Estamos às vésperas do Natal. É tempo de festa, mesmo estando em meio a uma crise que nos constrange. Tempo difícil, o qual, porém, não nos dispensa da solidariedade. Aumenta a pobreza, causada pelo desemprego, o drama da situação da saúde, moradia, aluguel, educação. Em meio a tudo isto, nossa consciência não pode deixar de se perguntar, expressando-se com a voz do próprio Deus que interroga Caim a respeito de Abel: “Onde está o teu irmão” (Gn 3,9). O inconsciente coletivo reage com medo e angústia diante das inúmeras dificuldades e negações dos direitos humanos. Nem mesmo a repetição pelos meios de comunicação social de crimes e violências consegue abalar a indignação ética diante da maldade.
É interessante notar que o episódio bíblico relativo a Caim e Abel retrata o rompimento da solidariedade humana: Caim mata Abel. Ao invés de ser protetor de seu irmão, ele o elimina; e isto não é só um crime, mas é um pecado. É a primeira vez que apareceu na Bíblia a palavra pecado, e esta aparece num contexto social, designando o rompimento da fraternidade humana. Assim a consideração dos direitos humanos está associada aos direitos de Deus. Tanto a humanidade como o Criador apelam e indicam para um mundo mais humano e fraterno. E sabemos que é no tempo de crise que a exigência de solidariedade está entre nós se torna mais urgente.
Deus propõe ao homem a libertação de todas as escravidões e fatalidades, até mesmo a libertação do homem pelo homem. Assim o Deus da Bíblia, que tem no ser humano sua imagem e semelhança, coloca no centro da mensagem que Jesus, seu Filho, veio trazer ao mundo, a dignidade e a vida humana: “Eu vim para que todos tenham vida e vida plenamente”(Jo 10,10).
Cada geração é chamada a invocar o nome de Deus como Deus da vida, e manifestar a ação de Deus no mundo através de gestos concretos. Não só as orações e o culto manifestam a presença de Deus no mundo, mas hoje, sobretudo, a solidariedade manifesta a presença de Deus. Um Deus solidário é o que vem revelar Jesus. Um Deus que impele os homens a imitá-lo criativamente na transformação da realidade. Somente assim a vida será preservada e seu nome será glorificado.
Andando pela nossa Diocese de Santo André, que compreende todo o Grande ABC, constato o quanto nossas comunidades católicas vivem a solidariedade. Isto através de inúmeras iniciativas, desde as mais simples às mais complexas. Em nossas 99 paróquias são inúmeras as pequenas iniciativas solidárias que colocam a defesa dos direitos humanos e a preocupação da vida traduzidas em gestos solidários, gestos que trazem esperança. Neste tempo de preparação para o Natal não deixemos que nosso coração se endureça como consequência da crise que atravessamos, mas vamos abrir-nos à solidariedade, é ela o caminho seguro para a paz que tanto desejamos. Paz que é dom de Deus, mas também construção humana realizada por todos nós.
Feliz Natal a todos os queridos leitores que me honram com sua atenção. Paz e bênçãos de Deus em sua vida é o que lhe desejo!
Dom Pedro Carlos Cipollini
Artigo escrito para o Jornal o Diário do Grande ABC
14 de Dezembro de 2015