Neste ano de 2020, a 35ª edição da Semana do Migrante teve início no dia 14 de junho e prossegue até 21 de junho em todo o Brasil. O evento deste ano traz o seguinte lema bíblico: “Onde está teu irmão, tua irmã?”. Diante do cenário de crescentes fluxos migratórios, da crise sanitária e social que se intensificou para a população migrante no país, com a pandemia da Covid-19, a iniciativa propõe o tema: Migração e Acolhida.
Há mais de três décadas, a Diocese de Santo André mobiliza pessoas, grupos e comunidades, onde a Pastoral do Migrante está presente nas três matrizes de Santo André, São Bernardo e Ribeirão Pires, administradas pelos padres scalabrinianos da Congregação dos Missionários de São Carlos, em encontros de reflexão, celebrações eucarísticas, integração dos povos, defesa dos direitos, bem como a valorização da diversidade cultural.
“A Pastoral do Migrante pode ser implementada em qualquer paróquia da Diocese, já que temos milhares de migrantes em todos os municípios do ABC. Entre em contato conosco pelo WhatsApp: 97354-8615”, cita o assessor diocesano da Pastoral do Migrante, Pe. Jean Dickson Saint-Claire.
Em nossa região, no Grande ABC, os migrantes de vários países e de estados brasileiros tiveram papel importante na fundação das sete cidades. Na criação da Diocese de Santo André também não foi diferente. Em 65 anos de trajetória, os migrantes se estabeleceram aqui e ajudaram a construir essa linda história.
Live e Drive-Thru
Em razão da quarentena e orientações da área da Saúde para evitar aglomerações, as atividades sofreram adaptações, como o a Live Especial da Semana do Migrante, ocorrida na última quarta (17/06): assista aqui https://bit.ly/3dkDqeZ , e o Drive-Thru da Solidariedade para arrecadação de alimentos, produtos de higiene e limpeza, agasalhos e roupas, que acontecerá neste sábado (20/06), das 10h às 15h, na Paróquia São José – Matriz de Ribeirão Pires (Avenida Santo André, 110 – Centro Alto).
Nesta matéria especial vamos aprofundar em cinco capítulos com personagens migrantes atuantes em nossa Diocese, a Semana do Migrante, o centro diocesano de apoio aos migrantes, os desafios da migração e acolhida, e o testemunho de uma migrante.
Centro de Apoio
Inaugurado em dezembro de 2016, o Centro de Apoio ao Migrante na Diocese de Santo André acolhe e orienta os migrantes radicados, muitos deles haitianos e latino-americanos, na cidade andreense e demais municípios do ABC.
Nova documentação, aulas de língua portuguesa, computadores para conversar com familiares, doações de cestas básicas e inscrição em programa de recolocação no mercado de trabalho são alguns dos serviços oferecidos no local.
“Um local referencial para acolher, orientar e oferecer dignidade aos migrantes”, frisa o haitiano, que é pároco da Igreja Matriz de Santo André, Pe. Jean Dickson Saint-Claire.
Além disso, ao longo do ano, a Pastoral do Migrante realiza formações para os agentes e interessados em conhecer o serviço missionário realizado nas sete cidades do ABC.
O Centro de Apoio ao Migrante também recebe doações de alimentos e produtos de higiene, que podem ser realizadas no local (Rua Montevidéu, 71 – Utinga, Santo André), em horários alternativos, ou na Matriz de Santo André, na Vila Assunção. Mais informações com o Pe. Jean Dickson pelo WhatsApp: 97354-8615 ou pelo telefone da Igreja Matriz: 4436-4798. Acesse também o Facebook: https://www.facebook.com/centrodeapoioaomigrantesa/
Semana do Migrante
Inspirado pelo Papa Francisco, o lema bíblico da 35ª Semana do Migrante: “Onde está teu irmão, tua irmã?” traz uma reflexão sobre as dificuldades do povo migrante que chega na região, vindo de outros países e estados brasileiros em busca de uma vida melhor. Atualmente, muitos migrantes são trabalhadores informais e necessitam de apoio em meio aos tempos de pandemia, como o auxílio emergencial e doação de alimentos.
“Como cristãos temos a obrigação de acolhê-los e ajudar em suas necessidades, desde a entrega de uma cesta básica até a recolocação no mercado, a legalização dos documentos e cursos. Enfim, trazer dignidade aos migrantes”, enfatiza a coordenadora diocesana da Pastoral do Migrante, Helena Teodoro.
Desafios
O respeito ao povo migrante e convivência com as diferenças são grandes desafios na opinião do Pe. Alejandro Cifuentes Flores., que é pároco da Basílica Menor da Paróquia Nossa Senhora da Boa Viagem –mais conhecida como Igreja Matriz de São Bernardo.
É uma situação observada muitas vezes em casos de preconceito e até discriminação racial, como temos acompanhado nos noticiários, principalmente em relação aqueles que vivem nas regiões periféricas das cidades.
“Vivemos num país com diferentes realidades. O desconhecido causa medo e desconfiança, mesmo dentro da igreja existem preconceitos e rejeições. Desencontros que exigem um trabalho de ambas as partes. Por isso é importante o trabalho da acolhida e de quem chega para poder integrar-se a nossa sociedade”, cita o sacerdote mexicano, que recorda uma frase do Papa Francisco dita em julho de 2019. “Para Deus, ninguém é estrangeiro”, ao referendar a igualdade perante ao Criador.
Pós-pandemia
“O migrante, independentemente do momento, é sempre um desafio para a sociedade. As adaptações ao clima, a comida, a realidade urbana. É sempre um desafio para a sociedade que os acolhe.”
A análise do Pe. Ricardo José Guesser (pároco da Paróquia São José, a Igreja Matriz de Ribeirão Pires) retrata uma situação que logicamente com a chegada da pandemia influenciou diretamente na perspectiva de milhões de pessoas. “Inúmeros perderam o emprego, alguns optaram por abrir loja online”, constata.
Catarinense, o missionário scalabriniano indica que as atitudes de solidariedade têm sido um dos legados deste período de isolamento social, que devem ser praticadas permanentemente. “Como diz no evangelho, a oferta da viúva que se torna importante, deu tudo aquilo que ela tinha. É a partir da solidariedade que encaminharemos as nossas vidas. Dar oportunidade e reconhecer o valor dos migrantes”, projeta Pe. Ricardo.
Testemunho de vida
A venezuelana Laura Brito, 46 anos, vive no Brasil há dois anos e seis meses. Mãe de três filhas, ela chegou com a esperança de dias melhores. “Tive dificuldades no momento com a adaptação, como o idioma”, conta. Foi acolhida primeiramente pelo padre Pe. Paolo Parise, na Casa do Migrante – Missão Paz, na Baixada do Glicério, na capital paulista. “Converso muito com minha família, que diz ter muitas dificuldades na Venezuela para conseguir comida e acesso ao serviço de saúde”, revela.
Comerciante em seu país natal, Laura chegou a vender panos nos semáforos para sustento e com apoio dos padres Jean Dickson e Pierre Dieucel conseguiu estabelecer moradia na região.
“O Brasil me acolheu, abriu o coração para nós venezuelanos, o povo brasileiro é bom”, cita Laura, que mora em São Bernardo e hoje também procurar ajudar os irmãos conterrâneos com doações e orientações como gratidão ao país que a recebeu de braços abertos.