A liberdade civil é um valor a ser respeitado. É a faculdade de realizar tudo o que não é proibido pelas leis. De acordo com a Constituição, ela é um direito inviolável (cf. art 153), e em seus aspectos fundamentais está a liberdade de consciência e de crença (art 153 §5) de convicção religiosa, filosófica e política (art. 153§6). Uma nação que se preze, com povo educado, um ambiente cultural desenvolvido, não poderá jamais desrespeitar estes princípios de modo algum.
Infelizmente não é o que há em certas áreas, nas quais as leis são desrespeitadas, a começar do trânsito até chegar no desrespeito à religião alheia. São manifestações disfarçadas de arte que mostram o atraso e subdesenvolvimento cultural, de certa classe artística. Recorrem a insultos e ofensas à religião para se fazer apreciar na sociedade, não pela arte em si, mas pelo rebuliço que causam.
É isto que notamos no “Especial de Natal do grupo de humor Porta dos Fundos: A Primeira Tentação de Cristo”, disponível no Netflix. Um conjunto de piadas grosseiras, ridicularização da sexualidade da Sagrada Família (Jesus, Maria e José). Tudo isto é antigo e de mal gosto. Expõe falta de criatividade, repetição de lugares comuns nos que desrespeitam a religião alheia. Aliás, tem uma religião à qual por medo, não se atrevem a desrespeitar, pois sofrerão consequências.
O cristianismo que prega o perdão e a tolerância é o mais atingido, aqui no Ocidente, pela ignorância e falta de sensibilidade de pretensos artistas. Em nome de uma falsa concepção de liberdade de expressão, desrespeitam a lei. Somente conhecem direitos, não sabem quais os deveres dos cidadãos, entre os quais o respeito à crença e à liberdade religiosa.
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), emitiu nota de repúdio a esta obra, que ridiculariza a fé cristã, incorrendo em ilícito previsto pela legislação penal. É um desrespeito às pessoas de fé, fere a busca por uma sociedade democrática que valoriza a crença de cada cidadão e promove a convivência pacífica de todos. “Quando há desrespeito em produções midiáticas, os meios de comunicação tornam-se violentos, verdadeiras armas que contribuem para ridicularizar e matar os valores mais profundos de um povo”, diz a nota.
Nossa sociedade é pluralista em tudo também na coexistência de várias religiões. Isto requer maturidade. Genial não é quem choca, não é quem agride com sua pseudo arte. Genial é quem surpreende e acolhe. Temos uma obra maravilhosa, “Auto da compadecida”, autoria de Ariano Suassuna. Aborda uma história envolvendo religião, padre, bispo, um Cristo negro e uma Maria idosa. Não ofende ninguém, foi escrito com doçura e delicadeza, com respeito e bondade. Foi escrito por um gênio, esta é a diferença.
Não venha dizer que os católicos não tem senso de humor. Tem senso de dignidade, isto sim. Arte é arte, afronta é afronta. Artista é artista: encanta. Mau caráter é mau caráter: agride. Também com piadas de mau gosto!
* Dom Pedro Carlos Cipollini, Bispo Diocesano de Santo André