pedro Carlos Cipollini – Bispo de Santo André
Materia publicada no Diario do Grande ABC