Na noite da última segunda-feira, dia 1º de outubro, Dom Pedro Cipollini, nosso bispo diocesano, em missa solene na Capela da Comunidade São Francisco de Assis, pertencente à Paróquia Maria Mãe dos Pobres, do Jd. Canhema, em Diadema, presidiu a eucaristia de bênção e inauguração do novo templo da comunidade, totalmente reconstruído.
A comunidade São Francisco de Assis tem suas origens nos inícios dos anos 1980, numa das muitas ocupações e realidades de extrema pobreza que existiram em Diadema. Nelas, o povo de fé aprendeu a se reunir para rezar o terço e ler a bíblia nos barracos das famílias e nos espaços públicos de convivência. Logo a urgência de uma comunidade onde pudessem celebrar a fé e se reunir para evangelizar deu lugar a uma capela que por familiaridade e identificação foi dedicada ao santo pobrezinho de Assis, Francisco.
A capela foi construída em regime e mutirão e com recursos da Adveniat, entidade europeia de assistência às obras de evangelização e formação na América Latina. Inicialmente a capela pertencia à Paróquia São Pedro Apóstolo, do bairro Taboão. Com a criação da Paróquia Maria Mãe dos Pobres, no bairro Canhema, a capela ficou incorporada a ela e nela está até hoje.
A capela estava em situação precária de conservação, literalmente caindo aos pedaços. Ela foi construída sobre um brejo, o que facilitava a ação da umidade, da ferrugem, do apodrecimento das madeiras e deterioração do todo.
O entorno da capela é bastante afetado pela pobreza, pelo abandono dos poderes públicos e pela falta de tudo o que diz respeito à dignidade das pessoas em se tratando de saúde, educação, segurança, cultura, saneamento básico. É uma realidade muito chocante aos olhos de quem vê. O tráfico é presente e muito forte na realidade do entorno da capela. Em alguns momentos se assemelha muito a uma “cracolândia” daquelas que a gente vê na TV. Muito triste.
Quando Pe. Julio Rodrigues Neves, o atual pároco, chegou à Paróquia Maria Mãe dos Pobres, há 5 anos, a missa na capela era aos sábados a noite, o que tornava literalmente impossível a celebração, tanto é que a capela estava com seu fechamento decretado, ela ia deixar de existir. A primeira iniciativa do padre foi mudar o horário da celebração para o domingo de manhã, quando todos os horrores estão dormindo e há alguma paz para se poder celebrar. Os efeitos foram sentidos de imediato. O próximo passo era um plano para tornar a capela mais digna de uso para o culto. A comunidade implorava por alguma benfeitoria que possibilitasse o mínimo bem estar para o povo que vinha. Uma capela feia e maltratada não é atraente e um lugar onde não há mínimas condições de permanência não convida para o culto e o encontro com Deus.
De início o padre apenas ouviu os clamores da comunidade, mas não podia fazer nada por ela naquele momento, pois havia necessidades mais urgentes e gritantes que demandavam atenção imediata. O desânimo e a descrença das pessoas em ajudar a paróquia e as iniciativas de arrecadação eram muito grandes porque por anos a comunidade ajudou e nada foi feito. O pedido era apenas para que o padre pintasse a igreja e trocasse o piso e fizesse um altar digno, a comunidade celebrava sobre um altar de tábuas, completamente indigno do uso do culto.
Ano passado a Paróquia Maria Mãe dos Pobres reconstruiu e inaugurou a Capela São Pedro Julião Eymard, que também estava em situação precária. Após a festa de São Francisco do ano passado, começaram as obras do que inicialmente seria apenas a troca do piso e a pintura da igreja, mas no decorrer do processo o padre percebeu que não adiantaria nada apenas fazer isso, pois logo a capela estaria em situação ruim novamente. Era preciso fazer obras de drenagem da água que passava por baixo da capela e que provocava os problemas de deterioração. Era preciso fazer uma intervenção também no andar de cima, onde o telhado e as caixas de água estavam caindo, o piso se soltando, os banheiros interditados, as janelas enferrujadas completamente e a parte elétrica comprometida totalmente. Foi aí que o padre decidiu que a intervenção seria completa e que era preciso reconstruir a capela por inteiro. As obras duraram 1 ano e a capela foi literalmente toda reconstruída.
A fachada da igreja foi refeita e foram colocados grades e portões que isolaram o acesso à igreja que era usada como depósito de entorpecentes pelo tráfico e como ponto de venda das drogas, como ponto de parada para usuários e viciados de todos os tipos. Foi feito um lindo mural com um São Francisco na fachada da capela e foi colocada uma cruz.
Após a intervenção, com a conclusão das reformas, sentiu-se uma melhora inclusive na auto-estima das pessoas da comunidade, de todos os seguimentos vieram manifestações de agradecimento e alegria das pessoas pela sua igreja reformada.
Dom Pedro, em sua homilia na missa de bênção da nova capela, disse: “Eu estive aqui nessa capela durante as visitas pastorais missionárias, há 3 anos e é impressionante como é um outro lugar, completamente diferente daquele que eu conheci. Deus é muito bom e é preciso ter esperança sempre! É preciso acreditar que as coisas boas vão acontecer. Eu fico feliz em ver o progresso que essa comunidade alcançou e desejo que essa capela linda possa brilhar nesse lugar como uma presença do amor de Deus por essa realidade”.
No agradecimento da comunidade, a memória da história da comunidade, das muitas decepções experimentadas e claro, o carinho, a gratidão e o reconhecimento pelo trabalho do Pe. Julio, pároco local foi expressado de forma carinhosa. “Agradecemos a Deus por tê-lo colocado no caminho da nossa Paróquia e da nossa comunidade, o senhor teve a coragem que nenhum outro teve e nos tratou como iguais”.
Pe. Julio, ao dizer suas palavras de agradecimento, disse só ter sido possível a reconstrução da igreja de São Francisco, por causa da união de todos, que acreditam na paróquia e no trabalho que está sendo feito, pela adesão dos dizimistas e pessoas que “vestem a camisa” da comunidade, trabalhando e ajudando nas campanhas, eventos, festas que são promovidas. Afirmou que Deus e a Mãe dos Pobres têm sido muito bons com a paróquia que esse ano, além da reforma da Capela São Francisco, também conseguiu realizar outro antigo sonho, o da compra de uma casa para servir de “Casa Paroquial”. Disse também que já prestou contas das obras da construção aos conselhos de pastoral e econômico da paróquia. Apresentou o projeto “Paróquia 25 anos”, que pensa e sonha na reforma das estruturas que ainda precisam ser feitas: a construção do centro comunitário Nossa Senhora Aparecida, na Vila Olinda; a reconstrução da Capela São José Operário, no Jd. das Nações; a reforma completa da Matriz Maria Mãe dos Pobres, com o centro de eventos e o centro pastoral, tudo isso sem deixar de zelar pelas outras estruturas já existentes. A Paróquia completa 21 anos em dezembro próximo e nos próximos 4 anos tem essas obras pela frente.
Visível era a animação, a gratidão e o entusiasmo do povo todo da paróquia que se fez presente lotando o interior e o exterior da capela da comunidade abençoada pelo nosso bispo diocesano. Também Dom Pedro e o Pe. Camilo que o acompanhou estavam visivelmente felizes de poder estar ali naquele momento. Pe. Camilo, enquanto seminarista, fez pastoral naquela comunidade.
Essa capela, São Francisco de Assis, é conhecida como a Capela das 3 irmãs. São 3 senhoras, todas com idades acima dos 80 anos e que são as fundadoras da comunidade e que nunca desistiram de rezar e ter esperanças. Dona Antônia, Dona Francisca e Dona Alice. Era visível a emoção das 3. Uma delas disse: “Agora eu posso morrer depois de ter visto essa maravilha e de saber que a nossa igrejinha, nossa comunidade pela qual a gente lutou com tanto esforço, que ela não vai mais fechar e vai continuar de pé para as pessoas que procuram a Deus”.
Foi uma noite certamente inesquecível para a Paróquia Maria Mãe dos Pobres e para o povo da comunidade São Francisco de Assis. Ao final da missa, Dom Pedro e o Pe. Julio, descerraram a placa de inauguração e memória desse dia que ficará para sempre nos corações do povo de Deus.
Texto de Comunicação da Paróquia Maria Mãe dos Pobres.