O alegre nascer do sol era o preenchido de um domingo agradável para milhares de pessoas que saíram de suas casas, logo cedo, com o objetivo de acompanhar um dia voltado à fé e devoção a Nossa Senhora de Boa Viagem, em São Bernardo do Campo.
O sentimento religioso não era em vão: o dia 3 de setembro de 2017 simboliza o centenário do respeito e dedicação á Padroeira que dá o nome à Igreja Matriz na cidade do ABC.
A tradicional Procissão dos Carroceiros foi o primeiro ato da programação. O cortejo, com a imagem histórica da mãe de Deus, teve saída da Paróquia Nossa Senhora de Fátima, na Vila Marlene, passou pelo centro do município, em ruas como Senador Vergueiro, Jurubatuba e Marechal Deodoro até chegar à Basílica Menor, após cerca de duas horas e meia de caminhada.
Cerca de 400 cavaleiros participaram da romaria à moda antiga, ou seja, com os fiéis a cavalo. A pé, mais de 7 mil pessoas acompanharam a peregrinação. Fiéis afirmam que, depois do recebimento de graças, esse é o momento de agradecimento.
O empresário Eduardo Souza Mazini, 33 anos, participa desde o início da década de 2000 da Procissão dos Carroceiros. Ao lado do sobrinho Luciano, 2 anos, ele atesta que a tradição é passada de geração para geração.
“Meus avós participaram por muito tempo. Depois vieram meus pais e todos nós sempre integrados à comunidade da Matriz”, relembra Mazini, ao reforçar o pedido para que os animais permaneçam no desfile.
“Não podemos acabar com essa tradição centenária. Uma vez por ano realizamos essa festa tão bonita que demonstra a fé e perseverança das pessoas. Tem que continuar”, frisa.
A parceria entre os cavaleiros de São Bernardo do Campo e de Ibiúna, no interior paulista, também se fez presente com a galera do Rancho Machado, numa confraternização após a procissão.
Presidida pelo pároco reitor da Basílica Menor da Nossa Senhora da Boa Viagem, padre Giuseppe Bortolato, a missa solene começou por volta das 12h30 e emocionou a todos os presentes com a animação do Coral Santa Cecília e a entrada da imagem – a mesma que habita por décadas, a capela dedicada a Nossa Senhora da Boa Viagem, construída do lado oposto de onde se encontrava a atual capelinha, ou seja, em frente ao largo da Matriz, na Rua Marechal Deodoro.
“A Festa de Nossa Senhora da Boa Viagem foi fantástica durante toda a semana. Um tríduo bem participativo com a presença da comunidade e diversos padres. E hoje (domingo), chegamos aqui na igreja numa explosão de fé. Uma multidão na procissão e durante todo o trajeto com muito louvor, cânticos e orações. Uma devoção impressionante”, avalia o sacerdote.
“Se percebe que o nosso povo tem muita fé em Maria. Muita devoção para com Nossa Senhora, que faz parte integral da vida das comunidades e das família”, completa.
A Festa da Padroeira prosseguiu durante o período vespertino, com as apresentações musicais da Orquestra de Viola Caipira de São Bernardo do Campo e a dupla Mococa e Paraíso, que animaram o público com repertório de canções sertanejas de raiz. Na véspera, o grupo Vida Reluz também integrou a programação.
Há quatro décadas, o casal Maria Aparecida Silingardi, a Cida, 62 anos, e José Carlos Silingardi, o Zeca, 65 anos, participa da Festa da Padroeira. Cida, que integra o Movimento da Mãe Peregrina, e Zeca, que prestigia o Terço dos Homens (toda segunda-feira, a partir das 19h, na Matriz SBC), já receberam inúmeras graças e colecionam motivos para comemorar nesta data.
Recentemente, Zeca sofreu um AVC (Acidente Vascular Cerebral) isquêmico, enquanto Cida descobriu, em 2009, um câncer na laringe.
“Essa semana (última de agosto) passei mal, fui direito para o hospital São Bernardo, ontem (sábado). Em pensamento pedia muito para que Nossa Senhora me curasse, pois queria muito participar da procissão. Há quinze dias, tomo um remédio receitado pelo cardiologista. Na madrugada (de sábado para domingo) sonhei que tomei o remédio. AÃ eu disse para o Zeca: “Não vou tomar o remédio, pois quero participar da procissão. Daí não senti nada. Participei da missa e estou bem. É mais uma graça que recebo em minha vida”, revela Cida.
É mais um milagre, pois sofri um AVC e estou sem sequelas. Bem e com disposição para participar das atividades. A gente tem fé e confia, também”, emenda Zeca.
Membro do Conselho Econômico Diocesano, Pedro Rocco é “figura carimbada” nos movimentos da Igreja Católica. Já foi ministro da Eucaristia, participou da Legião de Maria, Apostolado Coração de Jesus e até já foi escalado para ser o coordenador da “Macarronada” na Festa Italiana.
“Faz uns oito anos que o padre Giuseppe implementou a missa conduzida em italiano, na Matriz. Certo dia me chamou e disse que após as celebrações, quem iria coordenar o almoço seria eu (risos). Era uma forma de unir a comunidade. Logo após a missa subíamos ao salão para almoçarmos todos juntos”, relembra Rocco, ao lado da esposa Teresa Miranda Rocco.
Seu pai, Giovanni Rocco, trabalhou na construção da nova Igreja Matriz, idealizada em 1943 e, depois de várias reformas, demolida em 1949 para que desse lugar a um novo templo, finalizado em 1962, com a atual torre, durante a administração do Padre Fiorente Elena.
“Essa época da Festa da Padroeira me faz lembrar histórias da infância. Quando a cabra ficou velha, a gente não tinha coragem de matar, e a trouxemos num leilão de animais, na Praça da Matriz, na primeira parte da década de 1960, justamente no dia em que acontecia a Festa de Nossa Senhora da Boa Viagem”, recorda.
A celebração das 19h, com as presenças do bispo diocesano Dom Pedro Carlos Cipollini e do abade do Mosteiro São Bento, Dom Mathias Tolentino Braga – que comemorou os 300 anos de evangelização nas terras do ABC, por meio da ação beneditina“ encerrou um dia abençoado com muita fé e devoção.
Reportagem e fotos: Fábio Sales