Impressiona a foto da Represa Billings publicada no Diário do Grande ABC de domingo passado (24 de setembro). Nela aparece o espelho d’água de um lado da via Anchieta azul, do outro, a cor escurecida, devido ao despejo do esgoto in natura. Aplaudimos esta série de reportagens da maior importância e feita com competência. É um alerta diante dos ataques à natureza com suas consequências: Deus perdoa sempre, o homem muitas vezes, mas a natureza: nunca!
E pensar que é desta represa que se leva água para grande número de pessoas. A despoluição, o saneamento destas águas é uma urgência de nossa região. É uma questão que afeta a todos, pobres e ricos, não só um grupo ou outro de pessoas. A destruição da floresta no entorno da Represa diminui a capacidade de reserva de água e destrói a Mata Atlântica. No Grande ABC a vida está ameaçada devido à destruição lenta do ecossistema, expressa entre tantas formas a da poluição atmosférica e a carência de saneamento básico.
Diante disto é necessária uma “conversão ecológica” como propõe o Papa Francisco na encíclica Laudato si’ (Louvado sejas) cujo tema é a ecologia. Um chamando à conversão interior no sentido de viver a fé em Deus que é Criador e doador de todos os dons da Natureza. “Os desertos exteriores se multiplicam no mundo, porque os desertos interiores se tornam tão amplos no coração humano”. Desertos provocados pela ganância e consumismo que não temem em destruir a natureza.
O ser humano não pode depredar a natureza, devastá-la. A missão do ser humano é ser o guardião da obra de Deus, fazendo com que todos possam participar da beleza e dos dons da criação, a qual é confiada aos cuidados de todos.
São Francisco propõe um sadio relacionamento com a natureza como forma de vida equilibrada e feliz. Ele louva a Deus pelos dons da criação como expressa no famoso Cântico das Criaturas. O Papa Francisco propõe o combate ao consumismo como provocador de esgotamento dos recursos da natureza. Propõe ações não só individuais, mas também comunitárias e governamentais a fim de vencer a crise ecológica atual.
O acesso à água potável é direito humano essencial e determina a sobrevivência das pessoas e, portanto, é condição para o exercício dos outros direitos humanos. A escassez de água provocará o aumento do custo dos alimentos, a vida estará ameaçada e os primeiros a sentirem estes sintomas são os pobres. Mas quando perdemos a natureza, todos nós somos pobres. É necessário ouvir o apelo do Papa Francisco que pede “conversão ecológica” enquanto ainda é tempo.
Artigo escrito por Dom Pedro Carlos Cipollini para o jornal Diário do Grande Abc