3.12.2017
Tema Proposto:
O PRESBÍTERO E A COMUNHÃO ECLESIAL
“Dar-vos-ei pastores segundo o Meu coração” (Jer 3, 15). Com estas palavras do profeta Jeremias, Deus promete ao seu povo que jamais o deixará privado de pastores que o reúnam e guiem: “Eu estabelecerei para as minhas ovelhas, pastores, que as apascentarão, de sorte que não mais deverão temer ou amedrontar-se” (Jer 23, 4). A Carta aos Hebreus afirma claramente a “humanidade” do ministro de Deus: ele vem dos homens e está ao serviço dos homens, imitando Jesus Cristo: missionário do Pai (cf. Heb 4, 15).
Deus chama sempre os seus sacerdotes a partir de determinados contextos humanos e eclesiais, com os quais estão inevitavelmente ligados e aí mesmo recebem o chamado e são mandados para o serviço do Evangelho de Cristo. Deus chamou Pe. Beto quando já adulto tinha outra perspectiva de vida como biólogo de formação. Ele pode dizer como São Paulo: Deus me encontrou, laçou-me e trouxe para esta missão (cf. Fl 3,12). Muitas renúncias teve de fazer, mas valeu a pena! Pe. Beto tem experiência como pároco em várias paróquias, somente nesta de S. João Batista está há dez anos. Foi reitor de seminário e vigário geral. Ele está bem dentro do tema proposto aqui, pois é um homem de comunhão eclesial, reconhecido por todos. Sempre fiel a Cristo, à Igreja, a seus bispos, aos colegas padres e aos leigos e leigas confiados a seu pastoreio. Creio que ao completar os vinte e cinco anos de ministério sacerdotal Pe. Beto pode dizer que a “graça de Deus, a graça do sacerdócio para ele, não foi em vão”(2Cor 6,1).
E onde é o local, a base, o ponto de partida do sacerdote? É a família sim, mas a família está inserida em um âmbito maior que é a Igreja. A família é a Igreja Doméstica. Assim, Igreja, a comunidade eclesial, é o“habitat” do sacerdote. É na Igreja, mistério de comunhão e missão, que o sacerdote se desenvolve e cumpre sua vocação. A Igreja brota do mistério da Trindade, por isso falamos que ela é comunhão. “A identidade sacerdotal, como toda e qualquer identidade cristã, encontra na Santíssima Trindade a sua própria fonte”, que se revela e auto-comunica aos homens em Cristo, constituindo a Igreja como “gérmen e início do Reino” (LG 5). A Igreja “é mistério de comunhão e missão”. Por isso não existe presbítero autêntico sem que viva em comunhão eclesial. Comunhão com seu bispo, seu presbitério, sua comunidade unida a todas as outras da Diocese.
Não se pode, então, definir a natureza e a missão do sacerdócio ministerial, senão nesta múltipla e rica trama de relações, que brotam da Trindade Santíssima e se prolongam na comunhão da Igreja. Não pode haver separação entre Cristo, Reino e Igreja (cf. RM 18). Os presbíteros são, na Igreja e para a Igreja, uma representação sacramental de Jesus Cristo Cabeça e Pastor. Eles existem e agem para o anúncio do Evangelho ao mundo e para a edificação da Igreja em nome e na pessoa de Cristo Bom Pastor cujo desejo é que todos sejam um.
“Enquanto representa Cristo Cabeça, Pastor e Esposo da Igreja, o sacerdote coloca-se não apenas na Igreja, mas também perante a Igreja. O sacerdócio, enquanto unido à Palavra de Deus e aos sinais sacramentais a cujo serviço se encontra, pertence aos elementos constitutivos da Igreja. O ministério do presbítero existe em favor da Igreja. Existe para a promoção do exercício do sacerdócio comum de todo o Povo de Deus. Ordena-se não apenas para a Igreja particular, mas também para a Igreja universal, em comunhão com o Bispo e o ministério de Pedro (cf. Presbyterorum ordinis, 10)
Não se deve, pois, pensar no sacerdócio ordenado como se fosse anterior à própria Igreja, porque ele existe totalmente em função do serviço da mesma Igreja; nem muito menos se pode pensar como posterior à comunidade eclesial. A Igreja e o sacerdócio ministerial surgem juntos na Última Ceia e no Calvário. A Igreja é o rebanho de Cristo do qual o sacerdote faz parte com uma missão específica: a de ser pastor que mantem o rebanho unido e bem alimentado. Portanto, um presbítero deve sempre construir comunhão. Caso não trabalhe em favor da comunhão eclesial, seu sacerdócio não pertence a Cristo, mas a si mesmo.
Pelo fato de participar da ‘unção’ e da ‘missão’ de Cristo, ele pode prolongar na Igreja a sua oração, a sua palavra, o seu sacrifício e a sua ação salvífica. É servidor da Igreja comunhão porque – unido ao Bispo e em estreita relação com o presbitério – constrói a unidade da comunidade eclesial na harmonia das diferentes vocações, carismas e serviços. É finalmente servidor da Igreja missão, porque faz com que a comunidade se torne anunciadora e testemunha do Evangelho” (cf. PDV 16).
“O ministério ordenado, em virtude da sua própria natureza, pode ser exercido somente na medida em que o presbítero estiver unido a Cristo mediante a inserção sacramental na ordem presbiteral e, conseguinte, enquanto se encontrar em comunhão hierárquica com o próprio Bispo. O ministério ordenado tem uma radical “forma comunitária” e pode apenas ser assumido como “obra coletiva”… O ministério do presbítero é, antes de mais, comunhão e colaboração responsável e necessária no ministério do Bispo, na solicitude pela Igreja universal e por cada Igreja particular para cujo serviço eles constituem, juntamente com o Bispo, um único presbitério”(PDV n.17).
Finalmente os presbíteros, pela sua figura e seu papel na Igreja, não substitui, mas antes promovem o sacerdócio batismal de todo o Povo de Deus, conduzindo-o à sua plena atuação eclesial. O padre deve ter uma relação positiva e promotora com os leigos, e isto Pe. Beto demonstra-o bem. O padre esta a serviço da fé, esperança e caridade dos cristãos leigos. Reconhecem e sustentam a sua dignidade de filhos de Deus como amigos e irmãos, ajudando-os a exercitar em plenitude o seu papel específico no âmbito da missão da Igreja.
O que é ser um presbítero em comunhão eclesial hoje? É aquele que valoriza a unidade construída na verdade da cruz de Cristo, a qual é muito exigente e está longe do mero sentimentalismo. A comunhão eclesial se faz na renúncia e na missão, e sobretudo no amor capaz de dar a vida, para que todos tenham vida (Jo 10,10).
Obrigado Pe. Beto, porque o senhor tem feito tudo isto entre nós, e tem dado o seu belo testemunho de unidade com o bispo, em especial com Dom Nelson de quem foi vigário geral. Testemunho de comunhão eclesial com os seus colegas padres e sobretudo com os leigos e leigas colocados sob seu pastoreio.
Que Deus continue abençoando-o com sua graça e seu amor, conduzindo seu ministério à plena realização.
+ Dom Pedro Carlos Cipollini
Bispo Diocesano de Santo André