Diocese de Santo André

Caridade: fonte e expressão da missão

Se fizermos uma síntese de nossa vivência do cristianismo, perceberemos que, para que nossas ações sejam eficazes e produzam frutos, é necessário que elas tenham raízes na caridade, no amor, ponto alto da pregação de Jesus.

As Sagradas Escrituras nos garantem e elucidam o maior mandamento deixado por Jesus, é aquele de amar: amar a Deus com todo o coração, com toda a alma e com toda a mente e amar o próximo como a nós mesmos (cfr. Mt 22, 37-39). Somos chamados ao amor e ele deve ser a nossa identidade, enquanto filhos de Deus. Amar deve ser nossa vocação primeira, a vocação por excelência. O amor, ao nos alcançar, tem a capacidade de gerar um impulso muito deleitoso e benfazejo, a saber: a necessidade de ir ao encontro; disponibilizar-se a quem precisa; identificar as necessidades dos irmãos e, prontamente, atende-las; a ânsia de praticar a caridade, que se concretiza em nossa atividade missionária; estar a serviço dos mais necessitados. Desta forma podemos compreender a caridade como fonte e expressão da missão.

O Papa Francisco, em uma de suas homilias – onde explanava acerca da caridade – alerta que há um grande risco de que o nosso amor seja hipócrita, que devemos ficar atentos para que o nosso amor, nossa caridade, não seja corrompida pela hipocrisia, mas que, pelo contrário, seja um sentimento autêntico, sentimento de verdadeiros filhos amados por Deus, que sentiram este amor e foram impelidos a amar, a doar-se, a dedicar-se ao serviço do próximo. Esta exortação do Santo Padre pode nos levar a pensar: “Quando é que nosso modo de amar se torna hipócrita? ” É quando este amor se torna interesseiro, quando nossa caridade é movida por interesses pessoais, quando os trabalhos caritativos que desempenhamos servem para nos deixar em evidência. Deus nos livre de tamanha hipocrisia, deste amor hipócrita! A caridade deve gerar em nós a premência de ir ao encontro daqueles que mais precisam de nós e, na maioria das vezes, não podem fazer nada em troca, não podem pagar, nem fazer com que nossa imagem fique em evidência. Quem são estes? Onde estão estes irmãos?

A encíclica Redemptoris missio, redigida pelo Papa São João Paulo II em 1990, trata sobre a urgência da atividade missionária e, no parágrafo 60, desenvolve a questão da caridade como critério para a missão. Neste ponto, o Papa apresenta os pobres como os principais destinatários da ação missionária da Igreja, os pobres merecem atenção especial da Igreja, por serem imagem e semelhança do Senhor, muitas vezes esta imagem torna-se ultrajada e ofuscada. Porém, é função da Igreja fazer com que este filho de Deus seja recuperado, tenha restituída a sua dignidade de filho amado de Deus através do nosso encontro, de nossa atividade caritativa, de nosso ser missionário. Tanto é missão basilar da Igreja ser missionária pela caridade que podemos compreender o serviço da caridade (diakonia) como que substância inseparável do Corpo de Cristo que é a Igreja. Com ela, devemos nos tornar instrumentos da caridade de Deus. Mesmo em nossa pequenez, tendo o coração cheio da bondade e compaixão do Pai, entender que tudo aquilo que podemos fazer pelos irmãos não é outra coisa senão a resposta àquilo que Deus fez e continua fazendo por nós. Antes, é o próprio Deus que, tomando morada no nosso coração e na nossa vida, continua a fazer-se próximo e a servir todos aqueles que encontramos a cada dia no nosso caminho, a começar pelos últimos e pelos mais necessitados nos quais Ele primeiro se reconhece.

Portanto, é a prática da caridade que dá testemunho da alma de toda a atividade missionária. Ao final é o amor que permanece, ele é o verdadeiro motor da missão, deve ser o critério pelo qual tudo deve ser feito ou deixado de fazer, mudado ou mantido. Agindo na perspectiva da caridade, ou inspirados por ela, nada é impróprio, tudo é bom!

* Artigo por seminarista Lucas M. Barcello

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