Diocese de Santo André

Fala na Abertura da Assembleia do Sínodo Diocesano

Dom Pedro Carlos Cipollini

15 novembro 2017 

Quando aqui cheguei ouvi muito. O que ouvi, tanto dos padres, religiosos, religiosas, diáconos e dos leigos e agentes de pastoral? Relato aqui o que vem ao caso neste momento, ou seja: o que diz respeito ao desenvolvimento Pastoral na Diocese.

Em síntese, diante da complexidade da nossa realidade social e eclesial, foram apontados para mim dois desafios: a) Primeiro: uma Pastoral Presbiteral capaz de suscitar unidade e coesão no Presbitério. Ouvi sobe o desejo de termos uma eficiente Pastoral Presbiteral, com um Clero unido em torno da fraternidade presbiteral e do projeto evangelizador em favor do Reino de Deus; porque este é o objetivo do ser Igreja e do ser sacerdote. b) Segundo: a articulação de uma Pastoral de Conjunto, capaz de articular um Plano de Pastoral que dê rosto à nossa Igreja e que seja assumido por todos com entusiasmo. É preciso resgatar o fio condutor da história de nossa diocese, a qual teve seu ponto alto na década de 70/80, na qual a Diocese se via a partir de sua periferia, impulsionada pelo exemplo de Jesus que veio para evangelizar os pobres.

Para isto fui alertado da necessidade de estar próximo de todos, e assim procurei fazer, projetando e executando com a Coordenação de Pastoral, uma ação missionária com clérigos e leigos, as “Visitas Pastorais Missionárias”, nas quais percorremos (em 2016) toda a diocese. Percebemos a necessidade de valorizar os organismos de participação em todos os níveis, reorganizar as lideranças, a fim de renovar as pessoas no seu entusiasmo e reavivar as comunidades, as paróquias, para vencer o comodismo e a desagregação.

Nas inúmeras conversas e reuniões com padres e leigos, surgiu a necessidade de realizar uma pesquisa sobre a realidade sócio-econômica-política e religiosa do grande ABC, que é o espaço de nossa diocese de Santo André, a qual não é mais pautada pela industrialização, mas pelos serviços e pelo comércio.

Evidenciou-se a necessidade de indicar um novo coordenador de pastoral, que foi indicado pelo clero e nomeado por mim, como Vigário Episcopal para a Pastoral. Os organismos pastorais foram rearticulados e criamos a Coordenação Diocesana de Pastoral além do Conselho de Pastoral já existente.

Constatamos a necessidade de unir todas as forças vivas de nossa Igreja, para articular um plano de Pastoral que possa ser assumido por todos: clero e leigos. É preciso sair de uma pastoral de manutenção e perceber que não podemos mais continuar evangelizando um centro urbano com esquemas rurais.

Precisamos descobrir o modo mais eficiente de proclamar primeiro com o exemplo, com o testemunho de vida, proclamar que é bom crer em Jesus e viver o que Ele ensinou. Percebemos que a fé em um ambiente secularizado não é tão simples de viver como no passado. Como dizer hoje às pessoas que crer em Deus encarnado, crer em Jesus, é bom? E que a Igreja, a comunidade servidora do Reino, é querida por Jesus? Como proclamar nossa fé e mostrar que esta fé cristã que professamos pode ser fonte de verdadeira saúde e felicidade?

  1. Foi assim que, reunidos para pensar os rumos de nossa pastoral diocesana, chegamos à conclusão de que poderíamos convocar um Sínodo Diocesano. Concluímos que o caráter missionário da pastoral requer novas atitudes pastorais por parte de todos (cf. DAp 291) e isto deveria ser decidido por todos. Nossa Diocese já tem uma longa e significativa caminhada pastoral com sete Planos Diocesanos de Pastoral. Todos eles frutos do grande amor de todos pela nossa Diocese. Frutos do desejo de estarmos sintonizados com os sinais dos tempos para levar o Evangelho.

Sentiu-se também a necessidade de reassumir este passado e, levando em conta tudo o que já foi realizado, partir de Jesus Cristo para um novo recomeço. Todos percebemos que estamos em uma encruzilhada na qual devemos decidir o caminho a seguir em uma realidade nova. Então sentimos a necessidade de caminharmos juntos, nos caminhos de uma nova evangelização, para uma realidade nova que vivemos no Grande ABC.

Em minha homilia de posse eu disse: “Venho assumir com vocês o desafio de anunciar e testemunhar o Evangelho na sociedade secularizada, na grande cidade, que é local privilegiado para a evangelização, conforme ensina o papa Francisco (cf. EG n. 73)”. Um Sínodo serviria para pensarmos o desafio de evangelizar uma cidade grande, mas não só isso, evangelizarmos como Igreja que parte da Palavra de Deus e da Eucaristia, para levar a viver a comunhão com Deus e com todos, portando luz e vida, libertação e paz! Um Sínodo é um acontecimento eclesial de suma importância no qual todos escutam, todos escutam a todos, e todos escutam juntos o Espírito Santo que dirige a Igreja em favor do Reino. Um Sínodo deseja tornar efetiva a participação de todos

  1. Foi assim que se preparou com muito carinho, e determinação também, os passos a serem dados para realizar este Sínodo. Isto após a aprovação do mesmo pelas várias instâncias de comunhão e participação de nossa Igreja. No decreto de convocação do Sínodo, há um ano, vislumbramos uma “perspectiva de afirmação da fé, conversão e missão permanente, atentos aos desafios pastorais contextualizados na Igreja do Grande ABC…, manifestamos o desejo de sermos uma Igreja de comunhão e missão, de forma articulada, que torne efetiva e eficaz a participação de todos na missão evangelizadora”. Então, no encerramento do Ano Santo da Misericórdia, que teve lugar na Catedral Diocesana, houve a convocação de nosso Primeiro Sínodo Diocesano no dia 13/11/2016, há praticamente um ano.
  2. No dia 3 de dezembro de 2016 teve lugar aqui mesmo, no Externato Santo Antônio (em S. Caetano), a Primeira Sessão Sinodal com a participação de todos membros sinodais, representando as paróquias, comunidades e organismos pastorais, os membros do clero e convidados, em um total de 420 pessoas. Nesta sessão de abertura foi-nos exposto o resultado da pesquisa encomendada para fornecer dados empíricos sobre nossa realidade. Esta pesquisa foi realizada pela USCS (Universidade de São Caetano do Sul) seguindo a metodologia científica própria.

A pesquisa revelou uma diocese mergulhada numa realidade urbana em contínua mutação com inúmeros desafios em todas as áreas. Revelou-nos, serem os que se declaram católicos no Grande ABC a porcentagem de 46,8%. Não somos mais a maioria! Há uma grande migração religiosa, aumento dos evangélicos, espíritas e sem religião. Cresce o número de mulheres “chefe de família” o que influi nesta migração religiosa, segundo a pesquisa. Nos últimos anos nossa Igreja perdeu um milhão e duzentos mil católicos, especialmente nas maiores cidades: Santo André, S. Bernardo, Mauá e Diadema. Embora melhor que no resto do Brasil, temos diminuição da qualidade de vida e de postos de trabalho. Uma sociedade tecnicamente maravilhosa mas tomada pelo consumismo, violência e vazio.

            A pesquisa também levou-nos a concluir sobre a necessidade de renovar a seiva de nossa Igreja a partir da inspiração do Concílio Vaticano II, desenvolvido e traduzido para nossa realidade no Documento de Aparecida (CELAM) e a Exortação do Papa Francisco: Alegria do Evangelho e as Diretrizes Pastorais da Igreja do Brasil.

A partir desta pesquisa concluímos ser necessária uma conversão pastoral, acompanhada de uma conversão pessoal do coração. Conversão ao Evangelho das Bem-aventuranças. É necessária uma Igreja missionária, na qual os leigos e leigas, juntamente com o clero, tomem iniciativas capazes de levar a todos a Alegria do Evangelho; mostrando à nossa sociedade, quem é Jesus e como vale a pena segui-lo. Isto associado à capacidade de proporcionar um encontro com Ele capaz de mudar a vida conferindo-lhe a felicidade e a paz que vem de Deus e que todos procuram.

  1. Com a Secretaria do Sínodo assumindo sua tarefa, foi produzido o Guia 1 com textos para reflexão e como roteiro para dois encontros nas paróquias – com associações, pastorais, movimentos, CPPs e CAEPs, para refletir e discutir a realidade eclesial, a pastoral como um todo. Os grupos responderam às planilhas e entregaram para a Coordenação de Pastoral a fim de serem tabuladas. Constatou-se uma Igreja ensimesmada, de difícil comunicação em meio a um crescente pluralismo religioso, e a falta de coesão na ação evangelizadora da Igreja. Há muito trabalho e esforço, mas disperso e enfraquecido pelo cansaço dos agentes de pastoral.
  2. Em seguida, todos as pastorais, movimentos e associações foram divididas em 7 grupos, as chamadas áreas pastorais, acontecendo ao menos duas reuniões com cada um destes grupos. O bispo participou juntamente com o Coordenador de Pastoral e a Secretária de Pastoral destes encontros, nos quais foram elaborados um texto por área, expondo a situação e propondo sugestões, ações concretas para uma melhor e mais eficiente ação evangelizadora da referia área pastoral. Este trabalho envolveu uma grande quantidade de agentes de pastoral, favorecendo um crescimento de todos neste processo participativo.
  3. Tivemos então a Segunda Sessão Sinodal Geral nos dias 12 e 13 de maio 2017 na qual pudemos ouvir a exposição do Padre Oscar Beozzo partindo do aspecto social da pesquisa elaborada pela USCS. Versou sobre a realidade da Igreja no Grande ABC a partir dos dados da pesquisa fazendo alguns elementos: a) Resgatando o Vaticano II ressaltou a importância da Pastoral como “nota” da Igreja, e do laicato para se evangelizar hoje. b) A Igreja deve ter diálogo dentro dela mesma e dela com o mundo c) A Igreja deve sair da zona de conforto e mostrar que aqueles que estão sofrendo em situação crítica podem recorrer a ela d) Precisamos conhecer e entender o mundo em que vivemos e ter uma metodologia para organizar a pastoral, a fim de atingir as pessoas e se fazer presença na cidade e) As paróquias e o nosso clero estão mal distribuídos e devemos nos perguntar: como organizar a evangelização e promoção humana, em especial dos pobres? f) Atenção às famílias muito divididas hoje em dia e que esperam um apoio da Igreja, porque elas também devem ser “Igrejas domésticas”, primeiras células eclesiais. g) Hoje há dificuldade para se viver em comunidade, a Igreja precisa resgatar o valor da comunidade, dos grupos reunidos em torno da Palavra de Deus a qual pode orientar a sociedade.

Nesta ocasião foram entregues os Diretórios Diáconos e Formação Presbiteral.

  1. Realizamos então a Terceira Sessão Sinodal Geral em 9 e 10 de julho de 2017, tendo como assessor Dom Leomar Brustolin Bispo Auxiliar de Porto Alegre. A partir da pesquisa foi responsabilidade sua uma análise teológico pastoral: a) Alertou para o fim de uma religião como herança social devido a ruptura entre religião e cultura, passando-se para uma religião de opção pessoal b) Necessidade de partir de Jesus Cristo porque muitos hoje não o conhecem, até dentro da Igreja, Jesus é visto não como Unigênito (Filho de Deus) mas como Primogênito (o primeiro entre os irmãos). O Evangelho que devemos pregar não é projeto mas é uma pessoa: Jesus c) É preciso passar de uma Igreja de massa para uma Igreja articulada em comunidades de fé e vida, de discípulos e missionários d) A Igreja precisa resgatar a comunidade – disto decorre a Iniciação Cristã, a Palavra de Deus (Leitura Orante) que inspira sentido de pertença. Estabelecer relação com Jesus e a Comunidade a partir do batismo e) A Igreja deve estar a serviço da vida – vida plena para todos, para isso e por isso deve ir às periferias existenciais f) É preciso renovar o papel do líder religioso, o padre deve ser capaz de levar a humanidade para fora do deserto através do amor de Cristo vivido e anunciado.

Nesta ocasião foram entregues os Diretórios de Liturgia e o Subsídio dos Ministérios Extraordinários

  1. Passamos então ao Guia de Leitura 2 com o texto sobre o “Futuro da Pastoral no Grande ABC”, norte para os encontros com os Conselhos Regionais de Pastoral, o Bispo, o Coordenador de Pastoral e a Secretária de Pastoral também participaram destes encontros em todas as Regiões Pastorais (que são 10 atualmente). O Grande ABC é uma área de grande migração na qual as pessoas passam por grandes mudanças e também há muita migração religiosa. A pastoral exige criatividade e determinação, além de planejamento prático, estratégico. Foi realizada uma sessão sinodal em cada paróquia a partir deste texto, uma Hora Santa pelo Sínodo. Foi elaborada uma proposta de ação pastoral em cada Região Pastoral para serem realizadas em nossa Diocese e o Relatório Regional foi entregue também à secretaria.
  2. Em seguida elaborou-se um Instrumento de Trabalho recolhendo os sete textos elaborados pelas áreas pastorais e as prioridades elencadas pelas dez Regiões Pastorais, além de um artigo para reflexão, lançando um olhar sobre vários aspectos da realidade eclesial Diocesana. Este Instrumento de Trabalho foi proposto para estudo de cada membro da Assembleia Sinodal antes da escolha das três Prioridades que hoje serão definidas.
  3. ASSEMBLEIA SINODAL DE ENCERRAMENTO DO SÍNODO e eleição das três prioridades.

É o ponto alto de chegada de nosso Sínodo, porque aqui devemos decidir mais que três prioridades, três coordenadas pastorais para elaborarmos nosso 8º Plano de Pastoral de Conjunto (ou Orgânico) de nossa Diocese.

Nós invocamos o Espirito Santo e Ele hoje se fará sentir, como em Pentecostes, inspirando o caminho para a evangelização que nossa Igreja quer levar avante, perscrutando os sinais dos tempos e sendo fiel a Jesus Cristo. Se nossa Igreja chegou até aqui nesta caminhada sinodal, é porque conta com vocês. Todos participaram, colaboraram e estão aqui para decidir os rumos da pastoral de nossa Igreja. A caminhada que fizemos deu muita experiência e foi um grande aprendizado para todos. Conhecer e amar mais ainda nossa Igreja foi, certamente, o grande fruto deste caminhar juntos, que nos possibilitará amar e servir o projeto do Reino de Deus; que é o mais importante. Deus seja louvado por tudo e abençoe a cada um de vocês. Os padres que em meio a tantos trabalhos viram aumentar as tarefas e vocês leigos que igualmente muito se dedicaram. Deus lhes pague!

  1. Deveremos, a partir desta Assembleia Diocesana, elaborar o documento sinodal conclusivo que conterá nosso 8º Plano Diocesano de Pastoral. Portanto, temos ainda um importante desdobramento de nosso Sínodo Diocesano. Isto vai requerer o empenho daqueles que para este trabalho foram requisitados. Sejamos generosos e fiéis também na continuidade.
  2. Enfim, teremos em dia 6 de abril de 2018, a entrega do Documento Final, nele seremos alertados que: é mais fácil realizar o Sínodo do que colocá-lo em prática. Mas com Deus tudo se pode, por isso nos comprometemos em colocar em prática o resultado deste processo de planejamento participativo, pedido por todos e sugerido pela maior parte dos agentes de pastoral de nossa Igreja. Recordando o que no começo desta exposição trouxe como um pedido de muitos: um plano de Pastoral articulador de uma Pastoral de Conjunto, plano assumido por todos para dar unidade na ação Evangelizadora de nossa Igreja. #

 

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