Artigo publicado no Jornal a Boa Notícia, edição de outubro de 2015.
No mês da Bíblia, setembro, embora se realce que todos os meses são da Bíblia, medita-se que esta contém a Palavra de Deus: luz para nossos passos! A Igreja como uma grande árvore, se alimenta através de suas raízes, as mais finas e frágeis. Estas raízes são os inumeráveis grupos de reflexão e vivência da Palavra, os momentos como homilia, leitura orante, e demais circunstâncias nas quais as comunidades ou grupos, quais raízes sugam da terra boa da Palavra, aquilo que a Igreja precisa para viver.
É daí, deste encontro com a Palavra, que nós percebemos qual é a vontade de Deus: que venha o seu Reino, como rezamos na oração que Jesus mesmo nos ensinou. Percebemos que é preciso que Ele reine, para que haja a paz e alegria, que os anjos prometeram em Belém, às pessoas de boa vontade que levarão para o mundo o evangelho.
Hoje como sempre, há sede de vida e felicidade. As pessoas buscam um sentido para a vida em meio a esta “sociedade líquida, onde tudo o que é sólido desmancha no ar”. Jesus, Palavra encarnada, qual rocha firme, pode dar a segurança e a felicidade que as pessoas buscam. E a Igreja, esta árvore frondosa, plantada por Deus na humanidade, é encarregada de levar esta mensagem de vida. Ela é um sinal do amor e da misericórdia de Deus, levantados ante as nações. Ela é “sinal e instrumento da união com Deus e da unidade de toda a humanidade” (Vat. II — LG 1). A Revelação do amor precede as consequências do amor que é a vivência da moral segundo a “Lei do Amor”.
Para que isto aconteça, requer-se a missão: “Ide por todo o mundo e evangelizai a toda criatura”(Mc 16,15). Podemos até dizer que a missão tem uma Igreja a seu serviço, ao invés de dizer que a Igreja tem uma tarefa: ser missionária. A missão precede o ser Igreja, por isso, não se compreende uma Igreja que não tenha o “instinto” missionário, o desejo de levar o fogo do amor a toda a humanidade, para que todos tenham vida e vida plenamente.
Os bispos da América latina que se reuniram em Aparecida nos deixaram um belo documento cujo pano de fundo é a missão. “Todos os membros da comunidade paroquial são responsáveis pela evangelização em cada ambiente”… “A renovação missionária das paróquias se impõe, tanto na evangelização das grandes cidades, como no mundo rural de nosso Continente…”(DAp n.171 – 173). Está aí o apelo muito simples sobre o qual mais que fazer discursos e estudos se deveria rezar muito e pedir as luzes do Espírito para ver os caminhos e dar as forças necessárias para praticar o que Ele inspira.
A renovação missionária de nossas paróquias na nossa querida Diocese de Santo André é necessária. Ela vai exigir: a) unidade na pastoral diocesana, b) unidade de todos os agentes de pastoral, principalmente lideranças, c) um grande amor a Jesus Cristo (Palavra, Eucaristia e Comunidade), d) “um novo ardor” que eu interpreto como vivência de um processo pessoal e comunitário de conversão, e) escuta do que o Espírito quer falar-nos, f) coragem de mudar e planejar a partir dos horizontes largos de Deus, e não de nossos estreitos projetos que visam mais a segurança pessoal e estrutural, para manter o que já temos. É preciso a coragem que brota da fé, para ir às águas mais profundas.
Que Maria, a mãe missionária nos ensine a colocar-nos a caminho em atitude missionária para evangelizar a partir de nossas comunidades de fé e vida.
Dom Pedro Carlos Cipollini
Bispo Diocesano de Santo André