Diocese de Santo André

A família como igreja doméstica e o legado pós-pandemia

A pandemia da Covid-19, o novo coronavírus, no Brasil fez com que as paróquias suspendessem celebrações e qualquer tipo de atividades presenciais com os fiéis, como forma de evitar aglomerações e preservar a vida das pessoas. Por outro lado, se a quarentena limita os encontros, abraços, beijos e apertos de mãos, o isolamento social provocou reflexões de como a igreja doméstica é reavivada em muitos lares, une e reaproxima muitas famílias através da oração e da convivência diária.

Diante desta análise, duas perguntas surgem em meio ao período caseiro e de transmissões virtuais. Como estamos vivenciando essa realidade? Qual o legado desse momento ficará para a posteridade?

A coordenadora diocesana da Pastoral Familiar, Claudia Caliari, analisa que esse tempo de dificuldades, onde a pandemia tem despertado iniciativas de solidariedade, conscientizará a população de que a união é necessária para vencermos os desafios econômicos e sociais. “Temos participado, eu e o Cido (marido de Claudia) de campanhas solidárias e acredito que o mundo estava precisando dessa parada. Quando retornarmos será de uma maneira muito diferente. Mais preparados e focados nas coisas de Deus”, sintetiza.

Claudia acredita que o distanciamento social trouxe uma experiência única durante a reta final da Quaresma e uma Semana Santa mais reflexiva. “E difícil porque gostamos de abraçar, beijar e estar com as pessoas. Mas foi algo necessário. Nos levou a uma reflexão profunda. E também de valorizar a nossa liberdade, que temos no dia a dia, mas esquecemos muitas vezes de valorizá-la”, comenta.

Adaptação da rotina

Participante do ECC (Encontro de Casais com Cristo) e da Pastoral Familiar, Ana Beatriz relata que a forma de trabalho em sistema home office exige disciplina e equilíbrio entre as tarefas de cada integrante da família, os momentos de descontração e as pausas para meditação. “Tivemos que adaptar a nossa rotina, respeitando os limites de horários de cada um e incluindo o Terço da Misericórdia em nossas orações diárias, que realizamos com amigos, familiares e casais da Paróquia Santíssima Virgem, em São Bernardo. Tem sido uma experiência maravilhosa transformar a nossa casa numa igreja doméstica”, conta a esposa de Cícero, com quem têm duas filhas. Ela espera que o período de isolamento social traga ensinamentos para uma sociedade que pense no coletivo em detrimento da individualidade.
“Confiamos que Deus tem seus propósitos com tudo que acontece no mundo. Precisamos confiar em Deus na certeza de que sairemos melhores e fortalecidos de todo esse momento pelo qual estamos passando”, projeta.

Arte e convivência

A convivência familiar dentro do lar tem acentuado o desejo de reunir pais e filhos para refeições do café da manhã, almoço e jantar em momentos de partilha mais longos, a divisão de tarefas, bem como despertado o interesse para hobbies como séries e filmes. Logicamente, sem esquecer de reservar um horário para a participação nas missas virtuais e adorações eucarísticas. É o que tem feito a família de James, Tereza, Carolina, Camila e Carina, da Paróquia Nossa Senhora Aparecida (Alves Dias, em SBC), que utiliza a música como uma fonte de inspiração para as lives nas redes sociais, a fim de levar mensagens de fé e esperança aos irmãos.

“Esse vai ser o nosso grande desafio. Permanecermos unidos em meio as dificuldades. Partilharmos mais momentos juntos”, destaca James Nascimento.

Lição de vida

Da Pastoral Familiar da Paróquia Santíssima Virgem, o casal Beth e Edson Pfeifer, argumenta que nunca antes a igreja doméstica foi vivenciada de uma maneira tão intensa, ao promover o sentimento de ajuda ao próximo. “Criamos um grupo há cinco anos guiados pelo Espírito Santo. Esse grupo é formado por anjos sem asas. Nos unimos e levamos refeições para pessoas em situação de rua. Neste tempo de pandemia não estamos cozinhando, mas procuramos ajudar de outra forma, com doações de cestas básicas para a famílias que passam por necessidades. Neste momento de crise é possível aprender uma nova lição de vida”, avalia.

De acordo com ela, o tamanho da palavra saudade nunca foi tão grande como agora. “Creio que as pessoas passarão por essa fase fortalecidas na fé. Basta observarmos tantos exemplos de solidariedade, diariamente”, conclui.

Mudança de hábito

Ministro extraordinário na Santíssima Virgem, Marcos Vicente é casado com Carla Cristina, com que tem os filhos adolescentes Pietro, 14 anos, e Geovana, 20 anos. Ele afirma que a necessidade de ficar em isolamento social provocou uma reflexão interna de como a rotina diária era frenética e cheia de compromissos. “Temos conversado mais entre nós. Uma sensação de estarmos mais participativos na vida dos nossos filhos, assistindo filmes e rezando juntos”, constata.Para Marcos, que também integra juntamente com a esposa, a Pastoral Familiar, esse ano de 2020 ficará marcado certamente como um divisor de águas na vida das pessoas.
“Hoje consigo resolver boa parte da minha vida profissional em home office. Pretendo buscar mais interação com a família. Essa é a nossa meta. Apontar melhoras, olhar para trás e ver como podemos mudar para melhor”, finaliza.

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