“Só se vê bem com o coração, o essencial é invisível aos nossos olhos”. Esta frase de Antonine de Saint-Exupéry (do Pequeno Príncipe) é muito significativa, trás um ensinamento grandioso para nossa vida. Diz o profeta: “O Senhor não vê como o homem: o homem vê a aparência, mas Deus vê o coração” (I Sm 16,7).
A tendência humana é parar naquilo que os olhos são capazes de enxergar. Como é bom saber que o olhar de Deus é diferente do nosso, Ele nos vê não somente a partir de nossa aparência, mas principalmente pelo que somos.
Michelangelo, pintor, poeta, escultor e arquiteto italiano, entre as suas obras se destacam algumas esculturas, que se tornaram conhecidas mundialmente, tais como: a Pietá, Moisés e David.
Certa vez alguém impressionado com a beleza de uma das esculturas lhe perguntou: como você, Michelangelo, é capaz de produzir tão bela escultura? Ele sorrindo respondeu: não é tão difícil como você imagina, eu não faço nada, a imagem já está na pedra, eu apenas tiro o excesso. Veja que Michelangelo ao olhar para a pedra de mármore via além da aparência da pedra, ele via a Pietá, Moisés, David que ali na pedra já estavam e que apenas precisava-se ser retirar os excessos. A partir desse exemplo podemos compreender como Deus nos vê.
Muitas vezes nos confundimos entre o que nós somos e o pecado que cometemos. Alguém que comete adultério é comum chamá-lo de adúltero; uma mulher que vive na prostituição chamá-la de prostituta; um usuário de droga chamá-lo de drogado etc. Perceba que a pessoa já não mais possui identidade, ou seja, já não é chamada pelo seu nome. O nome dessa pessoa passa a ser o do seu pecado.
Que triste perceber que as vezes este é o nosso olhar para com muitas pessoas. E em alguns momentos o olhar para nós mesmo. Em vez de olharmos para frente ficamos presos ao nosso pecado, pelo contrário, devemos lutar contra ele. Neste ano vivenciando a misericórdia, somos convidados a olhar para nós e paro o irmão, não pela aparência, mas olhar com o coração.
Somos imagem e semelhança de Deus
Na medida em que se olha com o coração, não serão os pecados a terem maior importância, mas sim aquilo que a pessoa é, sua essência. É importante compreendermos isso: Somos imagem e semelhança de Deus. Temos os nossos defeitos, mas, perceba a diferença dos dois verbos “ser” e “ter”. Os pecados nós temos, a essência é diferente, trata daquilo que somos.
Todas as vezes que chamamos uma pessoa de adultera, de prostituta ou de drogado, na verdade estamos afirmando que ele é o seu pecado. Não! Eu não sou, você não é o pecado que cometeu ou comete, somos filhos de Deus. Nossas qualidades, podem sim dizer algo daquilo que somos, enquanto que nossos defeitos descrevem simplesmente aquilo que fazemos de errado. Em outras palavras, o pecado é exatamente aquilo que nós não somos.
Retomo a frase do pequeno príncipe: só se vê bem com o coração! Nisto, quando Deus nos olha, Ele não vê nossos pecados, mas nossas virtudes, aquilo que Ele por amor sonhou, criou. Deus ama o pecador. Ao olhar para um pecador, Deus vê não os seus pecados, mas a oportunidade de transformar este pecador em um santo. Michelangelo olhava para a pedra de mármore e via dentro da pedra a imagem que ele queria esculpir. Não esqueçamos que fomos criados a imagem e semelhança de Deus.
A pedra do adultério, da prostituição, da droga e de outros pecados, Deus olha e vê não a aparência dessa realidade, mas enxerga a imagem e semelhança do filho que ali se encontra. É um pecador, mas que pode ser santo. É preciso fazer simplesmente, como Michelangelo: tirar os excessos e deixar transparecer a imagem escondida na pedra.
Através de uma boa confissão, da participação na Santa Missa, que são meios de uma vida de comunhão com Deus, somos capazes de tirar os excessos que são os nossos pecados e voltarmos àquilo que somos de verdade, imagem e semelhança de Deus.
Fonte: Canção Nova